Na
homilia da Solenidade da Epifania o Papa Francisco nos recorda que “somos
aquilo que desejamos. Porque são os desejos que impelem a vida mais além. Como
os Magos, levantemos a cabeça, ouçamos o desejo do coração, sigamos a estrela
que Deus faz brilhar sobre nós"
Jane Nogara - Vatican News
Na
Festa da Epifania, o Papa Francisco presidiu a celebração da Santa Missa na
Basílica de São Pedro. Na sua homilia disse que a viagem dos Magos para Belém
nos leva a interpelarmo-nos: “O que é que levou estes homens do Oriente a
porem-se em viagem?” “Eram e sábios e astrólogos – continuou - tinham fama e
riqueza; de posse de uma tal segurança cultural, social e econômica, podiam
acomodar-se no que tinham e sabiam, deixando-se estar tranquilos. Mas não;
deixam-se inquietar por uma pergunta e um sinal: “Onde está [Aquele] que
nasceu?”. Como afirmou Bento XVI, eram “pessoas de coração inquieto, eram
indagadores de Deus”.
Orientados
para as estrelas
“Mas esta saudável inquietação, que os levou a peregrinar, de
onde nasce? Do desejo. Eis o seu segredo interior: saber desejar. Meditemos
nisto”, Francisco afirma que “desejar significa manter vivo o fogo que arde
dentro de nós e nos impele a buscar mais além do imediato, mais além das coisas
visíveis”. E diz que isto deve-se ao fato de Deus nos ter feito assim:
empapados de desejo; orientados, como os Magos, para as estrelas".
“Somos aquilo que desejamos.
Porque são os desejos que ampliam o nosso olhar e impelem a vida mais além,
além duma fé repetitiva e cansada, além do medo de arriscar, de nos empenharmos
pelos outros e pelo bem”
Precisamos do desejo como Igreja
“Como no caso dos Magos, também a nossa viagem da vida e o nosso
caminho da fé têm necessidade de desejo, de impulso interior”. E Francisco
afirma que precisamos disso como Igreja. “Será bom perguntar-nos: a
que ponto estamos nós na viagem da fé? Não estaremos já há bastante tempo
bloqueados, estacionados numa religião convencional, exterior, formal, que
deixou de aquecer o coração e já não muda a vida?”. "Na nossa vida e nas
nossas sociedades, a crise da fé tem a ver também com o desaparecimento do
desejo de Deus”, recordou o Papa. “Tem a ver com a sonolência do espírito, com
o hábito de nos contentarmos em viver o dia a dia, sem nos interrogarmos acerca
daquilo que Deus quer de nós”.
E Francisco sugere:
“Hoje é o dia bom para
voltar a alimentar o desejo. Como fazer? Vamos à ‘escola do desejo’ dos Magos.
Fixemos os passos que dão e tiremos algumas lições”
Escola do desejo
“Em primeiro lugar – explica - partem quando aparece a estrela:
ensinam-nos que é preciso voltar a partir sempre cada dia, tanto na vida como
na fé, porque a fé não é uma armadura que imobiliza, mas uma viagem fascinante,
um movimento contínuo e inquietador, sempre à procura de Deus”.
“Depois, os Magos em Jerusalém perguntam: perguntam onde está o
Menino. Ensinam-nos que precisamos de interrogativos, de ouvir com atenção as
perguntas do coração, da consciência”.
“Além disso, continuou o Papa explicando como encontrar o
desejo, “os Magos desafiam Herodes. Ensinam-nos que temos necessidade de uma fé
corajosa, profética, que não tenha medo de desafiar as lógicas obscuras do
poder, tornando-se semente de justiça e fraternidade numa sociedade onde, ainda
hoje, muitos ‘herodes’ semeiam morte e massacram pobres e inocentes, na
indiferença da multidão”.
“Por fim, os Magos regressam
por outro caminho: provocam-nos a percorrer estradas novas. É a criatividade do
Espírito, que faz sempre coisas novas. É também uma das tarefas do Sínodo:
caminhar numa escuta conjunta, para que o Espírito nos sugira caminhos novos,
estradas para levar o Evangelho ao coração de quem é indiferente”.
No ponto culminante da viagem dos Magos, porém, há um momento
crucial: tendo chegado ao destino, viram o Menino e “prostrando-se
adoraram-No”. Adoram. Lembremo-nos disto:
“A viagem da fé só encontra
ímpeto e cumprimento na presença de Deus. Só se recuperarmos o gosto da
adoração é que se renova o desejo”
Concluindo o Papa disse: “Aqui, como os Magos, teremos a certeza
de que, mesmo nas noites mais escuras, brilha uma estrela. É a estrela de
Jesus, que vem cuidar da nossa frágil humanidade. Ponhamo-nos a caminho rumo a
Ele”. “Como os Magos, levantemos a cabeça, ouçamos o desejo do coração, sigamos
a estrela que Deus faz brilhar sobre nós. Como pesquisadores inquietos,
permaneçamos abertos às surpresas de Deus. Sonhemos, procuremos,
adoremos".
Fonte:
Vatican News
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