É
escandaloso que a imensidão de Deus se revele na pequenez de nossa carne, que o
Filho de Deus seja o filho do carpinteiro, que a divindade esteja escondida na
humanidade, que Deus habite no rosto, nas palavras, nos gestos de um simples
homem. Eis o escândalo: a encarnação de Deus, sua concretude, seu
"cotidiano", disse o Papa Francisco no Angelus deste domingo, XIV do
Tempo comum
Raimundo de Lima - Vatican News
"Peçamos a Nossa Senhora, que acolheu o
mistério de Deus na vida cotidiana de Nazaré, para ter olhos e corações livres
de preconceitos e abertos à maravilha, às surpresas de Deus, à Sua presença
humilde e escondida na vida cotidiana."
Foi a oração com a qual o Papa Francisco concluiu a
alocução que precede o Angelus ao conduzir a oração mariana ao meio-dia deste
domingo, XIV do Tempo Comum, dirigindo-se aos fiéis e peregrinos presentes na
Praça São Pedro.
Incredulidade dos conterrâneos de
Jesus
Comentando o Evangelho do dia (Mc 6,1-6), Francisco
ressaltou que o mesmo nos fala da incredulidade dos conterrâneos de Jesus.
Depois de pregar em outras aldeias da Galileia, Jesus voltou a Nazaré, onde
havia crescido com Maria e José; e, num sábado, começou a ensinar na sinagoga.
Muitos, ouvindo-o, se perguntam: "De onde lhe
vem toda essa sabedoria? Não é o filho do carpinteiro e de Maria, isto é, de
nossos vizinhos que conhecemos bem?", acrescentou o Santo Padre,
apresentando esta página do Evangelho que traz a visita de Jesus a Nazaré.
Nenhum profeta é bem recebido em sua
própria terra
O Pontífice recordou que diante desta reação, Jesus
afirma uma verdade que também se tornou parte da sabedoria popular: "Um
profeta não é desprezado exceto em sua própria pátria, entre seus parentes e em
sua própria casa".
A este ponto, Francisco se deteve na atitude dos
conterrâneos de Jesus:
"Podemos dizer que eles conhecem Jesus, mas
não o reconhecem. Efetivamente, há diferença entre conhecer e reconhecer:
podemos saber várias coisas sobre uma pessoa, formar uma ideia, confiar no que
os outros dizem sobre ela, talvez de vez em quando encontrá-la no bairro, mas
tudo isso não é suficiente. Trata-se de um conhecer superficial, que não
reconhece a unicidade dessa pessoa. É um risco que todos nós corremos: achamos
que sabemos tanto sobre uma pessoa, rotulamo-la e a restringimos em nossos
preconceitos."
Rejeição à novidade de Jesus
Da mesma forma, acrescentou o Papa, os conterrâneos
de Jesus o conhecem há trinta anos e pensam que sabem tudo; na realidade, nunca
se deram conta de quem é verdadeiramente. Eles se detêm à exterioridade e
rejeitam a novidade de Jesus.
Quando deixamos a comodidade do hábito e
a ditadura dos preconceitos prevalecer, observou o Santo
Padre, é difícil nos abrir à novidade e nos deixarmos surpreender. Muitas vezes
acabamos procurando confirmação de nossas ideias e esquemas na vida, em nossas
experiências e até mesmo nas pessoas, para nunca ter que fazer o esforço de
mudar.
Abrir-se à novidade e surpresas de
Deus
"Mas sem abertura à novidade e às surpresas de
Deus, sem admiração, a fé se torna uma ladainha cansada que lentamente se
extingue", enfatizou.
Afinal, por que os conterrâneos de Jesus não O
reconhecem e acreditam n’Ele? Qual é o motivo? – perguntou o Papa.
"Podemos dizer, em poucas palavras, que não aceitam o escândalo da
Encarnação", respondeu Francisco.
"É escandaloso que a imensidão de Deus se
revele na pequenez de nossa carne, que o Filho de Deus seja o filho do
carpinteiro, que a divindade esteja escondida na humanidade, que Deus habite no
rosto, nas palavras, nos gestos de um simples homem."
O escândalo da encarnação de Deus
Eis o escândalo: a encarnação de Deus, sua
concretude, seu "cotidiano". Na realidade, é mais cômodo um deus
abstrato e distante, que não se intromete nas situações e que aceita uma fé
distante da vida, dos problemas, da sociedade. Ou mesmo gostamos de acreditar
em um deus "com efeitos especiais", que só faz coisas excepcionais e
sempre dá grandes emoções, disse ainda Francisco.
"Ao
invés, Deus se encarnou: humilde, terno, escondido, se faz próximo de nós
habitando a normalidade de nossa vida cotidiana. E assim, como os conterrâneos
de Jesus, corremos o risco que, quando passa, não o reconhecemos, aliás, nos
escandalizamos por Ele."
Fonte: Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário