Antes do V-Day, o
dia no qual a vacina contra o Corona Vírus começou a ser administrada de
maneira exponencial na Itália, os meios de comunicação social, seguido depois
pelos outros órgãos de imprensa, já haviam começado a debater a obrigatoriedade
ou não da vacinação como medida preventiva.
Nos últimos dias,
foram veiculadas informações sobre a eficácia da vacina, mas de difícil
assimilação pelos que não são peritos no assunto. Existem também grupos
pequenos, mas muito barulhentos, que sustentam, sem dados científicos
comprovados, que a vacina não é outra coisa senão um complô orquestrado pela
indústria farmacêutica e pelos governos mundiais para controlar as massas.
Sem querer entrar
nesta polêmica estéril, acredito ser necessário colocar duas simples
considerações. Em primeiro lugar, o mundo está enfrentando uma epidemia de
morte e estreitamento de estilos de vida e, em segundo, observar o que a
história nos ensina que somente através da medicina e das vacinas as doenças
têm sido derrotadas. Por que, então, esta aversão às vacinas em geral e a da
Covid 19 em particular? Qual comportamento moral responsável deve ser assumido?
Vejamos alguns
comportamentos religiosos que contribuem para confundir as ideias sobre um tema
assim tão delicado. Os Amish recusam a modernidade repudiando a utilização de
fármacos e das próprias vacinas. Os seguidores da igreja científica, Christian Science, criada nos Estados Unidos em 1892,
defendem que todas as doenças devem ser curadas apenas com orações. Posições
contrastantes se encontram também nas igrejas protestantes.
Outras negações
religiosas contra a vacina são relativas às substâncias nelas contidas, como a
utilização de animais impuros (para o judaísmo e o islamismo) ou pela presença
de células de cultura que originalmente foram retirados de fetos abortados
voluntariamente. Sobre esta temática remeto ao post “La questione dei vaccini”
e à nota da Congregação para a Doutrina da Fé: “Nota sulla moralità dell’uso di
alcuni vaccini anti Covid-19”.[2]
Para nós que
cremos, vacinar-se é uma escolha clara pelo bem comum, uma escolha moral ditada
pela responsabilidade que temos frente às outras pessoas. Para um crente,
vacinar-se é um dever humano, em nome da solidariedade social e cristã, em nome
da caridade para consigo mesmo e o próximo. Em um contexto cultural onde a
motivação para a interdependência é forte, diante de escolhas assim
importantes, o individualismo e os estilos de vida autorreferenciais não devem
prevalecer.
Diante de uma crise
sanitária não podemos antepor o bem pessoal ao bem comum. Como crentes somos
chamados à vacina para exercitar livremente a nossa responsabilidade moral em
relação às outras pessoas.
Sobre este tema é
totalmente compartilhável a nota da Comissão Vaticana Covid-19 em colaboração
com a Pontifícia Academia pela Vida: “Vacina para todos. 20 pontos por um mundo
mais justo e saudável”. No ponto n. 13 se afirma: “Sobre a responsabilidade
moral de submeter-se à vacinação (também em base no que foi dito no n. 3) é
preciso reiterar que esta temática implica também uma relação entre saúde
particular e saúde pública, mostrando a estreita interdependência entre ambas.
À luz desse nexo, consideramos importante que se leve em conta que a recusa da
vacina pode se constituir também em um risco para os outros”. O bem comum é uma
escolha moral responsável feita de relações enquanto forma especial de bem
relacional. Sendo o bem constituído pelas relações entre as pessoas, eis porque
se vacinar se torna escolha moral autenticamente responsável. Diante do Bem
comum devemos deixar de lado a lógica do “eu” para deixar vencer aquela do
”nós” como escolha que nos envia ao único e sumo Bem.
Pe. Moésio Pereira de Souza
[1] Tradução livre
feita pelo Pe. Moésio Pereira de Souza, do texto: Vaccinarsi: uma scelta morale, de autoria do Prof. Dr.
Pe. Alfonso V. Amarante, Diretor Geral da Academia Afonsiana de Roma, publicado
no dia 05 de janeiro de 2021. Para o texto original cf. https://www.alfonsiana.org/blog/2021/01/05/vaccinarsi-una-scelta-morale/.
[2] Para a versão
portuguesa: Nota sobre a moralidade do uso de algumas
vacinas anticovid-19, cf. http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20201221_nota-vaccini-anticovid_po.html.
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