"O
cenário atual da migração é complexo e muitas vezes tem implicações dramáticas.
As interdependências globais que determinam os fluxos migratórios devem ser
estudadas e melhor compreendidas", disse Francisco em seu discurso.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O
Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (10/09), na Sala
Clementina, no Vaticano, os participantes do projeto europeu “Vozes e
experiências das fronteiras”, acompanhados pelo prefeito de Lampedusa e Linosa,
situadas na região italiana da Sicília.
“Este é um projeto de grande visão que promove uma compreensão mais profunda da
migração, permitindo às sociedades europeias de dar uma resposta mais humana e
coordenada aos desafios da migração contemporânea. A rede de autoridades locais
e organizações da sociedade civil, que nasceu deste projeto, visa contribuir
positivamente para o desenvolvimento de políticas migratórias que respondam a
este fim”, disse o Pontífice em seu discurso.
O cenário atual da migração é complexo e muitas vezes tem
implicações dramáticas. As interdependências globais que determinam os fluxos
migratórios devem ser estudadas e melhor compreendidas. Os desafios são muitos
e interpelam a todos. Ninguém pode ficar indiferente às tragédias humanas que
continuam ocorrendo em diferentes regiões do mundo. Dentre estas, nos
interrogam muitas vezes as tragédias cujo teatro é o Mediterrâneo, um mar de
fronteira, mas também de encontro de culturas.
Sentimento de indiferença e rejeição
Francisco recordou o encontro com os bispos do Mediterrâneo
realizado, em fevereiro passado, em Bari, definindo-o como “muito positivo”,
afirmando que “dentre os que mais lutam na região do Mediterrâneo, estão os que
fogem da guerra ou deixam suas terras em busca de uma vida digna do ser
humano”.
Estamos conscientes de que em diferentes contextos sociais há um
sentimento generalizado de indiferença e até de rejeição. A Comunidade
internacional se detém nas intervenções militares, mas deveria construir
instituições que garantam a igualdade de oportunidades e lugares onde os
cidadãos tenham a possibilidade de assumir o bem comum. Ao mesmo tempo, nunca
aceitamos que aqueles que buscam esperança pelo mar morram sem receber socorro.
“O acolhimento e uma integração digna são etapas de um processo
que não é fácil. No entanto, é impensável enfrentá-lo levantando muros”, frisou
ainda o Papa.
Agir juntos, não sozinhos
Perante estes desafios, é evidente que a solidariedade concreta
e a responsabilidade partilhada são indispensáveis, tanto no âmbito nacional
quanto internacional. A atual pandemia mostrou a nossa interdependência:
estamos todos ligados uns aos outros, tanto no mal quanto no bem. Devemos agir
juntos, não sozinhos.
Francisco sublinhou que “é fundamental mudar a maneira
como vemos e contamos a migração. Trata-se de colocar pessoas, rostos e
histórias no centro. Portanto, é importante projetos, como o que vocês
promovem, que propõem diferentes abordagens, inspiradas na cultura do encontro,
que são o caminho para um novo humanismo. Quando digo “novo humanismo” não
me refiro apenas como filosofia de vida, mas também como espiritualidade e
estilo de comportamento”.
“Os habitantes das cidades e territórios fronteiriços, as
sociedades, as comunidades e as Igrejas, são chamados a ser os primeiros atores
desta virada, através das contínuas oportunidades de encontro que a história
lhes oferece. As fronteiras, que sempre foram consideradas barreiras de
divisão, podem se tornar “janelas”, espaços de conhecimento mútuo, de
enriquecimento recíproco, de comunhão na diversidade. Lugares onde os modelos
são experimentados para superar as dificuldades que os recém-chegados
representam para as comunidades autóctones”, concluiu o pontífice.
Fonte: Vatican News
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