De
quantas maneiras os Papas da modernidade usaram esta palavra-chave da
espiritualidade franciscana e do magistério do 265º sucessor de Pedro?
Laura De Luca – Vatican News
Uma das passagens da encíclica Fratelli tutti do Papa Francisco nos
leva imediatamente à palavra “irmãos”:
"Se esta afirmação – como seres humanos,
somos irmãos e irmãs – não ficar pela abstração mas se tornar verdade encarnada
e concreta, coloca-nos uma série de desafios que nos fazem mover, obrigam a
assumir novas perspectivas e produzir novas reações”.
Papa Paulo VI
Por ocasião da Missa do IV Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro de 1971, Paulo VI
falou sobre a palavra “irmãos”. Conceito sintetizado quatro anos antes, na
encíclica Populorum Progressio ao afirmar que o desenvolvimento
(o desenvolvimento de todos os povos, indiscriminadamente) é o novo nome para a
paz.
“O Senhor pregou-nos uma verdade: todos vós sois
irmãos. Temos, nós, esta ideia da fraternidade universal? Sim e não. Falamos
muitas vezes dela pensando que é boa, mas utópica, isto é, que não se pode
realizar; que se trata de um bonito sonho, mas sem aspectos práticos, que não
pode ser aplicado à realidade concreta. Mas nós somos os primeiros a
devermo-nos persuadir que a fraternidade deve ser a lei, o princípio e o
critério dominante das relações entre os homens. Devemo-nos tornar irmãos, se ainda
não o somos; devemo-nos habituar a ver — o Evangelho há muitos séculos nos
declara e nos diz, mas somos quase refratários a esta lição — no vulto humano
do próximo, como que um espelho do nosso, a ver ‘nós mesmos’ nos outros.
Disse-nos o Senhor: ‘Amai-vos uns aos outros, como a vós mesmos’. Quer dizer:
devemos transferir aos outros aquele sentimento de personalidade, que é
exatamente o que nos define a nós mesmos, o nosso eu; devemos compreender-nos
nos outros. (...) É esta a grande política humana e cristã do mundo. Devemo-nos
habituar a ver nos homens, não antagonistas, inimigos, rivais ou concorrentes,
mas irmãos”.
Pio XII
Depois há outra maneira de falar de fraternidade. E
é a partilha da dor: quando estamos todos "no mesmo barco". Como nos
dias da pandemia, como na tragédia de uma guerra que se aproxima... Assim se
expressou o Papa Pio XII em 24 de agosto de 1939 quando, em nome da
comum descendência do mesmo Pai, lançou uma radiomensagem para evitar a guerra
que, em vez disso, abalaria a humanidade por cinco longos anos...
Nós, armados apenas da palavra de Verdade, acima
das competições públicas e das paixões, vos falamos em nome de Deus, do qual
toda a família, nos Céus e na Terra, toma o nome (Ef 3, 15) —de Jesus Cristo,
nosso Senhor, que a todos os homens quis irmãos — do Espírito Santo, dom de
Deus altíssimo, fonte inesgotável de amor nos corações.
João XXIII
Mas é novamente na mesma mesa, ou seja, ao
compartilharmos a mesma comida, que realmente medimos a fraternidade recíproca.
Neste sentido, "fraternidade" é uma expressão concreta. O Papa João
XXIII em sua Radiomensagem para a Páscoa de 1959, quando populações inteiras
ainda sofriam as consequências da guerra e lutavam para retomar uma vida digna,
falou ao povo. Que a invocação "nos dê hoje nosso pão de cada dia"
inclua no adjetivo "nosso" precisamente o pensamento aos nossos
irmãos.
“Este deve ser, antes de tudo, um pão nosso, ou
seja, pedido em nome de todos. ‘O Senhor - adverte São João Crisóstomo a este
respeito - ensinou no Pai a dirigir-se a Deus também em nome dos irmãos. E
quer, em outras palavras, que não se levantem súplicas a Deus, em nome de seus
próprios interesses, mas também os do seu próximo. Desta forma, ele pretende
combater a inimizade e reprimir a arrogância".
João Paulo II
E foi precisamente o pão, o pão nosso de cada dia,
que o Papa João Paulo II compartilhou concretamente, sentado muitas vezes à mesa
com os pobres. Em 3 de janeiro de 1988 no Asilo de Santa Marta, nos opulentos e
hedonistas anos Oitenta ele chamou os pobres de irmãos, porque o próprio Jesus
foi o primeiro a considerá-los irmãos.
“Devemos procurar maneiras de melhorar a vida
porque todos temos consciência do que Jesus Cristo significa: Deus-homem, Deus
que se tornou um de nós, nosso irmão. Sabemos também que no fim do mundo, ele
será nosso juiz, nosso irmão. E este julgamento será sobre como soubemos ser
irmãos uns dos outros. Assim sendo irmãos para os outros, para pessoas
diferentes, especialmente para os que sofrem, para os pobres, seremos também
irmãos para ele. (...)
Bento XVI
“Ver no outro, seja ele quem for, como um membro
da mesma família, é um caminho necessário, urgente, mas também difícil”. É
o apelo do Papa Bento XVI à mãe de todos nós no final da visita à casa "Dom de Maria" dos Missionários
da Caridade no Vaticano, em 4 de janeiro de 2008...
“A
Virgem Maria, que se entregou totalmente ao Omnipotente e foi cheia de todas as
graças e bênçãos com a vinda do Filho de Deus, nos ensine a fazer da nossa
existência um dom quotidiano a Deus Pai, no serviço aos irmãos e na escuta da
Sua palavra e da Sua vontade. E como os santos Magos vindos de longe para
adorar o Rei-Messias, ide também vós, queridos irmãos e irmãs, pelos caminhos
do mundo
Fonte: Vatican News
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