"O bem comum é certamente um elemento decisivo em seu discernimento e em suas escolhas como líderes, mas deve aceitar as obrigações impostas pelos sistemas econômicos e financeiros atualmente em vigor, que muitas vezes ridicularizam os princípios evangélicos da justiça social e da caridade", disse Francisco aos empresários franceses.
O
Papa Francisco recebeu em audiência, na manhã desta sexta-feira (07/01), no
Vaticano, um grupo de empresários franceses que veio a Roma em peregrinação
sobre o tema do bem comum
"Acho muito bonito e corajoso que, no mundo de
hoje, muitas vezes marcado pelo individualismo, pela indiferença e até mesmo
pela marginalização das pessoas mais vulneráveis, alguns empresários e
dirigentes empresariais tenham no coração o serviço de todos e não apenas de
interesses privados ou de círculos restritos. Não tenho dúvidas de que isso
seja um desafio para vocês", sublinhou Francisco.
A seguir, Francisco compartilhou com os empresários
alguns ensinamentos do Evangelho, para ajudá-los a cumprir o seu papel de
líderes segundo o coração de Deus. Usou os binômios ideal e realidade,
e autoridade e serviço, conceitos que parecem estar sempre em
tensão, mas que o cristão, auxiliado pela graça, pode unificar em sua vida.
O cristão vive uma colisão entre o
ideal e a realidade
Ideal e realidade. Muitas vezes o cristão vive uma colisão entre o
ideal com o qual sonha e a realidade que encontra. O Papa recordou a passagem
bíblica em que Maria dá à luz o Filho de Deus na pobreza de um estábulo. A
gente sempre espera que tudo corra bem, mas depois chega um problema inesperado
e cria-se um choque doloroso entre expectativas e realidade.
A busca do bem comum é um motivo de preocupação
para vocês, um ideal, no contexto de suas responsabilidades profissionais. O
bem comum é certamente um elemento decisivo em seu discernimento e em suas
escolhas como líderes, mas deve aceitar as obrigações impostas pelos sistemas
econômicos e financeiros atualmente em vigor, que muitas vezes ridicularizam os
princípios evangélicos da justiça social e da caridade. Imagino que, às vezes,
sua tarefa pesa sobre vocês, que sua consciência entra em conflito quando o
ideal de justiça e de bem comum que vocês imaginavam alcançar não foi
realizado, e que a dura realidade se apresenta a vocês como uma falta, um
fracasso, um remorso, um choque.
"Diante do “escândalo da manjedoura” Maria não
desanimou, não se rebelou, mas reagiu protegendo e meditando em seu coração,
demonstrando uma fé adulta, que se fortalece na provação", disse ainda o
Papa.
A missão do empresário cristão se
assemelha à do pastor
Com o segundo binômio, autoridade e serviço,
o Pontífice recordou a passagem bíblica em que os Apóstolos discutem sobre quem
é o maior entre eles. Jesus intervém, dizendo: "Se alguém quer ser o
primeiro, seja o último de todos e o servo de todos".
Segundo Francisco, "a missão do empresário
cristão se assemelha, em muitos aspectos, à do pastor, de quem Jesus é o
modelo, e que sabe ir na frente do rebanho para indicar o caminho, sabe ficar
no meio do rebanho para ver o que está acontecendo, e sabe ficar atrás, para
garantir que ninguém perca o contato".
Muitas vezes exortei padres e bispos a terem
"o cheiro das ovelhas", a mergulharem na realidade daqueles que lhes
foram confiados, a conhece-los, a estar perto deles. Acredito que este conselho
vale também para vocês! Portanto, os encorajo a estarem próximos daqueles que
colaboram com vocês em todos os níveis: a se interessarem por suas vidas, a
estarem conscientes de suas dificuldades, sofrimentos, angústias, mas também de
suas alegrias, projetos e esperanças.
"Exercer a autoridade como um serviço requer
compartilhá-la", disse ainda o Papa. "Embora o exercício da
autoridade exija a tomada de decisões corajosas e por vezes na primeira pessoa,
a subsidiariedade permite a cada um dar o melhor de si, sentir-se envolvido,
assumir a sua parte de responsabilidade e contribuir para o bem de todos. Sei
que o Evangelho pode ser exigente e difícil de ser vivido num mundo
profissional e competitivo. No entanto", concluiu Francisco,
"convido-os a manterem o olhar fixo em Jesus Cristo, com a sua vida de
oração e oferta de seu trabalho quotidiano".
Fonte:
Vatican News
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