No prefácio da mais recente
obra publicada pela Livraria Editora Vaticana, intitulada “Por um saber sobre a
paz”, organizada por Gilfredo Marengo, o Papa Francisco se dirige especialmente
aos jovens que pretendem se especializar em Ciências da Paz, tornando-se
“agentes de paz”. O gosto pelo estudo, afirma o Pontífice, deve ser acompanhado
por um coração inspirado no Evangelho, capaz de compartilhar as esperanças e as
ansiedades dos homens de hoje imersos num clima de guerra e de violência no
mundo.
Andressa Collet,
Eugenio Bonanata - Vatican News
“Por que em um mundo
onde a globalização quebrou tantas fronteiras, onde todos – se diz - estamos
interligados, se continua a praticar a violência nas relações entre os
indivíduos e as comunidades?”, questiona o Papa Francisco ao assinar o prefácio da mais
recente obra publicada pela Livraria Editora Vaticana (LEV), intitulada “Por um
saber sobre a paz” ("Per un saper della pace", em língua original).
“Por que quem é
diferente de nós muitas vezes nos assusta de tal forma de assumirmos uma
atitude defensiva e desconfiada que com muita frequência se torna uma agressão
hostil?”, indaga ainda o Pontífice no texto inédito que introduz o livro
- em língua italiana - organizado por Gilfredo Marengo, vice-presidente e
professor ordinário de Antropologia Teológica do Pontifício Instituto Teológico
João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família.
“Por que os governos
dos Estados acreditam que demonstrar a sua força, mesmo com atos de guerra,
pode dar-lhes maior credibilidade aos olhos dos cidadãos e aumentar o consenso
de que desfrutam?”. São todas questões que antecipam o pensamento do Papa
Francisco na obra, ao encorajar a cooperação entre a Igreja e as universidades,
investindo nas jovens gerações para um mundo sem guerras e violências. O
Pontífice explica no prefácio a importância de contribuir na formação de
agentes de paz, ao recordar sua recente decisão de instituir um ciclo de
estudos em Ciências da Paz na Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma. O
próprio livro propõe uma série de contribuições, a maioria delas provenientes
de um seminário de estudos realizado em 2019 na própria instituição.
A obra
em língua italiana
O
prefácio do Papa Francisco
O ponto de partida é
uma dimensão particular da "Igreja em saída" que se reflete na
colaboração com o mundo acadêmico. Francisco escreve que "a Igreja é
chamada a se comprometer com a solução de problemas relativos à paz, à
concórdia, ao meio ambiente, à defesa da vida, aos direitos humanos e civis".
E, nesse caminho, prossegue o Papa, "o mundo universitário tem um papel
central” já que simboliza “aquele humanismo integral que precisa ser
continuamente renovado e enriquecido".
Nesse horizonte se
destaca, então, um novo desafio acadêmico interdisciplinar baseado num diálogo
fecundo entre filosofia, teologia, direito e história. Francisco se diz estar
confiante "que um aprofundamento rigoroso dessas linhas de pesquisa,
alimentadas também pelas contribuições das ciências humanas, será capaz de
fomentar o crescimento de um 'saber sobre a paz' para realmente formar
preciosos agentes de paz, prontos a se colocar em jogo nas mais diversas áreas
da vida das nossas sociedades".
O
kit de formação
Mas o que é preciso
para se especializar nesse campo? O Papa indica:
“Um
bom agente de paz deve ser capaz de amadurecer um olhar sobre o mundo e a
história que não caia em um 'excesso de diagnóstico', que nem sempre é
acompanhado de propostas resolutas e realmente aplicáveis. Trata-se, de fato,
de ir além de uma abordagem puramente sociológica que tenha a pretensão de
abraçar toda a realidade de forma neutra e asséptica.”
O
estudo inspirado no Evangelho
Francisco, portanto,
nos convida a manter o olhar sobre o contexto sem negligenciar os aspectos
práticos, quando indica: "quem pretende se tornar um especialista em
Ciências da Paz precisa aprender a estar atento aos sinais dos tempos: o gosto
pela pesquisa científica e pelo estudo deve ser acompanhado por um coração
capaz de compartilhar as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias
dos homens de hoje a fim de saber realizar um verdadeiro discernimento
evangélico”.
Ao se dirigir às
pessoas potencialmente interessadas, o Papa dá uma outra indicação.
"Envolver-se nesses percursos de formação", esclarece ele,
"poderá ser uma ajuda válida para muitos jovens descobrirem que a vocação
leiga é, antes de tudo, a caridade na família e a caridade social ou
política". Esse, então, adverte o Pontífice, "é um compromisso
concreto a partir da fé para a construção de uma nova sociedade".


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