O cardeal Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, presidiu uma missa pela paz na comunidade do Jacarezinho em sufrágio das 28 pessoas mortas em ação policial: “vim aqui para rezar e manifestar minha proximidade com todas as famílias que estão machucadas e choram pela perda de seus entes queridos, incluindo as vítimas da pandemia da Covid-19”. A celebração foi realizada no Largo do Cruzeiro, próximo à Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, para evitar aglomerações. Num clima de muita emoção, o pedido de paz com o aceno de bandeirinhas brancas e pessoas vestidas com camisetas com fotos de familiares.
Diante
da violência em Jacarezinho, arcebispo do Rio exorta caminhos de paz na cidade
“Estamos
reunidos para pedir ao Senhor o dom da paz e que Ele nos ajude a construir um
mundo diferente onde cada pessoa humana possa viver com dignidade. Também vim
aqui para rezar e manifestar minha proximidade com todas as famílias que estão
machucadas e choram pela perda de seus entes queridos, incluindo as vítimas da
pandemia da Covid-19”, disse o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João
Tempesta, ao presidir uma missa pela paz na comunidade do Jacarezinho na
quarta-feira (12), em memória aos 28 mortos em uma operação policial contra o
tráfico de drogas ocorrida no dia 6 de maio.
No início da
celebração, realizada no Largo do Cruzeiro, próximo à Paróquia Nossa Senhora
Auxiliadora, foram lidos os nomes dos mortos. O local escolhido foi para evitar
aglomerações. Num clima de muita emoção, o pedido de paz foi feito com o aceno
de bandeirinhas brancas. Muitas pessoas vestiam camisetas com fotos de
familiares.
“Vivemos tempos
difíceis e de muitas dores, mas buscamos e desejamos a paz junto com aqueles que
sofrem. Na vivência do Evangelho e configurados a Cristo, precisamos dar
passos, olhar para o futuro com esperança e confiança no Senhor. Encontrar
caminhos de paz num mundo de tantas injustiças, egoísmos e sofrimentos. De
fazer a experiência da misericórdia e do perdão do Senhor para viver a
fraternidade uns para com os outros”, acrescentou o arcebispo.
Presença
transformadora
Dom Orani também
manifestou sua unidade com os padres da Congregação Salesiana, a quem a
paróquia é confiada, recordando o protagonismo do venerando padre Nelson Carlos
Del Mônaco, que na década de 1950 iniciou a evangelização na comunidade, uma
das maiores favelas da zona norte da cidade, marcada por muitos desafios
sociais.
Além do trabalho de
evangelização e no âmbito da caridade social através das Obras Profissionais
Santa Rita de Cássia, a paróquia mantém a Escola Alberto Monteiro de Carvalho,
de ensino fundamental, na qual já formou milhares de educandos para a vida.
Concelebrantes
Na celebração, a
presença do pároco local, padre Adenilson Lopes Rubim, e do diretor da
Inspetoria São João Bosco, padre Natale Vitali Forti, ambos da Congregação
Salesiana. Ainda o vigário episcopal do Vicariato Norte, padre Aldo de Souto
Santos, o coordenador arquidiocesano da Pastoral de Favelas, monsenhor Luiz
Antônio Pereira Lopes, e outros sacerdotes.
Instrumentos de paz
Na homilia, ao
recordar o Salmo 122, contemplado na liturgia do dia, dom Orani indagou aos
fiéis o que poderia ser feito para que a comunidade pudesse ter tempos de paz,
para que a “paz reine dentro de seus muros”. Aparentemente é impossível, mas
observou que o Senhor, por ação do Espírito Santo, concede os dons necessários
para transformar a realidade no aspecto pessoal, na família, na comunidade, na
sociedade.
“Muitas vezes temos
uma pedra na frente da nossa vida, e dá-se a impressão que não há solução para
resolver tantas situações, sobretudo as de violência. Mas, não esqueçamos que a
pedra do túmulo de Jesus foi retirada, sinal que a morte não tem a última
palavra, mas sim a vida. Os problemas que existem no mundo nascem de situações
de pecado, de desobediência ao plano de Deus, mas ao ressuscitar, o Senhor
disse aos seus discípulos: ‘a paz esteja com vocês’, uma paz que começa com a
cura do nosso próprio coração. Se desejamos construir uma nova sociedade,
precisamos começar por nós mesmos”, apontou o arcebispo.
Dom Orani observou
que a Igreja, mesmo em tempos de perseguições e dificuldades, sempre procurou
transformar as estruturas com o contágio do bem. Essa nova maneira de ser não
vem de ideologias, mas de quem vive o Evangelho, de quem se abre aos dons do
Espírito Santo, de quem deixa se transformar e se torna um fermento de um tempo
novo, de uma vida diferente.
“O mundo está cheio
de injustiças e maldades, mas como cristãos, somos chamados a ter esperança e
trabalhar pela paz. Tudo pode parecer uma utopia, algo não realizável, mas
sabemos que o mundo vai se transformando com aqueles que sonham e lutam por
tempos novos. O Senhor está vivo no meio de nós, e nos impulsiona a ser uma
presença, uma luz na sociedade”, disse.
“Muitos homens e
mulheres bem próximos de nós assim viveram e servem de exemplo, como Santa
Teresa de Calcutá e Santa Dulce dos Pobres. Chamadas a cuidar dos mais
necessitados, começaram de forma simples, não imaginaram quanta coisa iria
acontecer, mas seus gestos ultrapassaram fronteiras. Também São Francisco de
Assis, que foi chamado a reconstruir com a sua vida a Igreja de Cristo. As
coisas parecem pequenas no início, e por nós mesmos não conseguimos realizar,
mas quando vêm de Deus acontecem maravilhas”, acrescentou.
Desejos de paz
Ao implorar o socorro
materno de Nossa Senhora, auxílio dos cristãos, padroeira da comunidade, dom
Orani pediu que as feridas fossem curadas pela graça de Deus, a comunidade
fosse respeitada e que seus moradores tivessem o direito de viver com
dignidade.
“O cristão é aquele
que busca os seus direitos quanto ao trabalho, à moradia, saúde, educação,
dignidade de ir e vir, mas sem ódio e rancor no coração. Deve amar
indistintamente as pessoas, e rezar uns pelos outros. Que o Senhor cure nossas
feridas, nos dê esperança no presente e no futuro, nos impulsione a transformar
nossa vida e que sejamos instrumentos de sua paz”, disse.
Por fim, dom Orani
abençoou a todos, com a mesma oração que o povo de Deus recebe desde o Antigo
Testamento, com o desejo que ela permanecesse no coração de cada um para
sempre: “O Senhor vos abençoe e vos guarde. O Senhor faça resplandecer o seu
rosto sobre vós, e tenha misericórdia de vós. O Senhor sobre vós levante o seu
rosto e te dê a paz” (Num 6, 24-26).
Portas abertas
No final da
celebração, o pároco, padre Adenilson Lopes Rubim, agradeceu a presença e a
unidade de dom Orani, que como bom pastor, encorajou os fiéis da comunidade e
os padres salesianos para continuar animados na missão.
“É muito importante
estarmos juntos nesse tempo, sobretudo num tempo que pede de nós um
encorajamento mútuo”, disse.
Em nome da
Congregação Salesiana, padre Natale Vitali Forti pediu o auxílio da padroeira
para a missão, e lembrou ao povo de Deus que as “portas da paróquia sempre
estarão abertas para todos, sobretudo, aos que sofrem, aos que precisam de um
ombro amigo”, disse.
Fonte: Vatican News
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