Já
é o segundo dia consecutivo que o Brasil registra mais de 1.000 mortes por
Covid-19 em 24h, superando 60 mil pessoas que perderam a vida, vítimas do
coronavírus. Se de um lado a pandemia gera sofrimento das famílias, preocupação
e medo pelos dados impressionantes, do outro desperta manifestações de
solidariedade por parte dos brasileiros numa “união de esforços para cuidar dos
doentes e dos pobres, para ajudar a criar essa mentalidade da cultura do
cuidado”, afirma o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer.
Andressa
Collet - Vatican News
“Os números
impressionam e causam muita preocupação” no Brasil, afirma o arcebispo de São
Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, em entrevista exclusiva ao Vatican News ao
abordar a pandemia. De fato, dentro das divisas do Estado, foi superada a marca
de 15 mil mortes com quase 290 mil pessoas testadas positivas à Covid-19.
Apesar dos
dados, o governo de São Paulo comemorou os resultados do mês de junho em
coletiva de imprensa desta quarta-feira (1), porque estão dentro das previsões
feitas pelos especialistas que trabalham no Centro de Contingência contra o
Coronavírus. O governador João Doria também disse que São Paulo é o Estado com
o maior número de pacientes recuperados, o que ajudou a um feito importante: “segundo
o balanço da respeitada Universidade John Hopkins, em Washington, nos EUA, o
Brasil se tornou líder mundial com 790 mil pacientes recuperados, dos quais 157
mil aqui em São Paulo”.
O cardeal
Odilo Scherer também afirma que a situação está melhor na capital, mas não no
interior do Estado:
“Na cidade de São
Paulo nós já passamos para a Fase 3 a partir do início desta semana, onde já
existe uma melhora sensível no contágio. Porém, o interior do Estado ainda
enfrenta uma situação bastante crítica. Nós temos ainda a maioria das regiões
do interior do Estado na Fase Vermelha, ou seja, na fase mais aguda da
transmissão do coronavírus. Por isso, ainda é uma situação bastante precária.”
A preocupação que chega ao interior do
Brasil
Em
contexto nacional, o Brasil registrou pelo segundo dia consecutivo mais de mil
mortes por Covid-19 em 24 horas, segundo dados do levantamento conjunto
realizado pelos veículos de comunicação do Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e
UOL junto às secretarias estaduais de Saúde. Até agora são mais de 1 milhão e
400 mil pessoas infectadas pelo coronavírus e o país superou a marca das 60 mil
que perderam a vida, vítimas da doença.
Uma
preocupação latente agora, recorda o arcebispo de São Paulo, é sobre a
disseminação do vírus pelo interior do país:
“Claro, o Brasil tem
uma população grande e isso também mantém as proporções. É um número expressivo
que assusta! No momento, nos lugares onde a Covid-19 se manifestou primeiro a
situação começa a melhorar porque não é mais aquela pressão muito grande sobre
as estruturas hospitalares, começa a haver um certo alívio e por isso, também,
começam a ser relaxadas, por assim dizer, aliviadas as condições de isolamento
social – embora a recomendação continue muito forte. Porém, o coronavírus está
se espalhando agora muito mais para o interior, lugares e regiões que estavam
até aqui bastante preservados agora estão em plena crise. Mesmo, por exemplo,
os estados do Sul – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - agora estão em
plena crise. Por outro lado, Mato Grosso e Goiás também estão bastante
preservados; e Tocantins que agora se encontra em plena crise. Se vê que o
vírus vai avançando e, à medida que ele avança, o povo e os governos locais
aprendem também a enfrentar e se prevenir para superar e para não pegarem o
contágio. É um pouco essa lógica que nós estamos vendo. De toda maneira, é uma
situação que ainda continua a fazer muito medo porque, de fato, de um lado o
vírus está por toda parte, de outro lado não temos ainda uma vacina e o
medicamento para a gente superar. E o único jeito para a gente se defender é
isolar e se precaver com aquelas medidas de isolamento social, medidas
higiênicas para não pegar o vírus.”
As reações do povo que respondem aos
governos
O cardeal
Odilo Scherer comenta ainda que a situação que se vive no Brasil em meio à
pandemia é “bastante contraditória e gera muitas perplexidades”, devido aos
posicionamentos e orientações dos governos: “nós temos infelizmente,
ainda, também uma situação contraditória nas atitudes dos governos: governo
federal, através do Ministério da Saúde, tem uma atitude; os governos locais e
estaduais e municipais têm outra atitude; e isso nem sempre ajuda a termos uma
atitude coerente e que se estenda a todo o país para enfrentar o vírus e
combater a pandemia.”
A beleza que nasce em meio à pandemia
Por outro
lado, finaliza o arcebispo de São Paulo, a pandemia tem revelado o lado mais
humano das pessoas, não somente dos católicos, mas de toda uma sociedade que
tem se tornado mais solidária com o próximo:
“É
claro, há muito sofrimento nos hospitais, nas famílias que têm pessoas
contagiadas. Mas, ao mesmo tempo, existem algumas manifestações muito bonitas
de solidariedade, de união de esforços para cuidar dos doentes, para ajudar a
criar esta mentalidade, essa cultura do cuidado, por outro lado, do socorro aos
pobres, que são muitos porque muita gente está perdendo emprego. De maneira
que, esta situação, criada pela pandemia, está despertando energias boas de
socorro, de caridade, de solidariedade – e não só na Igreja, mas na sociedade
civil. Muitas iniciativas que, queira Deus, continuem não só sejam ocasionais
agora que estamos em plena pandemia, mas se estendam para depois também.”
Fonte:
Vatican News
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