Na
Audiência Geral realizada na Sala Paulo VI, Francisco retoma as catequeses
sobre a oração após o ciclo dedicado ao cuidado da criação no mundo ferido pela
pandemia de coronavírus. “A oração não é um fechar-se com o Senhor, para
maquiar a alma. A oração é um confronto com Deus e um deixar-se enviar para
servir aos irmãos”, disse o Pontífice.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
“A oração de Elias” foi o tema da catequese do Papa Francisco na
Audiência Geral desta quarta-feira (07/10), realizada na Sala Paulo VI, por
causa da chuva que começou a cair cedo na Cidade Eterna.
O Pontífice retomou as catequeses sobre o tema da
oração, interrompidas para dar espaço às catequeses sobre o cuidado da criação.
“Conheçamos um dos personagens mais fascinantes de toda a Sagrada Escritura: o
profeta Elias. Ele vai além dos limites do seu tempo e podemos ver a sua
presença também em alguns episódios do Evangelho. Ele aparece ao lado de Jesus,
juntamente com Moisés, no momento da Transfiguração. O próprio Jesus refere-se
à sua figura para dar crédito ao testemunho de João Batista”, sublinhou
Francisco.
Elias, incapaz de compromissos
mesquinhos
O Papa frisou que “a Escritura apresenta Elias como
um homem de fé cristalina: no seu próprio nome, que poderia significar “Javé é
Deus”, está incluído o segredo da sua missão. Ele será assim para o
resto de sua vida: um homem integérrimo, incapaz de compromissos
mesquinhos. O seu símbolo é o fogo, a imagem do poder purificador de
Deus. Será o primeiro a ser posto à prova e permanecerá fiel. Ele é o exemplo
de todas as pessoas de fé que conhecem tentações e sofrimentos, mas não deixam
de viver à altura do ideal para o qual nasceram”.
A oração é a linfa que alimenta constantemente a
sua existência. Por esta razão, é um dos personagens mais queridos à tradição
monástica, de tal forma que alguns o elegeram padre espiritual da vida
consagrada a Deus. Elias é o homem de Deus, que se levanta como defensor da
primazia do Altíssimo. No entanto, também ele é obrigado a enfrentar as
próprias fragilidades. É difícil dizer quais experiências lhe foram mais úteis:
se a derrota dos falsos profetas no Monte Carmelo, ou a perplexidade em que
constata que ele «não é melhor do que os seus pais».
A oração é deixar-se conduzir por
Deus
Segundo Francisco, na alma de quem reza, o sentido
da própria debilidade é mais precioso do que momentos de exaltação, quando
parece que a vida é uma cavalgada de vitórias e sucessos”, e acrescentou:
Na oração acontece sempre isso. Momentos de oração
que nos puxam para cima, nos enche de entusiasmo, e momentos de oração de dor,
aridez e provações. A oração é assim: deixar-se conduzir por Deus e deixar-se
também golpear, pelas situações ruins e até mesmo pelas tentações. Esta
realidade que a oração é assim se encontra em muitas outras vocações bíblicas,
também no Novo Testamento; pensemos, por exemplo, em São Pedro e São Paulo, a
vida deles era assim: momentos de exultação e momentos de abaixamento, de
sofrimentos.
“Elias é o homem de vida contemplativa e, ao mesmo
tempo, de vida ativa, preocupado com os acontecimentos do seu tempo, capaz de
se lançar contra o rei e a rainha, depois que ele mandaram matar Nabot para
tomar posse da sua vinha”, disse ainda o Pontífice.
Precisamos do espírito de Elias
Quanto precisamos de fiéis, de cristãos zelosos que
agem diante de pessoas que têm responsabilidade gerencial com a coragem de
Elias, para dizer: “Isto não deve ser feito! Isto é um assassinato”! Precisamos
do espírito de Elias.
Elias nos mostra, deste modo, “que não deve haver
dicotomia na vida de quem reza, não há diferença: se está perante o Senhor e se
vai ao encontro dos irmãos para os quais Ele envia".
“A
oração não é um fechar-se com o senhor, para maquiar a alma. Não, isto não é
oração. Esta é uma oração fingida. A oração é um confronto com Deus e um
deixar-se enviar para servir aos irmãos. A prova da oração é o amor concreto
pelo próximo.”
"E vice-versa: os fiéis agem no mundo depois
de, primeiro, terem silenciado e rezado; caso contrário, a sua ação é
impulsiva, desprovida de discernimento, é uma corrida ofegante sem meta. Quando
os fiéis fazem assim, cometem muitas injustiças, porque não foram primeiro
diante do Senhor para rezar, discernir o que devem fazer”.
Regressar a Deus com a oração
O Papa disse ainda que “as páginas da Bíblia
sugerem que também a fé de Elias progrediu: ele cresceu na oração, refinou-a
pouco a pouco. Para ele, o rosto de Deus tornou-se mais nítido ao longo do
caminho. Até atingir o seu ápice naquela experiência extraordinária, quando
Deus se manifestou a Elias no monte. Ele manifesta-se não na tempestade
impetuosa, não no tremor de terra nem no fogo devorador, mas no «murmúrio de
uma brisa suave». Ou melhor, uma tradução que reflete bem essa experiência: em
um fio de silêncio sonoro. É assim que Deus se manifesta a Elias”.
É com este sinal humilde que Deus se comunica com
Elias, que naquele momento é um profeta fugitivo que perdeu a paz. Deus vai ao
encontro de um homem cansado, de um homem que pensava ter falhado em todas as
frentes, e com aquela brisa suave, com aquele fio de silêncio sonoro, traz de
volta a calma e a paz ao seu coração.
“Esta
é a vicissitude de Elias, mas parece escrita para todos nós”, disse ainda
Francisco. “Em certas noites podemos sentir-nos inúteis e solitários. É então
que a oração virá e baterá à porta do nosso coração. Todos nós podemos tocar
uma orla do manto de Elias. E mesmo que tivéssemos feito algo de errado, ou se
nos sentíssemos ameaçados e apavorados, regressando a Deus com a oração,
voltarão também como que por milagre a serenidade e a paz. Isto é o que nos
ensina o exemplo de Elias”, concluiu o Papa.
Fonte: Vatican News
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