Em
sua mensagem para o II Dia Mundial dos Avós e Idosos, em 24 de julho, Francisco
os exorta "a ser mestres de um modo de viver pacífico e atento aos mais
frágeis", guardando o mundo e olhando a velhice como um tempo de oração
para converter os corações. Convida as paróquias e as comunidades a realizarem
uma obra de misericórdia visitando os idosos sozinhos.
Vatican News
Foi
divulgada, nesta terça-feira (10/05), a mensagem do Papa Francisco para o II
Dia Mundial dos Avós e Idosos, que será celebrado no XVII domingo do Tempo
Comum, 24 de julho próximo.
A mensagem do Pontífice começa com o versículo 15 do Salmo 92 que diz: «Até na
velhice continuarão a dar frutos». Esta "é uma boa notícia, um verdadeiro
«evangelho» que podemos, por ocasião do II Dia Mundial dos Avós e Idosos,
anunciar ao mundo", afirma o Papa no texto, ressaltando que esta frase vai
contracorrente ao que "o mundo pensa desta idade da vida" e "ao
comportamento resignado de alguns idosos" que caminham "com pouca esperança
e sem nada mais esperar do futuro".
Segundo
Francisco, "muitas pessoas têm medo da velhice. Consideram-na uma espécie
de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contato. É a «cultura do
descarte»: aquela mentalidade que, enquanto nos faz sentir diversos dos mais
frágeis e alheios à sua fragilidade, permite-nos imaginar caminhos separados
entre «nós» e «eles»".
Aprender
a viver uma velhice ativa
O Papa
ressalta que "a velhice constitui uma estação que não é fácil de
entender", mesmo para aqueles que já a vivem. Segundo o Pontífice,
"as sociedades mais desenvolvidas gastam muito para esta idade da vida,
mas não ajudam a interpretá-la: proporcionam planos de assistência, mas não
projetos de existência". A aposentadoria e os filhos "autônomos fazem
esmorecer os motivos pelos quais gastamos muitas das nossas energias. A
consciência de que as forças declinam ou o aparecimento de uma doença podem pôr
em crise as nossas certezas. O mundo – com os seus ritmos acelerados, que
sentimos dificuldade em acompanhar – parece não nos deixar alternativa,
levando-nos a interiorizar a ideia do descarte". Confiando no Senhor,
"descobriremos que envelhecer não é apenas a deterioração natural do corpo
ou a passagem inevitável do tempo, mas também o dom de uma vida longa".
“Envelhecer não é uma
condenação, mas uma bênção!”
"Por
isso, devemos vigiar sobre nós mesmos e aprender a viver uma velhice
ativa, inclusive do ponto de vista espiritual, cultivando a nossa vida
interior através da leitura assídua da Palavra de Deus, da oração diária, do
recurso habitual aos Sacramentos e da participação na Liturgia." Francisco
convida também a cultivar "as
relações com os outros: primeiramente, com a família, os filhos, os netos, a
quem havemos de oferecer o nosso afeto cheio de solicitude; bem como as pessoas
pobres e atribuladas, das quais nos façamos próximo com a ajuda concreta e a
oração. Tudo isto ajudará a não nos sentirmos meros espectadores no
teatro do mundo, não nos limitarmos a olhar da sacada, a ficar à janela. Ao
contrário, apurando os nossos sentidos para reconhecerem a presença do Senhor,
seremos como uma «oliveira verdejante na casa de Deus», poderemos ser uma
bênção para quem vive junto de nós".
"A velhice não é
um tempo inútil, no qual a pessoa deva pôr-se de lado recolhendo os remos
para dentro do barco, mas uma estação para continuar dando fruto: há
uma nova missão, que nos espera, convidando-nos a voltar os olhos para o
futuro. «A nossa sensibilidade especial de idosos, da idade anciã às
atenções, pensamentos e afetos que nos tornam humanos deve voltar a ser
uma vocação para muitos. E será uma escolha de amor dos idosos para com as
novas gerações». É a nossa contribuição para a revolução da
ternura, uma revolução espiritual e desarmada da qual os convido,
queridos avós e idosos, a serem protagonistas", ressalta o Papa.
Necessidade
de uma mudança profunda
A seguir,
Francisco recorda que "o mundo vive um período de dura provação, marcado
primeiro pela tempestade inesperada e furiosa da pandemia, depois por uma guerra
que fere a paz e o desenvolvimento à escala mundial".
“Não é por acaso que a
guerra tenha voltado à Europa no momento em que está desaparecendo a geração
que a viveu no século passado. E estas grandes crises correm o risco de nos
tornar insensíveis ao fato de que existem outras «epidemias» e outras formas
generalizadas de violência que ameaçam a família humana e a nossa Casa comum.”
"Perante
tudo isto, temos necessidade de uma mudança profunda, duma
conversão, que desmilitarize os corações, permitindo a cada um reconhecer no
outro um irmão. E nós, avós e idosos, temos uma grande responsabilidade:
ensinar às mulheres e aos homens do nosso tempo a contemplar os outros com o
mesmo olhar compreensivo e terno que temos para com os nossos netos. Aprimoramos
a nossa humanidade ao cuidar do próximo e, hoje, podemos ser mestres dum modo
de viver pacífico e atento aos mais frágeis. "
Segundo o
Papa, um dos frutos que os idosos são "chamados a produzir é o de
guardar o mundo". «Todos nos sentamos nos joelhos dos avós, que
nos tiveram ao colo»; mas hoje é o momento de colocar sobre os nossos joelhos –
com a ajuda concreta ou mesmo só com a oração –, junto com os nossos netos,
muitos outros assustados que ainda não conhecemos e que talvez fujam da guerra
ou sofram por causa dela. Guardemos
no nosso coração – como fazia São José, pai terno e solícito – os pequeninos da
Ucrânia, do Afeganistão, do Sudão do Sul...".
A
felicidade é um pão que se come juntos
Francisco
recordou que "não nos salvamos sozinhos, a felicidade é um pão que se come
juntos". Até mesmo o deixar-se cuidar, "muitas vezes por pessoas que
provêm de outros países, é uma maneira de dizer que é não só possível, mas
também necessário vivermos juntos". Segundo o Papa, os avós e idosos são
"chamados a ser artífices da revolução da ternura", e os convidou
"a usar cada vez mais e melhor o instrumento mais precioso e
apropriado" que eles têm para a sua idade: "a oração". "A
nossa imploração confiante pode fazer muito: é capaz de acompanhar o grito de
dor de quem sofre e pode contribuir para mudar os corações. Podemos ser «o
“grupo coral” permanente dum grande santuário espiritual, onde a oração de
súplica e o canto de louvor sustentam a comunidade que trabalha e luta no campo
da vida»", sublinhou.
O Papa
pede para que o Dia Mundial dos Avós e Idosos seja anunciado nas paróquias e
comunidades, que seja um dia para visitar os idosos abandonados em casa ou nos
asilos. "Que ninguém viva este dia na solidão. Ter alguém para cuidar pode
mudar a orientação dos dias de quem já não espera nada de bom do futuro; e dum
primeiro encontro pode nascer uma nova amizade. A visita aos idosos abandonados
é uma obra de misericórdia do nosso tempo!" "Peçamos a Nossa Senhora,
Mãe da Ternura, que faça de todos nós dignos artífices da revolução da ternura
para, juntos, libertarmos o mundo da sombra da solidão e do demônio da guerra
", conclui.
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