A Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) divulgou mensagem sobre as queimadas que ocorrem nos
biomas brasileiros da Amazônia, Cerrado e Pantanal. No texto, aprovado na noite
desta quarta-feira, 23 de setembro, a entidade afirma que “acompanha indignada
a devastação causada pelas queimadas” e se solidariza “com todos os voluntários
que arriscam a própria vida, atuando com poucos recursos no combate ao crime
sócio ambiental que está ocorrendo”.
“A efetiva superação dessa caótica situação só se dará por meio
de forte fiscalização, investigação e responsabilização dos culpados, obrigação
de reflorestamento, recuperação integral da natureza devastada e reorganização
da estrutura econômica”, afirma a CNBB, que também convoca a sociedade
brasileira a se unir ainda mais em torno do Pacto pela Vida e pelo Brasil.
0406/20
Mensagem sobre as queimadas
em território brasileiro
“As feridas causadas à nossa
mãe terra são feridas que também sangram em nós.
(Papa Francisco – Mensagem do
presidente da Colômbia, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente).
1.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil acompanha
indignada a devastação causada pelas queimadas nos biomas Amazônia, Cerrado e
Pantanal. Une-se às diversas manifestações de entidades católicas feitas nos
últimos dias e enaltece todos que cuidam, com esmero, da Casa Comum, de modo
especial os que bravamente combatem os focos de incêndio e trabalham pela
preservação da vida nas áreas afetadas. A CNBB se solidariza com todos os
voluntários que arriscam a própria vida, atuando com poucos recursos no combate
ao crime socioambiental que está ocorrendo e na tentativa de salvar a fauna
restante que não foi consumida pelo fogo.
2.
Mesmo diante de tamanha destruição, o Governo
Federal paradoxalmente insiste em dizer que o Brasil está de parabéns com a
proteção de seu meio ambiente. Esta atitude encontra-se em nítida contramão da
consciência social e ambiental, na verdade beneficiando apenas grandes
conglomerados econômicos que atuam na mineração e no agronegócio.
3.
O Ministério Público mostrou ao Governo Federal
os lugares mais sensíveis onde o desmatamento e a queimada aconteceriam de
forma mais evidente. Até mesmo ações judiciais foram propostas. Nada,
entretanto, surtiu efeito que evitasse essa tragédia socioambiental.
4.
Não é possível permanecer em silêncio diante,
por exemplo, dos cortes orçamentários no Ibama e no ICMBio, bem como do
sucateamento dos órgãos de combate e fiscalização. O orçamento liberado para
fiscalização do desmatamento no ano de 2019 foi de 102 milhões de reais e ainda
sofreu um bloqueio de 15,6 milhões. Neste ano de 2020, o recurso foi ainda
menor: conforme o Projeto de Lei Orçamentária (PLOA), aprovado, foram previstos
76,8 milhões para as ações de controle e fiscalização ambiental do Ibama. Isso
significa ter 25,2 milhões de reais a menos!
5.
De acordo com o Fundo Mundial para a Natureza –
WWF-Brasil, apesar da criação do Conselho da Amazônia, com a promessa de melhor
controle no bioma por parte das Forças Armadas, agosto deste ano repetiu e
mesmo superou a tragédia vivida em 2019, com um pico assustador no número de
focos de incêndio. Essa agressão à Casa Comum, teve como resultado, nos anos de
2019 e 2020, recordes na quantidade de focos de queimadas no Cerrado (50.524 e
41.674), no Pantanal (6.052 e 15.973) e na Amazônia (66.749 e 71.499),
totalizando, segundo dados do INPE, 123.325 focos em 2019 e 129.146 até 20 de
setembro de 2020, correspondendo a um aumento de 5.821, destruindo grande parte
da biodiversidade nestes biomas, ameaçando povos originários e tradicionais.
Tudo isso se constitui num processo de verdadeiro desmonte das leis e sistemas
de proteção do meio ambiente brasileiro.
6.
Em meio a toda essa devastação – cujas
consequências chegam aos países vizinhos – também o bom senso é agredido tanto
pelo o negacionismo explícito e reincidente por parte de nossas lideranças
governamentais, quanto pela acusação de que povos e grupos seriam os
responsáveis por algumas das queimadas. Esta criminalização, feita perante o
mundo, camufla, na fumaça das fake-news,
o esforço desses povos por sobrevivência, além de trazer o caos da
desinformação.
7.
Não basta, porém, apenas constatar com tristeza
a destruição ambiental e o desrespeito ao ser humano. Por isso, a CNBB convoca
a sociedade brasileira a se unir ainda mais em torno do Pacto pela Vida e pelo
Brasil, reforçando a voz dos que desejam um país mais justo e solidário,
empenhados na proteção da Casa Comum, partindo dos mais vulneráveis. A efetiva
superação dessa caótica situação só se dará por meio de forte fiscalização,
investigação e responsabilização dos culpados, obrigação de reflorestamento,
recuperação integral da natureza devastada e reorganização da estrutura
econômica.
8.
Em meio a nossas diferenças, permaneçamos
firmes na esperança e na união, solidificados na certeza de que a vida, em
especial a vida humana, é o valor maior que nos cumpre preservar.
Brasília, DF, 23 de setembro
de 2020
Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte, MG
Presidente
Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente
Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-Presidente
Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral
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