Em
tempo de pandemia, o Santo Padre faz suas as preocupações da humanidade. Na
comunicação, na proximidade e na serenidade.
Rui Saraiva
Naquele chuvoso fim-de-tarde em Roma,
um homem sozinho acolheu numa enorme Praça vazia o mundo inteiro. Francisco,
Papa desde março de 2013, sempre encontrou ali multidões. Alegres, sorridentes,
orantes, presentes. Porque o contágio cristão faz-se de abraços e partilha.
E, de repente, devido ao novo
coronavírus, o mundo ficou doente e teve que se proteger de um contágio tão
forte que se transformou em pandemia. Era obrigatório ficar em casa. Pela saúde
pública.
Naquele
dia 27 de março, na proximidade física e territorial italiana, que envolve o
Papa, tinham morrido mais de 900 pessoas em 24 horas por covid-19 que é a
doença respiratória causada pelo novo coronavírus. Vivia-se um
ambiente de dor, de sofrimento, de angústia e de incerteza em relação ao
futuro.
No mesmo barco com o Papa
Francisco
cedo reagiu. Deixou-se aconselhar e percebeu que o tempo era de intensificar a
comunicação. A partir de meados de março a missa em Santa Marta passou a ser
transmitida em direto para todo o mundo até ao passado dia 18 de maio.
Transformou-se num fenómeno de comunicação, verdadeiro vínculo quotidiano de
esperança.
Naquela
sexta-feira da Quaresma, 27 de março, o Papa organizou uma oração pela
humanidade e quis junto de si o Crucifixo de S. Marcelo que em 1522 pôs fim à
peste em Roma. Quis também o ícone da Salus Populi Romani, a Imagem protetora
do povo romano, que estará em Portugal para as Jornadas Mundiais da Juventude
agora adiadas para 2023.
O Santo
Padre inspirou-se no Evangelho de S. Marcos na passagem que nos revela o Senhor
que acalma a tempestade e diz aos seus discípulos: porque estais com medo?
Ainda não tendes fé?
Na sua
meditação, o Papa lembrou que também a humanidade está no meio de uma
tempestade e afirmou: “À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos
surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de
estar no mesmo barco”.
Juntos na
mesma situação – recordou Francisco apelando para o perigo da autossuficiência
que pode levar à realidade de “sozinhos” nos afundarmos.
“Convidemos
Jesus a subir para o barco da nossa vida” – disse o Papa exortando todos a
abraçarem a cruz de Cristo, pois, só assim, poderemos encontrar “novas formas
de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade” – sublinhou o Santo Padre
que no final desta oração, num significativo momento de espiritualidade cristã,
deu a bênção eucarística em transmissão mundial.
Na Páscoa, o direito à esperança
Durante as
celebrações pascais de 2020 no Vaticano, organizadas no confinamento a que a
pandemia obrigou, destaque para a homilia de Francisco na Vigília Pascal e para
a Mensagem Urbi Orbi na manhã de Páscoa.
Na
vigília, mãe de todas as vigílias, a ressurreição do Senhor foi celebrada com
uma forte exortação à esperança. O Papa declarou um novo direito fundamental: o
direito à esperança.
“Nesta
noite conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à
esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus, não é mero otimismo,
não são umas pancadinhas nas costas ou um encorajamento de circunstância. É um
dom do céu, que não conseguiríamos obter sozinhos” – disse Francisco.
O Papa
declarou ainda que “a esperança de Jesus é diferente” porque “até de um túmulo
faz surgir vida”. Fazendo uma clara alusão ao sofrimento e incerteza que
o mundo vivia, o Santo Padre assinalou não ser possível ceder à resignação
dizendo para não colocarmos “uma pedra por cima da esperança”.
“Podemos e
devemos esperar, porque Deus é fiel. Não nos deixou sós, visitou-nos: ele
chegou a cada umas das nossas situações, na dor, na angústia, na morte. A Sua
luz iluminou a escuridão do sepulcro: hoje quer alcançar os cantos mais
sombrios da vida. Irmã, irmão, mesmo que no coração enterraste a esperança não
desistas: Deus é maior. Escuridão e morte não têm a última palavra. Coragem,
com Deus nada está perdido!” – disse o Papa na sua homilia na Vigília Pascal.
Na
Mensagem e Benção Urbi et Orbi na manhã de Páscoa o Papa Francisco afirmou que
com a Ressurreição de Cristo uma “Boa Notícia” se acendeu na noite: “a noite de
um mundo já ocupado com grandes desafios e agora oprimido pela pandemia, que
mete em dura prova a nossa família humana. Nesta noite ressoou a voz da Igreja:
Cristo minha esperança, ressuscitou!”
Francisco
afirmou que a esperança da Ressurreição “é um outro contágio, que se transmite
de coração a coração". Para Francisco este é o “contágio da esperança”:
“Cristo minha esperança, Ressuscitou! – Não se trata de uma fórmula mágica, que
faça desaparecer os problemas. Não, a ressurreição de Cristo não é isso. É a
vitória do amor sobre a raiz do mal, uma vitória que não passa por cima do
sofrimento e da morte, mas atravessa-as abrindo uma estrada no abismo,
transformando o mal no bem” – disse o Papa.
Rezar o Terço dando esperança a quem
sofre
No final
do mês mariano, a 30 de maio, o Papa Francisco, numa iniciativa do Conselho
Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, rezou o Terço no Vaticano em
especial ligação com os santuários marianos e com todo o mundo.
Foi a
partir da réplica da Gruta de Lourdes que se encontra bem no coração dos
Jardins do Vaticano que o Papa Francisco rezou o Terço para pedir a consolação
de Nossa Senhora para enfrentar a pandemia.
Uma oração
plena de esperança vivida nos primeiros passos que se vão fazendo de desconfinamento
e de regresso a alguma normalidade. A frase que orientou a espiritualidade
daquele momento foi retirada dos Atos dos Apóstolos (1,14): “Todos se uniram
constantemente em oração, juntamente com Maria”.
Com o Papa
estiveram em ligação direta de intenções e comunhão os santuários marianos
espalhados pelo mundo: Lourdes (França), Lujan (Argentina), Guadalupe (México),
Elele (Nigéria), San Giovanni Rotondo e Pompeia (Itália), o Santuário da
Imaculada Conceição em Washington (EUA) e claro o Santuário de Fátima em
Portugal.
O Terço
foi rezado com a participação de pessoas atingidas pelo novo coronavírus:
médicos, enfermeiros, doentes curados, famílias em luto, capelães,
farmacêuticos, jornalistas e voluntários, e também uma família que teve há
pouco tempo um filho. Um verdadeiro símbolo de esperança.
No Terço,
rezado com grande intensidade, em transmissão direta para todo o mundo,
recordamos o excerto final da oração do Papa:
“Ó Maria,
Consoladora dos aflitos, abraçai todos os vossos filhos atribulados e
alcançai-nos a graça que Deus intervenha com a sua mão omnipotente para nos
libertar desta terrível epidemia, de modo que a vida possa retomar com
serenidade o seu curso normal.
Confiamo-nos
a Vós, que resplandeceis sobre o nosso caminho como sinal de salvação e de
esperança, ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria. Amen”
Laudetur Iesus
Christus
Fonte: Vatican News
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