sexta-feira, 25 de março de 2022

SANTO DO DIA - ANUNCIAÇÃO DO SENHOR

Premissa

Na história da existência, constantemente somos desafiados pela vida a darmos uma resposta ativa, consciente e madura ante os apelos e desafios que a nossa própria existência nos interpela. A todo instante somos colocados em uma posição de escolha, entre aquilo que se quer e aquilo que não se quer; entre o possuir e o nada ter; entre o ser e o não ser. 

Sim e não
O sim e o não fazem parte do nosso cotidiano, sem eles dificilmente poderíamos ser propriamente humanos. Eis o que diz o Senhor: “Hoje, estou colocando diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a infelicidade” (Dt 30,15). Neste contexto de escolha propriamente humana, se encontra a Virgem Mãe de Nazaré.

Eis a serva do Senhor
Maria, na plenitude de sua liberdade, escuta, mais do que a saudação de um anjo, a voz de Deus, a voz de sua própria consciência a te indagar: “Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus” (Lc 1,30). Diante da proposta, Maria dá sua resposta: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Foi por causa dessa resposta que o Eterno entrou no tempo; que o Todo assume em si o fragmento, Deus assume a forma humana para nos salvar.

O sim de uma mulher
A Solenidade da Anunciação do Senhor, que encontra o seu fundamento bíblico situado na narrativa evangélica do evangelista Lucas, no capítulo 1, 26-38, é a solenidade que exalta, na sua estrutura interna, o sim de uma Mulher ao projeto salvífico de Deus, mas que, de modo mais singular, quer manifestar a grandiosidade do sim definitivo de Deus para com a humanidade. A anunciação do Senhor é a solenidade que, por excelência, expressa a vontade divina de querer dar-se a conhecer o homem e salvá-lo e, ao mesmo tempo, a disponibilidade do ser humano em acolher essa autorrevelação divina.

Encarnação do Verbo
O episódio narrado no Evangelho de Lucas, mostra a origem histórica do problema enfrentado pelas primeiras comunidades cristã acerca da encarnação total do Verbo eterno de Deus no seio virginal de Maria. A narrativa explicita o diálogo realizado entre Divino e o humano, entre Maria e o anjo, o mensageiro de Deus. Maria, na narrativa, é interpelada pelo anjo, acerca da vontade divina, que encontrou, Nela, na simples jovem de Nazaré, graça diante de Deus. Nesse episódio evangélico, contemplamos que a liberdade humana, que é fruto do amor de Deus aos homens, nunca foi violado pelo Criador, ao contrário, Ele propõe a Maria uma missão, e Maria, na sua total liberdade, se dispõe a realiza-la, mesmo não sabendo como tudo se daria.

Essa bela narrativa, a pouco comentada, muito fora debatida pelos Padres da Igreja, na reta intenção de defender não somente a Virgindade e Maternidade de Maria, mas, sobretudo, a real Encarnação e Divindade de Jesus, seu filho. Em meados dos anos 325 d.C., com o Concílio de Nicéia e de Constantinopla (381), foram estabelecidos no símbolo da fé, o Credo Nicenoconstantinopolitano, a sentença dogmática de que, verdadeiramente o Verbo eterno de Deus encarnado no seio da humanidade, por meio da concepção virginal de Maria, era realmente o Filho de Deus. Em Jesus, a natureza humana e divina coabitavam mutualmente, sem confusão, mas em plena união hipostática de naturezas. O pequeno e humilde carpinteiro de Nazaré era, na verdade, o verdadeiro Filho de Deus, emanada na história humana pela ação do Espírito Santo.

Theotokos
Contudo, foi somente em 431 d.C., no Concílio de Éfeso, que a Igreja proclama solenemente Maria como Mãe de Deus (Theotokos), defendendo, dessa maneira, a real Encarnação do Filho de Deus no seio da humanidade, por meio do sim de Maria. Tal decreto, resultou posteriormente a instituição da festa litúrgica da Anunciação do Senhor. Todavia, a Igreja, por volta do século Vi, sob o comando do pontífice Sérgio I, introduziu definitivamente, no calendário litúrgico da Igreja romana, a solenidade da Anunciação do Senhor, que é celebrada todos os anos no dia 25 de março, a exatos nove meses antes do Natal do Senhor.

De fato, no sim de Maria, o sim de Deus em favor da humanidade é plenamente realizado. Em Maria, Deus realiza o seu projeto salvífico no tempo e na história humana. Se por Eva nos veio a desgraça, por Maria nos foi novamente aberta as portas da Graça.

Sentido da Solenidade
Celebrar a solenidade da Anunciação do Senhor é dar graças a Deus por todos os benefícios que, pelo sim de Maria, o Senhor nos dispensou. Celebrar a festa solene da Anunciação do Senhor é contemplar a salvação de Deus realizada no sim de uma Mulher. É contemplar o sim de Deus, por meio de uma Mulher. O sim de Maria foi um sim que mudou o curso da história. O sim de Maria nos possibilitou conhecermos o Pai, revelado pelo Filho, no poder e na ação do Espírito Santo. Também nós somos convidados a mudar o curso da história, em razão do nosso sim a Deus, ao projeto de Deus.

Deus em meio a nós
Deus quer habitar no mundo, na realidade do mundo, na nossa família, na nossa sociedade, no nosso país. Mas para que isso posso se realizar, é preciso que também nós sejamos, assim como a pequena jovem de Nazaré, abertos e generosos a acolher a vontade de Deus em nossa vida, para que o verdadeiro valor de um sim possa transformar o curso da história.


Santos e beatos que a Igreja faz memória em 25 de março:

  1. Santo Ladrão, chamado “Dimas”, segundo a tradição, que na cruz professou a fé em Cristo e mereceu ouvir d’Ele estas palavras: «Hoje estarás comigo no paraíso».
  2. São Dula, mártir, na Turquia († data inc.)
  3. São Quirino, mártir († data inc.)
  4. Santa Matrona, mártir, na Grécia († data inc.)
  5. São Mona, bispo na Itália († c. 300)
  6. Santo Hermelando, que passou da corte régia ao mosteiro de Fontenelle e depois foi o primeiro abade do mosteiro do lugar, na França († c. 720)
  7. São Nicodemos, eremita, que foi mestre de vida monástica, insigne pela sua austeridade e grandes virtudes, na Itália († 990)
  8. São Procópio, que, deixando a esposa e o filho, se consagrou à vida eremítica. († 1053)
  9. Beato Everardo, conde de Nellenburg, que abraçou a vida monástica no cenóbio de Todos os Santos por sua intervenção construído, na Alemanha († 1078)
  10. Beato Tomás, eremita, na Itália († 1337)
  11. Santa Margarida Clitherow, mártir, que, com o assentimento do esposo, aderiu à fé católica, na Inglaterra († 1586)
  12. Beato Jaime Bird, mártir, na Inglaterra († 1592)
  13. Santa Lúcia Filippíni, fundadora do Instituto das Piedosas Mestras, destinado a promover a formação das jovens e mulheres, na Itália († 1732)
  14. Beata Maria Rosa Flesch (Margarida Flesch), virgem, fundadora do Instituto das Irmãs Franciscanas de Santa Maria dos Anjos, na Alemanha († 1906)
  15. Beato Plácido Riccárdi, presbítero da Ordem de São Bento († 1915)
  16. Beata Josafata (Miquelina Hordáshevska), virgem, que, no Instituto das Irmãs Servas de Maria Imaculada por ela fundado, se dedicou a fazer o bem onde houvesse maior necessidade, na Ucrânia († 1919)
  17. Santa Maria Alfonsina Danil Ghattas, virgem, fundadora da Congregação das Irmãs Dominicanas do Santíssimo Rosário de Jerusalém. († 1927)
  18. Beato Emiliano Kovc, presbítero e mártir, que, durante a guerra, deportado para um campo de concentração, pelo combate da fé alcançou a vida eterna, na Polônia († 1944)
  19. Beato Hilário Januszewski, presbítero da Ordem dos Irmãos Descalços de Nossa Senhora do Carmo e mártir, na Alemanha († 1945)

– Redação: Lucas Paulino da Silva – candidato às ordens sacras na Comunidade Canção Nova

– Produção: Fernando Fantini – Comunidade Canção Nova

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