Em
sua homilia, Francisco afirma que "hoje há necessidade duma nova aliança
entre jovens e idosos, necessidade de partilhar o tesouro comum da vida, sonhar
juntos, superar os conflitos entre as gerações para preparar o futuro de
todos."
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O presidente do Pontifício Conselho para a Nova
Evangelização, dom Rino Fisichella, presidiu a missa do primeiro Dia Mundial
dos Avós e dos Idosos, neste domingo (25/07), na Basílica de São Pedro.
Devido à recente cirurgia no cólon, o Santo Padre
não presidiu a celebração, mas a sua homilia foi lida por dom Fisichella. O
Papa inicia a sua homilia com o seguinte versículo do Evangelho deste domingo:
«Jesus disse a Filipe: “Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?”»
“Jesus não se limita a ensinar, mas deixa-se interpelar também pela fome que se
faz sentir na vida das pessoas. E assim alimenta a multidão, distribuindo os
cinco pães de cevada e os dois peixes recebidos de um jovem. Ao fim, sobram
ainda numerosos pedaços de pão, dizendo aos seus discípulos que os recolham,
«para que nada se perca».”
Neste Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, o Papa se
deteve nestes três momentos: Jesus vê a fome da multidão; Jesus partilha o pão;
Jesus recomenda a recolher os pedaços que sobraram. Três momentos que se
resumem em três verbos: ver, partilhar e guardar.
Ver: Jesus vê a fome da multidão
Jesus levanta os olhos e vê a multidão faminta
depois de tanto ter caminhado para o encontrar. “O milagre começa assim, com o
olhar de Jesus; um olhar não indiferente nem apressado, mas que sente as
agulhadas da fome que atribulam a humanidade cansada. Preocupa-se conosco,
cuida de nós, quer saciar a nossa fome de vida, amor e felicidade. Jesus tem um
olhar contemplativo, isto é, capaz de parar em frente da vida do outro e ler
dentro dela.”
Este é também o olhar que os avós e os idosos
tiveram sobre a nossa vida. Foi o modo como cuidaram de nós, desde a nossa
infância. Depois de uma vida feita muitas vezes de sacrifícios, não se
mostraram indiferentes a nosso respeito nem apressados sem nos ligar; mas
tiveram olhos atentos, cheios de ternura. No nosso crescimento quando nos
sentíamos incompreendidos ou com medo dos desafios da vida, eles deram-se conta
de nós, do que estava a mudar no nosso coração, das nossas lágrimas escondidas
e dos sonhos que trazíamos dentro de nós. Todos nos sentamos nos joelhos dos
avós, que nos tiveram ao colo. E foi também graças a este amor que nos tornamos
adultos.
A seguir, o Papa fez as seguintes perguntas: "E
nós! Que olhar temos para com os avós e os idosos? Quando foi a última vez que
fizemos companhia ou telefonamos a um idoso para o certificar da nossa
proximidade e deixar-nos abençoar pelas suas palavras?"
“Sofro
quando vejo uma sociedade que corre, apressada e indiferente, ocupada com
tantas coisas e incapaz de parar para dar um olhar, uma saudação, uma carícia.
Tenho medo duma sociedade onde todos formamos uma multidão anônima e já não
somos capazes de erguer os olhos e reconhecer-nos. Os avós, que alimentaram a
nossa vida, hoje têm fome de nós: da nossa atenção, da nossa ternura; de
sentir-nos perto deles. Ergamos o olhar para eles, como Jesus faz conosco.”
Partilhar: Jesus partilha o pão
O segundo momento é partilhar. Jesus partilha o
pão. "Depois de ter visto a fome daquelas pessoas, Jesus quer
alimentá-las. Mas isto acontece graças à dádiva dum jovem, que oferece os seus
cinco pães e os dois peixes. É belo encontrar, no centro deste prodígio que
beneficiou tantos adultos – cerca de cinco mil pessoas –, um rapaz, um jovem,
que partilha o que tem."
Hoje há necessidade duma nova aliança entre jovens
e idosos, necessidade de partilhar o tesouro comum da vida, sonhar juntos,
superar os conflitos entre as gerações para preparar o futuro de todos. Sem esta aliança de vida, sonhos e futuro,
corremos o risco de morrer de fome, porque aumentam os laços desfeitos, as
solidões, os egoísmos e as forças desagregadoras. Frequentemente, na nossa
sociedade, deixamos a vida guiar-se por esta ideia: «cada um pensa por si». Mas
isto mata! O Evangelho nos exorta a partilhar o que somos e temos: só assim
poderemos ser saciados.
A propósito, o Papa recordou o que diz o profeta
Joel: jovens e idosos juntos. "Os jovens, profetas do futuro que não
esquecem a história donde provêm; os idosos, sonhadores sempre incansáveis que
transmitem experiência aos jovens, sem lhes bloquear o caminho. Jovens e
idosos, o tesouro da tradição e o frescor do Espírito. Jovens e idosos juntos.
Na sociedade e na Igreja: juntos."
Guardar: Jesus recomenda a
recolher os pedaços que sobraram
O terceiro momento citado pelo Papa é guardar.
Jesus recomenda a recolher os pedaços que sobraram. "Depois de terem
comido, o Evangelho observa que sobraram muitos pedaços de pão. E Jesus
recomenda: «Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca». Assim é
o coração de Deus: não apenas nos dá mais do que precisamos, mas preocupa-se
também que nada se perca, nem um pedaço sequer."
Um pedaço de pão pode parecer insignificante, mas
aos olhos de Deus nada deve ser descartado; e, com mais forte razão, ninguém
deve ser descartado. É um convite profético que, hoje, somos chamados a fazer
ressoar em nós e no mundo: recolhei, conservai cuidadosamente, guardai.
“Os
avós e os idosos não são sobras de vida, desperdícios para jogar fora. Mas são
aqueles preciosos pedaços de pão deixados na mesa da nossa vida, que ainda nos
podem nutrir com uma fragrância que perdemos, «a fragrância da memória».”
Não percamos a memória de que os idosos são
portadores, porque somos filhos daquela história e, sem raízes, murcharemos.
Guardaram-nos no caminho do nosso crescimento, agora cabe a nós guardar a vida
deles, aliviar as suas dificuldades, atender às suas necessidades, criar as
condições que lhes permitam ver facilitadas as suas tarefas diárias e não se
sintam sozinhos.
Francisco nos convidou a fazer as seguintes
perguntas: «Visitei os avós? Os idosos da minha família ou do meu bairro?
Prestei-lhes atenção? Dediquei-lhes algum tempo?» Guardemo-los, para que nada
se perca: nada da sua vida e dos seus sonhos. Cabe a nós, hoje, prevenir o
lamento de amanhã por não termos dedicado suficiente atenção a quem nos amou e
nos deu a vida.
A
homilia do Papa se conclui com as seguintes palavras: "Os avós e os
idosos são pão que nutre a nossa vida. Sejamos agradecidos pelos
seus olhos atentos, que se aperceberam de nós, pelos seus joelhos que nos deram
colo, pelas suas mãos que nos acompanharam e levantaram, pelos jogos que
fizeram conosco e pelas carícias com que nos consolaram. Por favor,
não nos esqueçamos deles. Aliemo-nos com eles. Aprendamos a parar, a
reconhecê-los, a ouvi-los. Nunca os descartemos. Guardemo-los amorosamente. E
aprendamos a partilhar tempo com eles. Sairemos melhores. E juntos, jovens e
idosos, saciar-nos-emos à mesa da partilha, abençoada por Deus."
Fonte: Vatican News
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