O Covid – 19 chegou ao Brasil, e além dos problemas causados às pessoas que são acometidas da doença, que inicialmente é semelhante a uma virose, ela revela a fragilidade econômica, política e social em que o país se encontra. Dessa forma, os brasileiros precisaram, assim como na Itália, nos Estados Unidos, na Espanha e em outras partes do mundo, se recolher em suas residências com o objetivo de minimizar os impactos da pandemia causada pelo Coronavírus. O fato é que tal atitude realmente é necessária para salvar as vidas, principalmente de idosos, mas também de outros indivíduos, como por exemplo, os cardiopatas.
Assim sendo, os efeitos não somente da pandemia, no que se refere aos fragilizados fisiologicamente pela doença ou às famílias que perderam seus parentes, estão sendo rigorosos. Trata-se de empresas que fecham suas portas, pois estão impossibilitadas de funcionar sem capital de giro suficiente para manter-se no mercado e também segurar seus funcionários. Estes que entram na estatística dos desempregados que a partir de agora terão que “se virar” para conseguir sua subsistência e de sua família. Mas, como seria possível? Como “se virar”?
Isto posto, não esqueçamos dos milhões de brasileiros que sobrevivem na informalidade. São agentes sociais que lutam cotidianamente pelo pão de cada dia, sejam nas esquinas, nas portas dos supermercados, nos semáforos, nas portas das escolas, eles movimentam o setor informal com criatividade e muita luta. Mas, estes também estão impossibilitados pela situação atual. Eles também precisam ficar em casa, nos seus quartinhos apertados juntamente com seus filhos, esposas ou esposos e quem sabe outros parentes. Isso até quando tiver alguma reserva para pagar seu aluguel e assim manter-se na quarentena, depois, para onde irão?
A situação citada acima é a de muitos brasileiros, mas também de migrantes e refugiados de outros países. Estes que saíram de suas casas olhando somente para o horizonte, pois era lá que estava a esperança de recomeçar. É como os Venezuelanos que enfrentam o trajeto da fronteira até Boa Vista, pois em um dado momento as malas não fazem mais sentido, basta somente carregar o necessário nos braços, seus filhos, mas o olhar, sempre no horizonte.
Em Fortaleza, no Ceará, uma das capitais mais afetadas pela coronavírus, muitos brasileiros, migrantes e refugiados sofrem os efeitos do despreparo do país no que se refere a lidar com situações como a que enfrentamos ou semelhantes. São Africanos e Venezuelanos em sua maioria, que se somam a massa excluída da sociedade, e que são os principais afetados por esta crise, pois não há lugar para eles no sistema único de saúde que está lotado. Mas, será que algum dia houve lugar? Para os negros filhos da África que foram enganados com a promessa de estudos e trabalho, será que algum dia houve lugar?
Os Frades Menores da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, estão, já há algum tempo, desenvolvendo junto a outras instituições cearenses, o trabalho que visa a promoção e inserção de migrantes e refugiados nos setores da sociedade brasileira. Trata-se da ação social de verificabilidade das urgências e emergências iniciais, mas também a busca de moradia e posteriormente formações e capacitações que visam a inclusão no mercado de trabalho. Durante a pandemia de coronavírus a situação desse público já vulnerável ficou muito mais difícil. Na sua grande maioria trabalhavam na informalidade, em se tratando das mais variadas nacionalidades, mas sobretudo os africanos que também embarcaram para o Brasil com o sonho de estudar e trabalhar, mas perderam suas bolsas de estudo. Muitos destes já são dados referentes a população de rua, outros estão aglomerados em quartinhos esperando ajuda para alimentar-se. Vivem um dia de cada vez, enfrentando a fome e a desnutrição.
Os migrantes e refugiados juntam-se as famílias fortalezenses que também vivem em situações semelhantes, por isso, procuram os franciscanos na esperança de encontrar alimentos para seus filhos. Mesmo diante das restrições, os Frades montaram um esquema de atuação que consiste no cadastro das famílias (via Whatsapp) para verificação do não recebimento que qualquer outro auxílio, e então, contando com as parcerias de amigos as entregas são efetivadas nas residências ou comunidade, visando a não aglomeração de pessoas. Assim, são feitas as listas de prioridades para famílias desassistidas com crianças e idosos, e as entregas efetivadas em tempo ábil.
A rede de assistência dos Frades Menores também conta com as parcerias das irmãs do preciosíssimo sangue de Jesus que atuam no centro comunitário da Paroquia Nossa Senhora das Dores e que acompanham cerca de 30 famílias de crianças e adolescentes que se encontram em vulnerabilidade. Também com as irmãs da congregação das filhas do coração Imaculado de Maria, que em Caucaia, desenvolvem trabalhos sociais de inserção e promoção de cerca de 172 famílias.
Importante mencionar a atuação de irmã Idalina (das irmãs Escalabrinianas) que cuida do setor proteção que corresponde as urgências e emergências iniciais dos imigrantes e Frei Elias que coordena o projeto de gestão laboral. Eles auxiliam no acompanhamento direto, ou seja, nas necessidades básicas de 70 famílias de refugiados e migrantes, mas também de estudantes Africanos que se encontram sem emprego e moradia, estes correspondem a cerca de 120. Tais números diante da crise atual chega no primeiro momento a duplicar e posteriormente a triplicar. A eles juntam-se as famílias das áreas de risco que circundam a paróquia dos franciscanos, o “mercado velho” e o “beco dos pintos” que correspondem a cerca de 200 famílias totalmente desistidas.
Portanto, o que brilhou com mais força nestes últimos dias foi o rosto de Jesus presente na união da sociedade civil na busca por minimizar os efeitos desta crise em solo cearense. Já são cerca de 600 cestas básicas distribuídas com ajuda das empresas parceiras da Gestão Laboral desenvolvida com o objetivo de inserir os migrantes e refugiados no mercado formal de trabalho. Ressaltando o apoio do ECC no mutirão de distribuição das cestas, do MST na doação de alimentos orgânicos para serem partilhados, o programa Mesa Brasil também com a doação de vários gêneros alimentícios, que chegaram à mesa de muitas famílias.
Portanto, a batalha está sendo difícil, principalmente pelo fato da limitação de atuação que visa a não contaminação dos que atuam nas frentes de apoio, mas também na preservação da saúde mental de quem precisa lidar com a miséria que o povo de Deus enfrenta. Sendo assim, não existe outra força que motive senão o Espírito do Senhor que indica o caminho a seguir. Por nossas fragilidades e força iríamos perecer, mas também olhamos o horizonte com esperança no coração, pois sabemos que Ele caminha conosco.
Frei Elias Pereira Gertrudes, OFM – Fortaleza – CE
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