Um
forte discurso com extensos acréscimos, foi dirigido pelo Papa Francisco
àqueles que colaboram com o Escritório Catequético Nacional italiano no 60º
aniversário de seu nascimento. Francisco enfatizou a necessidade de ação,
lembrando que o Concílio é magistério da Igreja e deve ser seguido. Depois, o
convite à Igreja italiana para lançar um Sínodo nacional.
Adriana Masotti, Silvonei José – Vatican News
A ocasião da audiência do Papa Francisco, na manhã
deste sábado (30), aos membros do Escritório Catequético da Conferência
Episcopal Italiana é o 60º aniversário do início de sua atividade, destinada a
apoiar a Igreja italiana no campo, precisamente, da catequese após o Concílio
Vaticano II. Um aniversário não só serve como um lembrete, mas também é uma oportunidade
para "renovar o espírito de anúncio", disse o Papa em seu discurso, e
por esta razão ele disse querer "compartilhar três pontos que eu espero
que os ajudem no trabalho dos
Próximos anos
No coração da catequese, a pessoa de Jesus
O primeiro
ponto é: catequese e kerygma. "A catequese é o eco da Palavra de
Deus", afirmou o Papa, e através da Sagrada Escritura proclamada, cada
pessoa entra a fazer parte "da mesma história de salvação" e com sua
própria singularidade "encontra seu próprio ritmo". Francisco
enfatizou que o coração do mistério da salvação é o kerygma, e que o kerygma é
uma pessoa: Jesus Cristo. A catequese deve "favorecer o encontro pessoal
com Ele" e, portanto, não pode ser feita sem relações pessoais.
Não existe uma
verdadeira catequese sem o testemunho de homens e mulheres em carne e osso.
Quem entre nós não se recorda de pelo menos um de seus catequistas? Eu me
recordo. Recordo-me da irmã que me preparou para a minha primeira comunhão e me
fez muito bem. Os primeiros protagonistas da catequese são eles, mensageiros do
Evangelho, muitas vezes leigos, que se põem em jogo com generosidade para
compartilhar a beleza de ter encontrado Jesus. "Quem é o catequista? Ele é
aquele que guarda e alimenta a memória de Deus; ele a guarda em si mesmo – ele
guarda a memória da história da salvação - e ele sabe como despertar essa
memória nos outros. Ele é um cristão que põe esta memória a serviço do anúncio;
não para ser visto, não para falar de si mesmo, mas para falar de Deus, de seu
amor, de sua fidelidade".
O
anúncio é o amor de Deus na linguagem do coração
O Papa
então indicou algumas características que o anúncio deve possuir hoje, isto é,
que saiba revelar o amor de Deus diante de toda obrigação moral e religiosa;
que não se impõe, mas leva em conta a liberdade; que testemunha a alegria e a
vitalidade. Para isso, aquele que evangeliza deve expressar "proximidade,
abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena". E
falando do catequista, Francisco acrescentou, improvisando, que "a fé deve
ser transmitida em dialeto", explicando que se referia ao "dialeto da
proximidade", ao dialeto que é compreendido pelo povo ao qual se dirige:
Toca-me muito aquela
passagem de Macabeus, dos Sete Irmãos. Duas ou três vezes eles disseram que sua
mãe os apoiava, falando com eles em dialeto. É importante: a verdadeira fé deve
ser transmitida em dialeto. Os catequistas devem aprender a transmiti-la em
dialeto, ou seja, aquela linguagem que vem do coração, que nasce, que é a mais
familiar, a mais próxima de todos. Se não houver dialeto, a fé não é
transmitida totalmente e bem.
A
catequese está sempre escutando o coração do homem
O segundo
ponto indicado pelo Papa Francisco é: catequese e futuro. Recordando o 50º
aniversário do documento "A Renovação da Catequese", com o qual a
Conferência Episcopal Italiana recebeu as indicações do Concílio, celebrado no
ano passado, Francisco citou algumas palavras do Papa Paulo VI nas quais
convidava a Igreja italiana a olhar com gratidão para o Concílio, que dizia
"será o grande catecismo dos novos tempos" e observou como a tarefa
constante da catequese é "compreender estes problemas que surgem do
coração do homem, para levá-los de volta à sua fonte escondida: o dom do amor
que cria e salva". Francisco, portanto, reiterou que a catequese inspirada
pelo Concílio é "sempre com um ouvido atento, sempre atento a
renovar-se". E a propósito do Concílio, acrescentou uma extensa reflexão:
O Concílio é
magistério da Igreja. Ou você está com a Igreja e, portanto, segue o Concílio,
e se não segue o Concílio ou o interpreta à sua maneira, à sua própria vontade,
você não está com a Igreja. Temos que ser exigentes e rigorosos neste ponto. O
Concílio não deve ser negociado para ter mais destes... Não, o Concílio é
assim. E este problema que estamos enfrentando, da seletividade do Concílio, se
repetiu ao longo da história com outros Concílios. Para mim, isso me faz pensar
tanto num grupo de bispos que depois do Vaticano I foram embora, um grupo de
leigos, grupos ali, para continuar a "verdadeira doutrina" que não
era a do Vaticano I. "Nós somos os verdadeiros católicos" ... Hoje
eles ordenam mulheres. A atitude mais severa para custodiar a fé sem o
magistério da Igreja, nos leva à ruína. Por favor, nenhuma concessão para
aqueles que tentam apresentar uma catequese que não esteja de acordo com o
Magistério da Igreja.
A
catequese, disse o Papa, retomando a leitura do discurso, deve se renovar para
afetar todas as áreas do cuidado pastoral. E recomendou:
Não devemos ter medo
de falar a linguagem das mulheres e dos homens de hoje. Sim, de falar a
linguagem fora da Igreja: disso, devemos ter medo. Não devemos ter medo de
falar a linguagem do povo. Não devemos ter medo de ouvir suas perguntas, sejam
elas quais forem, suas questões não resolvidas, de ouvir suas fragilidades e
suas incertezas: disso, não temos medo. Não devemos ter medo de desenvolver
instrumentos novos.
Redescobrir
o sentido de comunidade
A
catequese e a comunidade representam o terceiro ponto, um ponto de particular
relevância em um tempo que, por causa da pandemia, tem visto um crescimento
isolado e uma sensação de solidão. O vírus", disse o Papa, "escavou
no tecido vivo de nossos territórios, especialmente os existenciais,
alimentando medos, suspeitas, desconfianças e incertezas". Tem minado
práticas e hábitos estabelecidos e assim nos provoca a repensar o nosso ser
comunitário". Também nos fez compreender que só juntos podemos avançar,
cuidando uns dos outros. O senso de comunidade deve ser redescoberto.
A catequese e o
anúncio não podem deixar de colocar esta dimensão comunitária no centro. Este
não é o momento para estratégias elitistas. E a grande comunidade: qual é a
grande comunidade? O povo santo e fiel de Deus. (...) Este é o momento de
sermos artesãos de comunidades abertas que sabem valorizar os talentos de cada
um. É o tempo das comunidades missionárias, livres e desinteressadas, que não
buscam importância e vantagem, mas que percorrem os caminhos do povo de nosso
tempo, dobrando-se sobre aqueles que estão à margem. É o momento para as
comunidades que olham nos olhos os jovens decepcionados, que acolhem os
estranhos e dão esperança aos desanimados. É o momento para as comunidades que
dialogam destemidamente com aqueles que têm ideias diferentes. É o momento para
as comunidades que, como o Bom Samaritano, sabem como estar perto daqueles
feridos pela vida, para enfaixar suas feridas com compaixão.
Uma
catequese que acompanha e acaricia
Repetindo
o que ele disse no Encontro Eclesial de Florença, Francisco reiterou seu desejo
de uma Igreja "cada vez mais próxima dos abandonados, dos esquecidos, dos
imperfeitos", uma Igreja alegre que "compreenda, acompanhe,
acaricie". Isto, continuou, também se aplica à catequese. E fez um convite
à criatividade para uma proclamação centrada no kerygma, "que olha para o
futuro de nossas comunidades, para que sejam cada vez mais enraizadas no
Evangelho, fraternas e inclusivas".
A
Igreja italiana inicie um Sínodo nacional
Finalmente,
cinco anos após o Encontro de Florença, Francisco convidou a Igreja italiana a
iniciar um processo sinodal em nível nacional, comunidade por comunidade,
diocese por diocese. "Também este processo será uma catequese. No Encontro
de Florença há precisamente a intuição do caminho a ser percorrido neste
Sínodo. Agora, retomou: é o momento. E começar a caminhar".
Fonte: Vatican News
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