O documento, do
Papa Francisco, estabelecerá formalmente o ministério de catequista,
desenvolvendo a dimensão evangelizadora dos leigos desejada pelo Concílio
Vaticano II. Um papel ao qual, disse o Papa Francisco em vídeo-mensagem, que
cabe a responsabilidade do “primeiro anúncio”.
Diante da
iminência do documento, o portal da CNBB conversou com o arcebispo de Curitiba
(PR) e presidente da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB, dom
José Antônio Peruzzo, sobre a importância da ação do Papa e o seu significado.
Confira a
entrevista:
Dom Peruzzo, o que é um Motu
Proprio?
A expressão Motu Proprio, expressão latina,
significa movido dele mesmo, digamos assim de própria iniciativa. É algo
querido pelo próprio Papa. O romano pontífice, ele não é apenas o executivo,
vitalício, a exercer uma função, ele é o pastor da Igreja universal, sucessor
dos apóstolos, com uma responsabilidade de pastorear a igreja e movido por sua
própria iniciativa e percepção pastoral originada de suas próprias motivações,
claro que assessorado sempre, mas motivado por suas próprias determinações. E
como pastor da igreja universal decidiu publicar um determinado escrito cuja
característica é da própria moção pessoal, isto quer dizer Motu Proprio.
Qual é a importância e o que
esse documento significa para o serviço catequético?
São várias centenas de milhares
de catequistas no Brasil. Ministério é a palavra “munus” e também especialmente
ministro, originalmente significa aquele que age em nome de. Reconhecer o
serviço catequético como um ministério é algo que procede já daquela mais
genuína teologia e eclesiologia do Vaticano II. O Papa Francisco é enfático nos
seus pronunciamentos explícitos ou de maneira nem sempre explícita, mas ele é
sempre muito afeiçoado ao que o Concílio Vaticano deixa a entrever.
O que se vislumbra com esse
Motu Proprio?
De certo modo não é uma
novidade. Já estava de maneira latente e presente no que a Igreja queria
projetar de si mesma. Para o serviço da catequese sem nenhuma dúvida é um
serviço solene. É uma nova experiência que aqui no Brasil já se discutia e em
algumas dioceses já se praticava. Valoriza a catequese, os catequistas e a
atuação da catequese como um todo. O Papa é muito sensível
especialmente ao ministério da ministerialidade feminina, digamos assim. Na
catequese é imensa a maioria feminina nesse serviço.
E o que o Documento significa
em termos pastorais?
O catequista se sente como
leigo ministerialmente instituído. Não é apenas um serviço que presta a uma
comunidade. Diz o Papa: é vocação, sim!
Servir em nome da igreja à
comunidade, à educação da fé, e fazê-lo por causa do batismo que recebeu e a
verdade que professa; assumir isso e a Igreja reconhecer este papel não como
papel, mas como missão, não como um atributo, mas como algo próprio da
identidade do batizado. Assumir isso como ministério responsabiliza a própria
hierarquia. Não é um título que se dá, mas uma missão que se reconhece. É dom
de Deus. Não é uma distribuição efetiva e prática e/ou pragmática de tarefas é
pronunciar a verdade de si mesmo, o catequista, na condição de ministro e não
apenas de colaborador funcional. E isto educa a Igreja e os hierarcas bispos,
presbíteros e também diáconos. Educa-nos para tomar no devido apreço e
reconhecer na devida grandeza o que significa educar a fé de um povo.
Haverá um ritual para
instituí-los ou reconhecê-los ministros e ministras. Será uma liturgia
específica, tem a solenidade própria. Não será apenas uma titulação, mas
formular pública e liturgicamente uma missão que há séculos a igreja exerce,
mas precisava educar-se para reconhecer que não apenas no serviço oficial da
liturgia, mas no serviço ministerial da educação da fé, os leigos e aqui – de
maneira mais destacada as mulheres – podem conferir um novo rosto ao
discipulado. São discípulas. No Brasil centenas de milhares que podem dizer à
Igreja o quanto de maternidade a própria Igreja precisa se deixar matizar pela
presença do ministério dessas mulheres.
Há uma fala do Papa que diz que
“o catequista é uma vocação”. E que “Ser catequista, esta é a vocação, não trabalhar como catequista”. Para o
senhor, a catequese é uma vocação?
O Papa diz sim que a catequese
é uma vocação. A diferença e o que significa vocação? A palavra vocação vem de
vox, procede de dentro. Não é uma palavra que alguém de fora pronuncia e
determina, mas é uma voz interior que ressoa e ecoa e espera daquele ou daquela
escolhida para a missão uma resposta. A resposta se dá em expressão de serviço
catequética. O ministro catequista não presta um mero serviço, ele não dá
aulinhas sobre a fé, ele partilha a experiência de ter encontrado Jesus Cristo,
isso começa deste dentro, por isso é voz interior, por isso é vocação.
Fonte: CNBB
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