“A
oração cristã é plenamente humana: inclui o louvor e a súplica", disse
Francisco na catequese da Audiência Geral, recordando "que não devemos nos
escandalizar se sentirmos a necessidade de rezar. Não ter vergonha, sobretudo
quando estamos passando por dificuldades, pedir".
Mariangela Jaguraba - Vatican News
“A oração de súplica” foi o tema da catequese do
Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (10/12).
“A oração cristã é plenamente humana: inclui o
louvor e a súplica. De fato, quando Jesus ensinou os seus discípulos a rezar, o
fez com o “Pai-Nosso”.” Com esta oração, “imploramos a Deus pelos dons mais
elevados: a santificação de seu nome entre os homens, o advento de seu
senhorio, a realização de sua vontade de bem em relação ao mundo. Mas no
“Pai-Nosso” também pedimos os dons mais simples e diários, como o “pão de cada
dia”, que também significa saúde, casa, trabalho, e também a Eucaristia,
necessária para a vida em Cristo, assim como o perdão dos pecados e, portanto,
a paz em nossas relações; e, por fim, que nos ajude nas tentações e nos liberte
do mal”.
“Pedir, suplicar: isto é muito humano!”, disse o
Papa, acrescentando:
Às vezes acreditamos que não precisamos de nada,
que nos bastamos e que vivemos na completa autossuficiência. Muitas vezes isso
acontece! Mas cedo ou tarde esta ilusão se desvanece. O ser humano é uma
invocação, que às vezes se torna um grito, muitas vezes retido. A alma se
assemelha a uma terra árida e sedenta. Todos nós experimentamos, num momento o
outro de nossa existência, o tempo da melancolia, da solidão.
Segundo o Papa, “a Bíblia não se envergonha de
mostrar a condição humana marcada pela doença, injustiça, traição de amigos ou
ameaça de inimigos. Às vezes parece que tudo desmorona, que a vida vivida até
agora tenha sido em vão. Nestas situações aparentemente sem solução, existe uma
única saída: o grito, a oração: “Ajuda-me, Senhor!”. A oração abre fendas de
luz nas trevas mais escuras, abre o caminho”.
“Nós, seres humanos, partilhamos esta invocação de
ajuda com toda a criação. Não somos os únicos a “rezar” neste universo vasto:
cada fragmento da criação carrega inscrito o desejo de Deus. São Paulo o
expressou desta forma: «Sabemos que toda a criação sofre as dores do parto até
hoje. Não somente ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito,
gememos interiormente»”, disse ainda Francisco.
Segundo o Papa, “em nós ressoa o gemido multiforme
das criaturas: das árvores, das rochas, dos animais. Tudo anseia por
cumprimento. Nós somos os únicos a rezar com consciência. Sabemos que nos
dirigimos ao Pai, entramos em diálogo com o Pai”.
Assim, não devemos escandalizar-nos se sentirmos a
necessidade de rezar, não ter vergonha, sobretudo quando estamos passando por
dificuldades, pedir. Jesus falando sobre um homem desonesto que deve fazer as
contas com o seu patrão, diz: pedir, me envergonha. E muitos de nós temos esse
sentimento. Temos vergonha de pedir, de pedir ajuda, pedir alguma coisa a
alguém para ajudar a alcançar aquele objetivo, e temos vergonha de pedir a Deus.
Isso não pode ser feito. Não ter vergonha de rezar. Senhor, preciso disso.
Senhor, estou com esta dificuldade. Ajuda-me! O grito, o grito do coração a
Deus que é Pai. Fazer isso também nos momentos felizes; não somente nos
momentos ruins, mas felizes. Agradecer a Deus por tudo o que nos é dado, e não
tomar nada por garantido ou devido: tudo é graça. Devemos aprende isso. O
Senhor sempre nos doa. Tudo é graça de Deus.
De acordo com Francisco, “não devemos sufocar a
súplica que surge espontaneamente em nós. A oração de súplica caminha de mãos
dadas com a aceitação do nosso limite e da nossa criaturalidade. Pode-se até
não chegar a crer em Deus, mas é difícil não crer na oração: ela simplesmente
existe; se apresenta a nós como um grito; e todos nós temos que lidar com esta
voz interior que pode talvez ficar em silêncio por muito tempo, mas um dia
acorda e grita”.
“Deus responderá. Não há orante no Livro dos Salmos
que levante seu lamento e permaneça sem ser ouvido. Deus responde sempre, hoje,
amanhã. Sempre responde. De uma maneira ou de outra. Responde sempre. A Bíblia
o repete várias vezes: Deus escuta o clamor de quem o invoca. Até mesmo as
nossas pedidos gaguejados, mesmo aquelas que permanecem no fundo do coração. O
Pai quer nos dar o seu Espírito, que anima cada oração e transforma todas as
coisas. É uma questão de paciência, de aguentar a espera”, frisou o Papa,
acrescentando:
Agora estamos no tempo de Advento, um tempo de
espera do Natal. Isso se vê bem. Mas também toda a nossa vida é uma espera. E a
oração é espera sempre, porque sabemos que o Senhor responderá. Até mesmo a
morte recua, quando um cristão reza, porque sabe que cada orante tem um aliado
mais forte do que ela: o Senhor Ressuscitado. A morte já foi derrotada em
Cristo, e virá o dia em que tudo será definitivo, e ela não poderá mais fazer
escárnio de nossa vida e de nossa felicidade. Aprendamos a estar na
expectativa, na espera do Senhor. O Senhor vem nos visitar, não somente nas
grandes festas Natal, Páscoa, mas ele nos visita todos os dias na intimidade
dos nossos corações, se estamos à sua espera.
“Muitas
vezes não percebemos que o Senhor está próximo, que bate à nossa porta e o
deixamos passar. “Tenho medo de Deus quando passa”, dizia Santo Agostinho.
“Tenho medo que Ele passe e eu não perceba”. O Senhor passa. O Senhor
vem, o Senhor bate, mas se você está com o ouvido cheio de outros barulhos, não
irá ouvir o chamado do Senhor. Estar à espera. Esta é a oração”, concluiu o
Papa.
Fonte:
Vatican News
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