Doutor da Igreja
[1499 – 1569]
Contextualizando
Era
comum na Antiguidade que o azeite fabricado nas primeiras prensas do fruto da
oliveira fossem destinados aos fins mais nobres: o peso da primeira pedra que
produzia o azeite mais puro era usado nos ritos de consagração, as cerimônias
de unção. Também o azeite que se fabricava a seguir era utilizado para queimar
as lâmpadas “continuamente diante do Senhor” (Lv 24,2). As forjas mais duras
produzem o melhor produto, de mais nobre fim!
Na Igreja…
Assim
também é na vida da Igreja: ao longo de sua história, as forjas da vida produziram,
pelo auxílio da graça, verdadeiros dons; homens e mulheres que, mesmo diante
das intempéries da existência humana, se deixaram moldar por Deus e se tornaram
modelos de seguimento de Cristo. Um desses ‘azeites’ fabricados na forja dos
santos, celebramos no dia 10 de maio. Estamos falando de São João D’Ávila,
proclamado doutor da Igreja pelo Papa emérito Bento XVI, em outubro de 2012.
Sobre o santo
João
de Ávila nasceu em 6 de janeiro de 1499, em Almodóvar del Campo, na Espanha.
Estudava Direito na Universidade de Salamanca, mas passa por uma profunda
experiência de conversão, decidindo abandonar os estudos, voltar para casa dos
pais e se tornar sacerdote. Com 27 anos, é ordenado padre, em 1526. Nutria em
si o desejo de ser missionário na América, mas a vontade de Deus era outra e
acaba exercendo seu ministério no seu país natal. Começava a experimentar na
vida as prensas de Deus.
Vida
Outra
prensa veio pouco tempo depois de ordenado. Em 1931, por causa de uma má
interpretação de uma pregação, João foi preso pela Inquisição Real. Passando
dois anos no cárcere, deu início à primeira versão da sua obra “Audi, filia”,
em que fala do amor esponsal entre Cristo e a sua Igreja, em conselhos de
ascética a uma jovem que acompanhava. Segundo Bento XVI, foi ali, naquele tempo
de privação, de perseguição injusta e de incompreensão que João “recebeu a graça de
penetrar com profundidade singular o mistério do amor de Deus e o grande
benefício feito à humanidade pelo Redentor Jesus Cristo”.
Vontade de Deus
Absolvido
em 1533, retoma com fervor a pregação do Evangelho na Espanha, em várias
cidades. O seu único desejo era converter as almas. Era sensível às inspirações
do Espírito à Igreja de sua época, que passava por difíceis provas,
provenientes do humanismo e do processo de reforma que se instalava na Europa.
Atendia incessantemente os penitentes, através do Sacramento da Reconciliação.
Particularidade
Na
vida interior, prezava pela pobreza e pela instrução das crianças e dos jovens,
sobretudo daqueles que se preparavam para o sacerdócio. Além de Audi filia,
classificado por Bento XVI como um clássico da espiritualidade, escreveu “O
Catecismo, ou Doutrina cristã”, “O Tratado do amor de Deus”, “O Tratado sobre o
sacerdócio”, “Os Sermões e Homilias”, além de comentários bíblicos da Carta aos
Gálatas à Primeira Carta de João.
Méritos
Tornou-se
um grande teólogo, mas, como filho de seu tempo, também deu contribuições
humanistas como invenções de algumas obras de Engenharia, fundação de colégios
menores e maiores que, depois do Concílio de Trento, se transformaram em
seminários conciliares, criação da Universidade de Baeza, além da proposta da
criação de um Tribunal Internacional de arbitragem para evitar as guerras.
Frutos
Foi
responsável pela conversão de São João de Deus e São Francisco Borgia. No seu
processo de beatificação, consta que “nunca pregou um sermão sem que várias
almas se convertessem a Deus”. A eficácia de sua oratória estava,
segundo o próprio João dizia, em amar muito a Deus, em dedicar-se muito mais à
oração que aos livros: em perder-se na presença do Senhor. Era, nas palavras de
Paulo VI, que o canonizou, “uma cópia fiel de São Paulo”.
Amigos santos
Foi
contemporâneo e amigo de outros santos: Inácio de Loyola, Pedro de Alcântara,
Teresa de Jesus, João da Cruz… Sinais de que uma vida cercada de santas
amizades nunca é estéril. “Um grande Amigo, que é Deus, o qual arrebata os
nossos corações para o seu amor […] e Ele pede-nos que tenhamos muitos outros
amigos, que são os seus santos”, escreveu João de Ávila (Carta 222).
Uma dessas amizades lhe levaria a viver
mais uma prensa. Pela proximidade com Santo Inácio de Loyola, pensou em se
tornar jesuíta, mas o projeto foi inviabilizado pelo comprometimento da saúde
de João de Ávila. O Mestre de Ávila, como ficou conhecido, passou os últimos 16
anos da sua vida gravemente doente. Quase cego, morreu com 79 anos, em 10 de
Maio de 1569, com um crucifixo na mão, na cidadezinha de Montilla.
A minha oração
“Senhor Jesus,
assim como escreveu o santo: ‘que a cruz é elemento inegociável da vida de um
cristão; que as prensas quando são vividas por um coração apaixonado por Deus
produzem os mais nobres azeites dos altares do Senhor’, dá-me a graça de passar
pela cruz crendo em Ti.”
São
João D’Ávila, rogai por nós!
Fonte: Canção Nova Notícias
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