Os bispos do Brasil reunidos em sua 58ª Assembleia Geral aprovaram, na sessão
de manhã, nesta terça-feira, 13 de abril, a mensagem destinada ao Papa
Francisco. No texto, o episcopado brasileiro renova o seu apreço, carinho e
fidelidade ao Santo Padre.
Os bispos
também buscam, no documento, de modo geral, deixar o Santo Padre informado
sobre as pautas em discussão na 58ª AG CNBB e dos assuntos importantes para o
clero e o povo de Deus na Igreja no Brasil, além de expressar sua comunhão com
a Igreja do mundo todo.
Partindo do
fato de que, dadas as circunstâncias sanitárias atuais, a Assembleia acontece
de forma virtual e requer a colaboração de todos, os bispos do Brasil
reconhecem igualmente o esforço de Francisco para a manutenção da unidade
eclesial, sobretudo mediante a proposição do diálogo constante e fraeterno,
seja no próprio meio católico, seja com os irmãos de outras denominações
religiosas e culturas.
O legado
eclesial e social das iniciativas do Pontífice também foi lembrado: a encíclica
Fratelli tutti, o ano dedicado a São José e às famílias, a retomada dos
ensinamentos da exortação apostólica Amoris
laetitia, bem como o Pacto Global pela Educação e a Economia de
Francisco.
Os bispos
também deram destaques às condições impostas pela pandemia da Covid-19 ao
Brasil, que ao mesmo tempo demonstram não somente as fragilidades que o país
possui para o seu devido enfrentamento, como também as iniciativas despertadas,
no âmbito da Igreja no Brasil, para o socorro e autêntica demonstração de
caridade evangélica para com os que sofrem seus efeitos. No documento, os
bispos do Brasil agradecem a solidariedade do Papa Francisco para com o povo
brasileiro.
A mensagem
recorda ainda que o eixo condutor dos trabalhos da Assembleia é a reflexão
sobre a Palavra de Deus, em consonância com as Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023). Lembram também a consonância
com o Santo Padre no sentido de buscar a purificação da Igreja por meio da
proteção das crianças e adolescentes em relação aos casos de abusos por parte
do clero, e enaltecem a iniciativa do Sínodo para a Amazônia, bem como o
documento dele originado, “Querida Amazônia”, que se traduz numa nova
sensibilidade para lidar com os problemas daquela região.
Por fim,
acompanham e rezam para que a Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe
seja um momento de retomar luzes, perspectivas e esperanças, tantos anos depois
da Conferência de Aparecida, da qual Francisco foi um participante
decisivo. Veja, abaixo, a íntegra da mensagem aprovada pela plenária da
58ª Assembleia Geral da CNBB:
CARTA
AO PAPA DA 58ª AG CNBB
Amado Papa
Francisco,
Nós, os Bispos do Brasil,
reunidos neste ano, de 12 a 16 de abril, por plataforma virtual, a partir de
nossas Igrejas Particulares, vivenciamos nossa 58ª Assembleia Geral Ordinária.
Neste tempo difícil e desafiador, quisemos viver, neste formato possível, nosso
encontro anual, que não nos foi possível realizar no ano passado, devido à
insegurança e aos riscos causados pelo início da pandemia da COVID-19.
Expressamos e renovamos nossa
fidelidade e nossa comunhão com Vossa Santidade, Bispo de Roma e Sucessor de
Pedro. Reconhecemos seus inúmeros esforços para construir a unidade na Igreja e
com os demais cristãos e favorecer o diálogo com outras religiões não cristãs e
com a pluralidade das culturas. Pudemos, de modo exemplar, perceber isto na sua
recente viagem ao Iraque, pelos caminhos da fé de Abraão, e nos fecundos
diálogos empreendidos ali pela paz e pela concórdia entre os povos, buscando
levar também bálsamo espiritual às muitas feridas causadas pelos históricos
conflitos naquela região.
Agradecemos pelos frutos e boas
repercussões eclesiais e sociais entre nós gerados pela Encíclica Fratelli
tutti e pelo ano dedicado ao Patriarca São José e às famílias. Com o auxílio
deste “homem justo”, iluminados e impulsionados pelas indicações pastorais da
Exortação Amoris Laetitia, haveremos de relançar o olhar pastoral sobre a
realidade das famílias. O ano da “Família Amoris Laetitia”, iniciado em 19 de
março e a ser concluído com o X Encontro Mundial de Famílias, em junho de 2022,
certamente será um norte seguro para nossa ação evangelizadora das famílias.
Sem descuidar igualmente dos esforços da nossa comunidade cristã na construção
da grande família humana, chamada a construir-se como casa de irmãos e irmãs,
no respeito, na amizade e no diálogo amoroso.
Também não podemos deixar de
externar nossos sentimentos de gratidão pela proximidade paterna e
misericordiosa de Vossa Santidade, expressa nas muitas formas de concreta
solidariedade manifestadas ao povo brasileiro, neste tempo em que a pandemia
fez aflorar misérias, sofrimentos e precariedades em muitas regiões e dioceses
brasileiras. Os apelos mundiais de Vossa Santidade em relação ao Pacto Global
pela Educação e Economia de Francisco estão sendo divulgados e acolhidos pelos
respectivos segmentos, com adesões importantes e criativas da sociedade e da
Igreja no Brasil.
Nesta pandemia estamos
experimentando e assistindo a situações de grande dor e de belas iniciativas, a
saber, de um lado, a fragilidade de nossas políticas públicas, a inabilidade de
nossos governantes no trato da pandemia, o negacionismo de uma parcela de
brasileiros, a politização e ideologização da pandemia, a impossibilidade dos
ritos e orações por ocasião do sepultamento dos mortos por COVID-19, causando
dor ainda maior às famílias; por outro lado, a solidariedade entre as pessoas,
famílias e comunidades, as muitas e criativas formas de presença junto aos que
sofrem com a solidão e o abandono, sobretudo os idosos. A pandemia nos tem
educado para muitas ações de evangélica caridade, de socorro aos mais
vulneráveis, num belo e criativo pacto pela vida e pelo nosso sofrido Brasil.
Contudo, não faltam iniciativas
pastorais e vozes proféticas para apontar o Reino e a primazia da vida. Não
estamos silenciados! Não estamos omissos! Mesmo reconhecendo o poder das forças
de destruição e de morte a que estamos sujeitos. Não perdemos de vista o
Evangelho e a presença invisível e vitoriosa do Senhor Jesus, o Vivente, que
nos acompanha e nos ajuda a interpretar a história em chave pascal, como fez
com os discípulos de Emaús.
Nossa Assembleia Geral
dedica-se neste ano, em consonância com as atuais Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil, ao tema da Igreja como Casa da Palavra de
Deus. “Casa da Palavra: animação bíblica da vida e da pastoral a partir das
comunidades eclesiais missionárias”. A partir da imagem bíblica da semente (Mt
13,1-9) queremos mergulhar no mistério do Cristo-Palavra, nos desafios da
semeadura neste nosso tempo, nos terrenos prioritários, nos meios para semear.
Conhecer a Escritura é conhecer Cristo. Ele é nossa Páscoa e nossa Paz! “Do que
era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a). É preciso recomeçar sempre a partir
d’Ele! Anuncia-lo com novo ardor, novos métodos, novo testemunho é missão
sempre nova e urgente.
Unimo-nos a Vossa Santidade nos
esforços pela purificação, conversão e justiça frente aos casos de abusos
cometidos por membros da Igreja. Nossas dioceses estão, pouco a pouco,
estruturando os “Serviços diocesanos de proteção de crianças, adolescentes e
vulneráveis”, para responder e combater este mal que precisa ser extirpado. Há
uma assessoria nacional, Núcleo Lux Mundi, que tem prestado grande ajuda às
Dioceses e Congregações Religiosas na constituição deste serviço eclesial.
O Sínodo para a Amazônia e a
Exortação Apostólica Pós-sinodal “Querida Amazônia” repercutem em nova
sensibilidade, gestos de solidariedade e novas atenções pastorais sobre as
belezas e problemáticas que tocam aquela região, ainda marcada por graves agressões.
Acompanhamos e rezamos pela
Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, a realizar-se em novembro
próximo, para celebrar, rever e retomar as luzes, perspectivas e esperanças da
Conferência de Aparecida, quatorze anos após aquele encontro do episcopado
latino-americano e caribenho, da qual Vossa Santidade, ainda como Arcebispo de
Buenos Aires, participou e colaborou decisivamente.
Os Bispos presentes a esta
Assembleia Geral do episcopado brasileiro, juntamente com aqueles que nos
auxiliam neste encontro, sacerdotes, diáconos, religiosas, cristãos leigos e
leigas, assessores e convidados, cada um, a partir de sua Igreja Local, do seu
lar ou do seu local de trabalho pastoral, suplica sua bênção apostólica e eleva
a Deus uma prece, pela intercessão da Virgem Aparecida, pela sua vida e
ministério na Igreja.
Em fecunda e permanente comunhão orante,
Brasília-DF, 13
de abril de 2021.
A presidência.
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