Ao
comentar a cura do leproso, Francisco convidou os fiéis a
"transgredirem" com o Evangelho: violar os nossos egoísmos para se
"contaminar" com a dor e o sofrimento do outro.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
Com os fiéis na Praça São Pedro pelo segundo
domingo consecutivo, o Papa Francisco rezou o Angelus num domingo de sol e
muito frio em Roma.
Antes da oração mariana, o Pontífice comentou o
Evangelho deste VI Domingo do Tempo Comum, que narra a cura de Jesus a um
leproso. Neste episódio contido em Marcos, Francisco identificou duas
“transgressões”: o leproso que se aproxima de Jesus e Jesus que, movido por
compaixão, o toca para curá-lo.
A primeira transgressão é a do leproso: naquele
tempo, eram considerados impuros e eram excluídos da vida social, não podiam
por exemplo entrar na sinagoga. A doença era considerada um castigo divino,
mas, em Jesus, ele pode ver outra face de Deus: não o Deus que castiga, mas o
Pai da compaixão e do amor, que nos liberta do pecado e jamais nos exclui da
sua misericórdia. “A atitude de Jesus o atrai, o leva a sair de si mesmo e a
confiar a Ele a sua história dolorosa”, comentou Francisco.
Um aplauso aos confessores
misericordiosos
“Permitam-me
aqui um pensamento a muitos bons sacerdotes confessores que têm esta atitude:
atrair as pessoas que se sentem aniquiladas pelos seus pecados, mas com ternura
a compaixão... Confessores que não estão com o chicote nas mãos, mas recebem,
ouvem e dizem que Deus é bom, que Deus perdoa sempre, que jamais se cansa de
perdoar.”
Ao dizer estas palavras, o Pontífice pediu um
aplauso - também ele aplaudindo - a todos os confessores misericordiosos.
A segunda transgressão é a de Jesus: enquanto a Lei
proibia de tocar os leprosos, Ele se comove, estende a mão e o toca para
curá-lo. Não se limita às palavras, mas o toca. Tocar com amor significa
estabelecer uma relação, entrar em comunhão, envolver-se na vida do outro a
ponto de compartilhar inclusive as suas feridas. Com este gesto, Jesus mostra
que Deus não é indiferente, não mantém a “distância de segurança”; pelo
contrário, se aproxima com compaixão e toca a nossa vida para curá-la.
“É
o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura. A transgressão de Deus: é
um grande transgressor neste sentido.”
Hoje, lamentou o Papa, muitas pessoas ainda sofrem
com esta doença e outras que vêm acompanhadas de preconceitos sociais e até
mesmo religiosos. Mas ninguém está imune de experimentar feridas, falências,
sofrimentos, egoísmos que nos fecham a Deus e aos outros.
Deus se "contamina com nossa
humanidade ferida
Diante de tudo isso, destaca Francisco, Jesus
anuncia que Deus não é uma ideia ou uma doutrina abstrata, mas Aquele que se
“contamina” com a nossa humanidade ferida e não tem medo de entrar em contato
com as nossas chagas.
“Mas
padre, o que está dizendo? Que Deus se contamina? Não o digo eu, mas São Paulo:
fez-se pecado. Ele que não é pecador, que não pode pecar, fez-se pecado. Veja
como Deus se contaminou para se aproximar de nós, para ter compaixão e para
fazer compreender a sua ternura. Proximidade, compaixão e ternura”
Costumes sociais, reputação e egoísmos nos levam
muitas vezes a disfarçar a nossa dor e impedir de nos envolver nos sofrimentos
alheios.
Ao invés, Francisco convidou os fiéis a pedirem ao
Senhor a graça de viver essas duas “transgressões” do Evangelho.
“Aquela
do leproso, para que tenhamos a coragem de sair do nosso isolamento e, ao invés
de permanecer ali com pena de nós mesmos ou chorando nossas falências, ir até
Jesus assim como somos. E depois a transgressão de Jesus: um amor que leva a ir
além das convenções, que faz superar os preconceitos e o medo de nos envolver
na vida do outro. Aprendemos a ser transgressores como estes dois: como o
leproso e como Jesus."
Fonte: Vatican News
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