Pela figura exemplar e emblemática de Santo Agostinho, que o Senhor nos dê a graça de romper nossa surdez: “Tu me chamaste, clamaste por mim e teu clamor rompeu a minha surdez”. É necessário ter um coração bom e grande, capaz de compreender o dom da liberdade, com bons costumes e bons hábitos, na confiança e ânimo de começar e recomeçar. Apoiados em sua sabedoria, que possamos descartar todos os males em nosso mundo, no qual estamos inseridos, cheio de valores passageiros, sem esquecer os prazeres da vida, como se fossem absolutos e, embora imprescindíveis, são assumidos pela humanidade como fossem sagrados.
As divisões polarizantes são visíveis, de um espírito odioso de guerrear, levando em conta o mau uso dos recursos humanos, no nosso mundo atual, que é uma aldeia ameaçada, com indicadores de que sua extinção é possível. Constata-se, nesse sentido, um esforço gigantesco, desumano e demoníaco, em quase todos os lugares, tanto entre as nações, quanto nas iniciativas de diversos grupos e classes sociais, como se não valesse mais o conselho do doutor da graça, Santo Agostinho: “Nas coisas necessárias, a unidade; nas contingentes, a liberdade; mas em tudo, a caridade”.
Jesus, o Senhor da vida e da história, está nas alturas, sim, mas sem se deixar ver naqueles que sofrem, chegando-se mesmo a pensar, sem medo de duvidar, na notória e sempre mais crescente divisão entre ricos e pobres; países, classes, grupos e indivíduos. É a humanidade dividida em bandos, num antagonismo crescente, de inimigos a lutarem com todas as forças e meios disponíveis, no intuito de aniquilar o adversário, esquecendo-se do verdadeiro adversário: o egoísmo e seus frutos. Convenhamos: tudo que existe de ruim é fruto da maldade humana.
Mais do que nunca a humanidade precisa acreditar no espírito e reconciliação, mas a partir da entrega de Cristo, a ponto de morrer na cruz, no seu gesto maior e supremo, no amor pelos últimos da sociedade, de forma carismática, na fidelidade ao Pai. Que o espírito quaresmal, presente na nossa mente e no nosso coração, estimule a aproximação do filho de Deus em todos, imitando seu gesto generoso, com o desejo de um mundo reconciliado, restaurado e pacificado no amor.
Fica o nosso “não” ao Brasil como reprovação da eloquente retórica, mas de tal modo omissa e pusilânime, além de assassina e covarde, ao se desprezar com veemência a dignidade da vida nos seus sinais sagrados de esperança. Que todos nos sintamos desafiados a abraçar a vida e, igualmente, a interditar a estrada da morte, de risos cínicos e caçoadores, afastando-nos do coração aquele ódio, indicador da barbárie humana. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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