"Hoje
precisamos de profecia, de verdadeira profecia: não discursos que prometem o
impossível, mas testemunhos de que o Evangelho é possível. Não são necessárias
manifestações miraculosas, mas vidas que manifestam o milagre do amor de Deus.
Não potência, mas coerência; não palavras, mas oração; não proclamações, mas
serviço; não teoria, mas testemunho. Precisamos não de ser ricos, mas de amar
os pobres; não de ganhar para nós, mas de nos gastarmos pelos outros; não do
consenso do mundo, mas da alegria pelo mundo que virá; não de projetos
pastorais eficientes, mas de pastores que ofereçam a vida: de enamorados de
Deus."
Vatican News
“Como o Senhor transformou Simão em
Pedro, assim chama a cada um para fazer de nós pedras vivas, com as quais
construir uma Igreja e uma humanidade renovadas. Há sempre quem destrua a
unidade e quem apague a profecia, mas o Senhor acredita em nós e pede-te:
«Queres ser construtor de unidade? Queres ser profeta do meu céu na terra?»
Deixemo-nos provocar por Jesus e ganhemos a coragem de Lhe dizer: «Sim, quero»!
Não no Altar da Confissão com a
Basílica de São Pedro lotada, mas no Altar da Cátedra, na presença de cerca de
90 fiéis. Na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo - em tempos em que são tomados
todos os cuidados para evitar nova onda de contágios por coronavírus - o Papa
Francisco presidiu a Santa Missa destacando duas palavras-chave: unidade e
profecia.
No início da celebração, após a
saudação litúrgica, o Decano do Colégio Cardinalício, cardeal Giovanni Battista
Re fez um breve pronunciamento, que antecedeu o rito da benção dos pálios que
serão entregues aos Arcebispos Metropolitas nomeados no decorrer do último ano.
O cardeal Re recebeu o pálio do próprio Papa Francisco.
Unidade
A reflexão do Papa Francisco parte da
familiaridade que unia Pedro e Paulo, “duas pessoas muito diferentes, mas
sentiam-se irmãos, como numa família unida onde muitas vezes se discute mas sem
deixar de se amarem”, uma familiaridade que “não provinha de inclinações
naturais, mas do Senhor. Ele não nos mandou agradar, mas amar. É Ele que nos
une, sem nos uniformizar.”
Em meio a perseguições, os primeiros
cristãos não pensam em fugir ou salvar a própria pele, “mas todos rezam juntos”
– recordou o Papa - enfatizando que “a unidade é um princípio que se ativa com
a oração, porque a oração permite ao Espírito Santo intervir, abrir à
esperança, encurtar as distâncias, manter-nos juntos nas dificuldades.”
Só a oração desata as algemas e deixa
livre o caminho para a unidade
Francisco observa que “naqueles momentos
dramáticos, ninguém se lamenta do mal, das perseguições”, pois “é inútil, e até
chato, que os cristãos percam tempo se lamentando do mundo, da sociedade,
daquilo que está errado. As lamentações não mudam nada”. Ao contrário, aqueles
cristãos rezavam:
Hoje, podemos interrogar-nos:
«Guardamos a nossa unidade com a oração? Rezamos uns pelos outros?» Que
aconteceria se se rezasse mais e murmurasse menos? Aquilo que aconteceu a Pedro
na prisão: como então, muitas portas que separam, abrir-se-iam; muitas algemas
que imobilizam, cairiam. Peçamos a graça de saber rezar uns pelos outros.”
São Paulo – completou o Santo Padre -
exortava os cristãos a rezar por todos, mas em primeiro lugar por quem governa:
É uma tarefa que o Senhor nos confia.
Temo-la cumprido? Ou limitamo-nos a falar? Quando rezamos, Deus espera que nos
lembremos também de quem não pensa como nós, de quem nos bateu a porta na cara,
das pessoas a quem nos custa perdoar. Só a oração desata as algemas, só a
oração deixa livre o caminho para a unidade.
Pedro e André
O Pontífice recorda que o pálio
abençoado neste dia “recorda a unidade entre as ovelhas e o Pastor que, como
Jesus, carrega a ovelha nos ombros e nunca mais a larga”.
Ao mesmo tempo, fala da bela tradição
deste dia em que “unimo-nos de maneira especial ao Patriarcado Ecumênico de
Constantinopla:
Pedro e André eram irmãos; e entre
nós, quando é possível, trocamos uma visita fraterna nas respetivas festas; não
tanto por gentileza, mas para caminhar juntos rumo à meta que o Senhor nos
indica: a unidade plena.
Hoje precisamos de verdadeira
profecia
Depois da unidade, O Santo Padre fala
de uma segunda palavra: profecia. Com perguntas provocatórias, Jesus faz Pedro
entender que “não Lhe interessam as opiniões gerais, mas a opção pessoal de O
seguir”, e a Saulo, o abala interiormente, fazendo-o cair por terra no caminho
para Damasco, derrubando “sua presunção de homem religioso e bom”. Então, vem
as profecias: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt 16,
18); e a Paulo: «É instrumento da minha escolha, para levar o meu nome perante
os pagãos» (At 9, 15):
Assim, a profecia nasce quando nos
deixamos provocar por Deus: não quando gerimos a própria tranquilidade,
mantendo tudo sob controle. Quando o Evangelho inverte as certezas, brota a
profecia. Só quem se abre às surpresas de Deus é que se torna profeta.
E isso, pode ser visto em Pedro e
Paulo, “profetas que enxergam mais além: Pedro é o primeiro a proclamar que
Jesus é «o Messias, o Filho de Deus vivo»; Paulo antecipa a conclusão da sua
vida: «Já me aguarda a merecida coroa, que me entregará, naquele dia, o
Senhor»:
Hoje precisamos de profecia, de
verdadeira profecia: não discursos que prometem o impossível, mas testemunhos
de que o Evangelho é possível. Não são necessárias manifestações miraculosas,
mas vidas que manifestam o milagre do amor de Deus. Não potência, mas
coerência; não palavras, mas oração; não proclamações, mas serviço; não teoria,
mas testemunho. Precisamos não de ser ricos, mas de amar os pobres; não de
ganhar para nós, mas de nos gastarmos pelos outros; não do consenso do mundo,
mas da alegria pelo mundo que virá; não de projetos pastorais eficientes, mas
de pastores que ofereçam a vida: de enamorados de Deus.
E foi como “enamorados de Deus” que
Pedro e Paulo anunciaram Jesus, sublinhou Francisco:
Pedro, antes de ser colocado na cruz,
não pensa em si mesmo, mas no seu Senhor e, considerando-se indigno de morrer
como Ele, pede para ser crucificado de cabeça para baixo. Paulo está para ser
decapitado e pensa só em dar a vida, escrevendo que quer ser «oferecido como sacrifício».
Isto é profecia. E muda a história.
Também
para nós existe uma profecia, descrita no Livro do Apocalipse, “quando Jesus
promete às suas testemunhas fiéis «uma pedra branca», na qual «estará gravado
um novo nome»”. E assim, “como o Senhor transformou Simão em Pedro, assim chama
a cada um para fazer de nós pedras vivas, com as quais construir uma Igreja e
uma humanidade renovadas. Há sempre quem destrua a unidade e quem apague a
profecia, mas o Senhor acredita em nós e pede-te: «Queres ser construtor de
unidade? Queres ser profeta do meu céu na terra?» Deixemo-nos provocar por
Jesus e ganhemos a coragem de Lhe dizer: «Sim, quero»!”
Fonte Vatican News
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