Todos os anos o mês de outubro é dirigido ao tema da Missão na vida eclesial.
A Missão não é apenas uma atividade da Igreja, mas sua própria razão de ser, sua identidade mesma, desde a sua constituição. Muito significativa é a expressão desta realidade no documento Lumen Gentium do Concílio Vaticano II: “E, porque a Igreja é em Cristo como que sacramento isto é, sinal e instrumento, da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano, retomando o ensino dos concílios anteriores, propõe-se explicar com maior clareza aos fiéis e ao mundo inteiro, a sua natureza e a missão universal.” (LG 1)
Em sua Mensagem para o Mês Missionário, o Papa Francisco assim recorda a toda a Igreja: “Queridos irmãos e irmãs! Quando experimentamos a força do amor de Deus, quando reconhecemos a sua presença de Pai na nossa vida pessoal e comunitária, não podemos deixar de anunciar e partilhar o que vimos e ouvimos. A relação de Jesus com os seus discípulos, a sua humanidade que nos é revelada no mistério da Encarnação, no seu Evangelho e na sua Páscoa mostram-nos até que ponto Deus ama a nossa humanidade e assume as nossas alegrias e sofrimentos, os nossos anseios e angústias (cf. Conc. Ecum. Vat II, Const. past. Gaudium et spes, 22). Tudo, em Cristo, nos lembra que o mundo em que vivemos e a sua necessidade de redenção não Lhe são estranhos e também nos chama a sentirmo-nos parte ativa desta missão: «Ide às saídas dos caminhos e convidai todos quantos encontrardes» (cf. Mt 22, 9). Ninguém é estranho, ninguém pode sentir-se estranho ou afastado deste amor de compaixão.” (Mensagem do Dia Mundial das Missões 1)
E a conclusão é então esta: “O tema do Dia Mundial das Missões deste ano – «não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4, 20) – é um convite dirigido a cada um de nós para cuidar e dar a conhecer aquilo que tem no coração. Esta missão é, e sempre foi, a identidade da Igreja: «ela existe para evangelizar» (São Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 14). No isolamento pessoal ou fechando-se em pequenos grupos, a nossa vida de fé esmorece, perde profecia e capacidade de encanto e gratidão; por sua própria dinâmica, exige uma abertura crescente, capaz de alcançar e abraçar a todos. Atraídos pelo Senhor e a vida nova que oferecia, os primeiros cristãos, em vez de cederem à tentação de se fechar numa elite, foram ao encontro dos povos para testemunhar o que viram e ouviram: o Reino de Deus está próximo. Fizeram-no com a generosidade, gratidão e nobreza próprias das pessoas que semeiam, sabendo que outros comerão o fruto da sua dedicação e sacrifício. Por isso apraz-me pensar que «mesmo os mais frágeis, limitados e feridos podem ser missionários à sua maneira, porque sempre devemos permitir que o bem seja comunicado, embora coexista com muitas fragilidades» (Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 239).
No Dia Mundial das Missões que se celebra anualmente no penúltimo domingo de outubro – (neste ano 2021 – no dia 24 de outubro), recordamos com gratidão todas as pessoas, cujo testemunho de vida nos ajuda a renovar o nosso compromisso batismal de ser apóstolos generosos e jubilosos do Evangelho. Lembramos especialmente aqueles que foram capazes de partir, deixar terra e família para que o Evangelho pudesse atingir sem demora e sem medo aqueles ângulos de aldeias e cidades onde tantas vidas estão sedentas de bênção.
E neste domingo a Igreja toda participa de uma comunhão universal com a Coleta para as Missões.
Outra realidade está convocando a toda a Igreja a novo dinamismo espiritual e missionário: a sinodalidade.
A Igreja de Deus é convocada em Sínodo – o que quer dizer ‘caminhar juntos’.
Aqui está outra definição fundamental do próprio ser da Igreja: uma humanidade junta no Caminho – que é Cristo.
“O caminho, intitulado «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão», iniciará solenemente nos dias 9-10 de outubro de 2021, em Roma, e a 17 de outubro, o domingo seguinte, em cada uma das Igrejas particulares – nós estaremos realizando a solene abertura do processo arquidiocesano com uma Missa na Catedral Metropolitana, às 9 horas; e então se inicia um processo do caminho conjunto na sintonia com toda a Igreja, desde suas bases comunitárias até sua comunidade universal. Uma etapa fundamental será a celebração da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023, a que se seguirá a fase de execução, que envolverá novamente as Igrejas particulares (cf. EC, art. 19-21).”
Com esta convocação, o Papa Francisco convida a Igreja inteira a interrogar-se sobre um tema decisivo para a sua vida e a sua missão: «O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio». [Francisco, Discurso na Comemoração do cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos (17 de outubro de 2015).] Este itinerário, que se insere no sulco da “atualização” da Igreja, proposta pelo Concílio Vaticano II, constitui um dom e uma tarefa: caminhando lado a lado e refletindo em conjunto sobre o caminho percorrido, com o que for experimentando, a Igreja poderá aprender quais são os processos que a podem ajudar a viver a comunhão, a realizar a participação e a abrir-se à missão. Com efeito, o nosso “caminhar juntos” é o que mais implementa e manifesta a natureza da Igreja como Povo de Deus peregrino e missionário.” (cf. Documento Preparatório)
Então temos a Palavra de Deus que nos impulsiona no ser e no agir: «Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4, 20)
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza
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