Como alhures já disse, a fé nos faz penetrar em profundidade no mistério de Deus e no mistério da nossa condição humana, na certeza de que só Deus pode preencher o coração do homem. Unidos a Jesus de Nazaré, podemos nos perguntar: “Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? Fizeste, por pouco, menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste, e todas as coisas colocaste debaixo de seus pés” (Hb 2, 6-8).
O critério do amor ao próximo consiste no exercício da fé e da prática cristã, através das constantes ações, no amor que vai ao encontro do essencial, mas simultâneo, no amor de Deus e no amor ao próximo, no pleno cumprimento da lei de Deus. O mistério da missão de Jesus, ao dignificar e engrandecer a vontade de Deus, se pode afirmar que seja nossa aspiração maior, favorecendo, a partir desse contexto redentor, a felicidade das pessoas: a humanização de Deus e a divinização do homem, aperfeiçoado e aprimorado no sentido teológico, não a Deus, mas ao homem. Como é importante atentar para Deus, sempre Deus e Senhor, único no mundo da criatura humana, sem jamais ser substituído por ela, a contar com suas restrições, limitações e contradições!
O amor, com sua mística, vai ao encontro do próximo, no amor terno e compassivo, também no sentido inflexível, implacável e radical, tal qual Deus se manifesta na sua bondade, a partir da mesma condição de ser absoluto, que abrange tudo, ao nos afastar de qualquer dúvida que de Deus possa surgir, no Filho Jesus, o primado, ilimitado e irrestrito, no direcionamento incontestável como o primeiro interessado na realização da criatura humana. Reflitamos, pois, no mistério de amor, que na bela alegoria da vida, dom e graça de Deus, somos aquilo que esperamos, na imagem de Marta, que consiste na realidade da vida presente, sem esquecer a imagem de Maria, que consiste, por sua vez, na esperança da vida futura; uma representa aquilo que somos e a outra representa aquilo que esperamos, com o futuro definitivo em Deus (cf. Lc 10, 38-42).
Penetrar no mistério divino trata-se de um apelo do nosso bom Deus, no amor do Filho, traduzido em serviço, no caminho ou direção do verdadeiro esplendor, que passa pelo nosso serviço humilde, numa convocação que inclui os que têm serviços de elevada grandeza e largura, não em detrimento dos destinatários e súditos, mas no serviço solidário, voltado a todos, generoso e doado, inspirado no gesto supremo de Jesus: o de lavar os pés dos discípulos.
Guardemos o gesto humilde e extremamente inigualável de Jesus, que nos convoca a uma única coisa: aprender a colocar na mente e no coração, sem que nunca se tenha medo de assimilar ou apreender, voltando-nos ao mistério da humanidade na sua condição divina em Deus. Nele, a humanidade toda restaurada, reconciliada e pacificada no amor, tendo coparticipação na vida de Jesus de Nazaré, o verbo encarnado do Pai, que desceu do céu e se dignou participar da vida humana. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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