"Peçamos
ao Pai para cortar em nós os preconceitos contra os outros e os apegos mundanos
que impedem a plena unidade com todos os seus filhos", ressaltou o Papa em
sua homilia, lida pelo presidente do Pontifício Conselho para a promoção da
Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch.
Vatican News
O presidente do Pontifício Conselho para a promoção
da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch, presidiu a celebração das II
Vésperas na Solenidade da Conversão de São Paulo Apóstolo, nesta segunda-feira
(25/01), na conclusão da 54ª Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. O
Santo Padre não presidiu a cerimônia, realizada na Basílica de São Paulo Fora
dos Muros, em Roma, por causa de uma dolorosa ciatalgia.
«Permanecei no meu amor». Jesus associa este pedido
à imagem da videira e dos ramos. “O próprio Senhor é a videira, a videira
«verdadeira», que não trai as expectativas, mas permanece fiel no amor e nunca
falha, apesar dos nossos pecados e divisões. Nesta videira que é Ele, estamos
enxertados como ramos todos nós, batizados: quer dizer que só unidos a Jesus é
que podemos crescer e dar fruto. Nesta tarde, contemplemos esta unidade
indispensável, que tem vários níveis. Pensando na videira, poderíamos imaginar
a unidade formada por três círculos concêntricos, como os dum
tronco”, ressaltou o Papa em sua homilia, lida pelo cardeal Koch.
Permanecer em Jesus
“O primeiro círculo, o mais interno, é o permanecer
em Jesus. Daqui parte o caminho de cada um rumo à unidade. Na realidade
mutável e complexa de hoje, arrastados daqui e dali, é fácil perder a linha.
Muitos se sentem intimamente divididos, incapazes de encontrar um ponto firme,
uma estrutura estável nas circunstâncias variáveis da vida. Jesus nos indica o
segredo da estabilidade: permanecer n’Ele”.
Segundo Francisco, Jesus nos mostrou como fazer
isso, “dando-nos o exemplo: cada dia retirava-se em lugares desertos para orar.
Precisamos da oração, como de água, para viver. Centrados em Jesus na oração,
experimentamos o seu amor. E daí recebe vida a nossa existência, como o ramo
que toma a seiva do tronco. Esta é a primeira unidade, a nossa integridade
pessoal, obra da graça que recebemos permanecendo em Jesus”.
Unidade com os cristãos
O segundo círculo é “o da unidade com os
cristãos. Somos ramos da mesma videira, somos vasos comunicantes: o bem e o
mal que realiza cada um reverte-se sobre os outros. Além disso, na vida
espiritual, vigora uma espécie da «lei da dinâmica»: na medida em que
permanecemos em Deus, aproximamo-nos dos outros e, na medida em que nos
aproximamos dos outros, permanecemos em Deus. Significa que, se invocarmos Deus
em espírito e verdade, daí brota a exigência de amar os outros e, vice-versa,
«se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós». A oração só pode levar
ao amor, caso contrário é vão ritualismo. Com efeito, não é possível encontrar
Jesus sem o seu Corpo, composto de muitos membros, tantos quantos são os
batizados. Se a nossa adoração for genuína, cresceremos no amor por todos
aqueles que seguem Jesus, independentemente da comunhão cristã a que pertençam,
porque, mesmo se não são «dos nossos», são d’Ele”.
Segundo o Papa, “constatamos que amar os irmãos não
é fácil, porque se apresentam imediatamente os seus defeitos e as suas faltas,
e voltam à mente as feridas do passado. Aqui vem em nosso auxílio a ação do Pai
que, como sábio agricultor, sabe bem o que fazer: «Ele corta todo o ramo que
não dá fruto em Mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda». O
Pai corta e poda. Porquê? Porque, para amar, precisamos de ser
despojados daquilo que nos extravia e nos faz debruçar sobre nós mesmos,
impedindo-nos de dar fruto. Por isso peçamos ao Pai para cortar em nós os
preconceitos contra os outros e os apegos mundanos que impedem a plena unidade
com todos os seus filhos. Assim, purificados no amor, saberemos colocar em
segundo plano os empecilhos terrenos e os obstáculos doutrora, que hoje nos
desviam do Evangelho”.
Humanidade inteira
“O terceiro círculo da unidade, o mais amplo,
é a humanidade inteira. Neste âmbito, podemos refletir sobre a ação
do Espírito Santo. Na videira que é Cristo, Ele é a seiva que chega a todas as
partes. Mas o Espírito sopra onde quer, e por todo o lado quer reconduzir à
unidade. Leva-nos a amar não só àqueles que nos amam e pensam como nós, mas a
todos, como Jesus nos ensinou. Torna-nos capazes de perdoar aos inimigos, e as
injustiças sofridas. Impele-nos a ser ativos e criativos no amor. Lembra-nos
que o próximo não é só quem partilha os nossos valores e ideias, mas que somos
chamados a fazer-nos próximo de todos, bons Samaritanos duma humanidade
vulnerável, pobre e sofredora – hoje, tão sofredora –, que jaz por terra nas
estradas do mundo e que Deus, na sua compaixão, deseja levantar. O Espírito
Santo, autor da graça, nos ajuda a viver na gratuidade, a amar
mesmo quem não nos retribui, porque é no amor puro e desinteressado que o
Evangelho dá fruto. É pelos frutos que se reconhece a árvore: pelo amor
gratuito, se reconhece se pertencemos à videira de Jesus.”
Rezar pela unidade dos cristãos
Segundo o Papa, “o Espírito Santo nos ensina,
assim, o amor concreto por todos os irmãos e irmãs com quem
partilhamos a mesma humanidade, aquela humanidade que Cristo uniu
inseparavelmente a Si, dizendo-nos que O encontraremos sempre nos mais pobres e
necessitados. Servindo-os juntos, descobrir-nos-emos irmãos e cresceremos na
unidade. O Espírito, que renova a face da terra, exorta-nos também a cuidar da
nossa casa comum, a fazer opções ousadas no modo como vivemos e consumimos,
porque o contrário de dar fruto é a exploração, e é indigno desperdiçar os
preciosos recursos de que muitos estão privados”.
“Nesta tarde o próprio Espírito, artífice do
caminho ecumênico, levou-nos a rezar juntos. E ao mesmo tempo que
experimentamos a unidade que deriva de nos dirigirmos a Deus com uma só voz,
desejo agradecer a todos aqueles que rezaram nesta Semana e continuarão rezando
pela unidade dos cristãos”, ressaltou Francisco.
O
Papa saudou os representantes das Igrejas e Comunidades eclesiais reunidos na
Basílica de São Paulo Fora dos Muros para a celebração das Vésperas, os jovens
ortodoxos e ortodoxos orientais que estudam em Roma com o apoio do Pontifício
Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, os professores e alunos do
Instituto Ecumênico de Bossey, que deveriam ter vindo a Roma como nos anos
anteriores, mas não puderam por causa da pandemia e acompanharam a celebração
através dos meios de comunicação. “Queridos irmãos e irmãs, permaneçamos unidos
em Cristo! Que o Espírito Santo, derramado nos nossos corações, nos faça sentir
filhos do Pai, irmãos e irmãs entre nós, irmãos e irmãs na única família
humana. Que a Santíssima Trindade, comunhão de amor, nos faça crescer na
unidade”, concluiu o Papa.
Fonte: Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário