No
centro da celebração da Semana de Oração pela Unidade, que continua de hoje até
25 de janeiro, encontramos a experiência dos Reis Magos em Belém. O tema,
escolhido pelas Igrejas do Oriente Médio, exorta todas as comunidades a
voltarem às origens, a Cristo, única fonte de sua vida. Entrevista com Dom
Brian Farrell, secretário do Dicastério para a Promoção da Unidade dos
Cristãos, que recorda que as diversidades são uma riqueza e a unidade buscada
não significa uniformidade
Adriana Masotti – Vatican News
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que
este ano se realiza de 18 a 25 de janeiro, é uma oportunidade extraordinária
para centralizar novamente a vontade de Jesus expressa no Evangelho: "Como
tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles também sejam um em nós". No
centro das reflexões está o versículo: "Vimos sua estrela no Oriente e
viemos prestar-lhe homenagem". As palavras, citadas pelo
evangelista Mateus, se referem aos magos ou sábios que, de suas terras
distantes, partiram e, seguindo a estrela, encontraram o Menino em Belém.
Melchior, Baltazar e Gaspar - nomes com os quais aparecem nos Evangelhos
apócrifos - além de suas humildes aparências, reconhecem naquela criança
recém-nascida um Rei e, prostrando-se diante dele, o adoram.
Cristãos de diferentes tradições do Oriente Médio
propuseram as palavras dos Reis Magos para a celebração da Semana de Oração. De
fato, o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos havia
confiado ao Conselho das Igrejas Orientais a tarefa de escolher o tema para
2022. Entrevistamos o bispo irlandês Dom Brian Farrell, secretário do
dicastério, que explica porque esta decisão foi tomada e que mensagem as
Igrejas daquela região querem dirigir às comunidades do mundo inteiro:
Dom Farrell, por que o Conselho das Igrejas
Orientais foi solicitado a escolher o tema para a Semana da Unidade dos
Cristãos deste ano?
Sabe-se que a Semana de Oração pela Unidade existe,
de uma forma ou de outra, há mais de 100 anos, e há 50 anos existe uma
colaboração entre o Pontifício Conselho pela Unidade e o Conselho Ecumênico de
Igrejas, onde a cada ano, alternadamente, nós ou eles escolhemos um grupo
ecumênico ou um grupo de cristãos em um país ou região para preparar o
material. Em 2020, o Conselho de Igrejas do Oriente Médio pareceu uma escolha
muito boa porque nessas regiões há tanto sofrimento humano, guerras, pobreza,
falta de direitos e, ao mesmo tempo, tantas Igrejas de diferentes tradições que
sempre viveram juntas. Assim, nesses lugares existe um ecumenismo vivido
naturalmente, no cotidiano, na sociedade e muitas vezes também nas famílias.
"Vimos sua estrela no Oriente e viemos
prestar-lhe homenagem" é um tema que, à primeira vista, parece ter pouco a
ver com a unidade dos cristãos. Qual é a conexão que o senhor vê, em vez disso,
entre este episódio dos Reis Magos e a busca da unidade?
Eu diria que, antes de tudo, o episódio dos Reis
Magos nos lembra que esta é a região onde Cristo nasceu, e a busca da unidade
dos cristãos só dá frutos se Cristo for o centro, o critério, a fonte de nossos
esforços. Trata-se de recompor a comunhão entre os seguidores de Jesus pela
qual ele rezou na noite anterior à sua paixão. O ecumenismo é a obediência à
vontade de Cristo, e recordo o que o Papa Francisco disse recentemente: a
viagem dos Magos em direção a Belém, a sua peregrinação fala também a nós que
somos chamados a caminhar na direção de Jesus porque ele é a Estrela Polar que
ilumina os céus da vida e direciona nossos passos em direção à verdadeira
alegria. Em outras palavras, o ecumenismo, a busca da unidade cristã, só avança
na medida em que todos somos fiéis ao Senhor, e este é o ponto fundamental, em
minha opinião.
Qual é a mensagem principal ou o apelo mais forte
que os cristãos do Oriente dirigem a todas as comunidades do mundo através do
tema que escolheram para esta Semana de Oração pela Unidade?
Creio que o principal convite que os textos da
Semana nos apresentam é para voltarmos às origens, ou seja, a Cristo. Não para
reduzir a Igreja a mais uma organização humana, a uma força política ou
cultural, mas para fazer o encontro com o mistério revelado no berço de Belém,
a história dos Reis Magos, o centro de toda a vida e dos esforços das Igrejas.
Oramos pela unidade dos cristãos, mas não se trata de uma unidade de interesses
ou de estratégias ou de políticas, mas uma unidade na qual o Evangelho se torna
a regra de nossas vidas e o compromisso de fazer do ensinamento de Jesus,
sobretudo do amor de Deus e do próximo, o verdadeiro caminho de nossas vidas.
Na minha opinião, este é o principal convite que os textos deste ano nos
apresentam.
Na sua opinião, qual é a relação entre a unidade
entre as Igrejas cristãs e a fraternidade universal e a paz no mundo, tão
solicitada pelo Papa Francisco e tão necessária hoje?
Obrigado
por esta pergunta, pois a considero muito apropriada. Recordamos que na
encíclica Fratelli tutti, diante de um mundo confuso e dividido, um
mundo em que há ainda tanto descarte de seres humanos, o Papa Francisco nos
pede para sonhar e trabalhar pelo renascimento de um sentimento de fraternidade
universal que seja a consequência de um coração aberto a todos. Este, em minha
opinião, é o contexto certo para entender o ecumenismo e para compreender as
relações ecumênicas: é uma questão entre cristãos de passar da rejeição mútua,
da divisão e do conflito à compreensão mútua, ao respeito, à solidariedade e à
cooperação. Quanto mais cristãos das diferentes Igrejas se reconciliarem, mais
eles serão um sinal e um instrumento da unidade da família humana, da
fraternidade universal. Esta é, de acordo com o que o Papa nos ensina, a única
maneira para que haja paz e justiça, para que haja um futuro melhor para as
próximas gerações. A unidade cristã, portanto, é um fator indispensável na
construção desse mundo futuro
Fonte:
Vatican News
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