sexta-feira, 15 de maio de 2020

PAPA ENCORAJA A RECONHECER JESUS NO DRAMA DE MIGRANTES E REFUGIADOS





Para o ano de 2020, Francisco escolheu o tema “Forçados, como Jesus Cristo, a fugir”, procurando novamente encorajar o mundo a “acolher, proteger, promover e integrar” as pessoas deslocadas internamente. A mensagem do Pontífice para o 106º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, celebrado em 27 de setembro, foi divulgada nesta sexta-feira (15).
O Papa Francisco, na mensagem divulgada nesta sexta-feira (15), reforça que “o drama dos deslocados dentro da própria nação”, principalmente daqueles “que já vivem em grave estado de pobreza”, é um dos desafios do mundo contemporâneo. Um drama, salienta ele, “muitas vezes invisível, que a crise mundial causada pela pandemia da Covid-19 exacerbou”, devido à “gravidade e extensão geográfica”.
As próprias agendas políticas acabaram “relegando para um plano secundário”, emergências humanitárias como essa, comentou o Papa. A mensagem, assim, é dedicada a todas as pessoas deslocadas internamente, mas também a quem “vive experiências de precariedade, abandono, marginalização e rejeição por causa do vírus da Covid-19”.
Francisco explica, então, que o ponto de partida para a mensagem deste ano foi inspirado na constituição apostólica Exsul Familia (1/VIII/1952), do Papa Pio XII: “na sua fuga para o Egito, o menino Jesus experimenta, juntamente com seus pais, a dramática condição de deslocado e refugiado ‘marcada por medo, incerteza e dificuldades’ (cf. Mt 2, 13-15.19-23)”. Milhões de famílias se reconhecem nessa triste realidade, diz o Papa, “em cada um deles, está presente Jesus, forçado – como no tempo de Herodes – a fugir para Se salvar”.
A importância, então, de reconhecermos Jesus dentro dessa emergência humanitária, afirma Francisco, porque “as pessoas deslocadas nos proporcionam essa oportunidade de encontrar o Senhor, ‘mesmo que os nossos olhos sintam dificuldade em O reconhecer: com as vestes rasgadas, com os pés sujos, com o rosto desfigurado, o corpo chagado, incapaz de falar a nossa língua’ (Francisco, Homilia, 15/II/2019)”.
Esse desafio pastoral pode ser abraçado nas realidades do mundo inteiro ao responder os quatro verbos já indicados pelo Papa em 2018: acolher, proteger, promover e integrar. Junto a eles, então, Francisco acrescenta “seis pares de verbos que traduzem ações muito concretas, interligadas numa relação de causa-efeito”.
É preciso conhecer para compreender, sobretudo para compreender migrantes e deslocados, diz o Papa, que não se resume a números:
“Mas não se trata de números; trata-se de pessoas! Se as encontrarmos, chegaremos a conhecê-las. E conhecendo as suas histórias, conseguiremos compreender. Poderemos compreender, por exemplo, que a precariedade, que estamos dolorosamente experimentando por causa da pandemia, é um elemento constante na vida dos deslocados.”
É necessário aproximar-se para servir, sem receios e preconceitos, adianta o Papa, que acabam nos mantendo afastados dos outros e até impedindo a aproximação. Francisco explica da importância de “estar disposto a correr riscos, como muitos médicos e enfermeiros nos ensinaram nos últimos meses. Aproximar-se para servir vai além do puro sentido do dever”.
Para reconciliar-se é preciso escutar. No-lo ensina o próprio Deus que quis escutar o gemido da humanidade com ouvidos humanos, enviando o seu Filho ao mundo: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, (…) para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 16.17). O amor, que reconcilia e salva, começa pela escuta. No mundo de hoje, multiplicam-se as mensagens, mas vai-se perdendo a atitude de escutar. É somente através da escuta humilde e atenta que podemos chegar verdadeiramente a reconciliar-nos. Durante semanas neste ano de 2020, reinou o silêncio nas nossas ruas; um silêncio dramático e inquietante, mas que nos deu ocasião para ouvir o clamor dos mais vulneráveis, dos deslocados e do nosso planeta gravemente enfermo. E, escutando, temos a oportunidade de nos reconciliar com o próximo, com tantas pessoas descartadas, connosco e com Deus, que nunca Se cansa de nos oferecer a sua misericórdia.
Para crescer é necessário partilhar. A primeira comunidade cristã teve, na partilha, um dos seus elementos basilares: «A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum» (At 4, 32). Deus não queria que os recursos do nosso planeta beneficiassem apenas alguns. Não, o Senhor não queria isso! Devemos aprender a partilhar para crescermos juntos, sem deixar ninguém de fora. A pandemia veio-nos recordar que estamos todos no mesmo barco. O facto de nos depararmos com preocupações e temores comuns demonstrou-nos mais uma vez que ninguém se salva sozinho. Para crescer verdadeiramente, devemos crescer juntos, partilhando o que temos, como aquele rapazito que ofereceu a Jesus cinco pães de cevada e dois peixes (cf. Jo 6, 1-15); e foram suficientes para cinco mil pessoas…
É preciso coenvolver para promover. Efetivamente, assim procedeu Jesus com a mulher samaritana (cf. Jo 4, 1-30). O Senhor aproxima-Se, escuta-a, fala-lhe ao coração, para então a guiar até à verdade e torná-la anunciadora da boa nova: «Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! Não será Ele o Messias?» (4, 29). Por vezes, o ímpeto de servir os outros impede-nos de ver a sua riqueza íntima. Se queremos verdadeiramente promover as pessoas a quem oferecemos ajuda, devemos coenvolvê-las e torná-las protagonistas da sua promoção. A pandemia recordou-nos como é essencial a corresponsabilidade, pois só foi possível enfrentar a crise com a contribuição de todos, mesmo de categorias frequentemente subestimadas. Devemos «encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade» (Francisco, Meditação na Praça de São Pedro, 27/III/2020).
É necessário colaborar para construir. Isto mesmo recomenda o apóstolo Paulo à comunidade de Corinto: «Peço-vos, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estejais todos de acordo e que não haja divisões entre vós; permanecei unidos num mesmo espírito e num mesmo pensamento» (1 Cor 1, 10). A construção do Reino de Deus é um compromisso comum a todos os cristãos e, para isso, é necessário que aprendamos a colaborar, sem nos deixarmos tentar por invejas, discórdias e divisões. No contexto atual, não posso deixar de reiterar que «este não é tempo para egoísmos, pois o desafio que enfrentamos nos une a todos e não faz distinção de pessoas» (Francisco, Mensagem Urbi et Orbi, 12/IV/2020). Para salvaguardar a Casa Comum e torná-la cada vez mais parecida com o plano original de Deus, devemos empenhar-nos em garantir a cooperação internacional, a solidariedade global e o compromisso local, sem deixar ninguém de fora.
Oração
O Papa Francisco conclui a mensagem com uma oração inspirada no exemplo de São José, “particularmente quando foi forçado a fugir para o Egito a fim de salvar o Menino”:
«Pai, confiastes a São José o que tínheis de mais precioso: o Menino Jesus e sua mãe, para os proteger de perigos e ameaças dos malvados.
Concedei-nos, também a nós, a graça de experimentar a sua proteção e ajuda. Tendo ele provado o sofrimento de quem foge por causa do ódio dos poderosos, fazei que possa confortar e proteger todos os irmãos e irmãs que, forçados por guerras, pobreza e carências, deixam a sua casa e a sua terra a fim de se lançarem ao caminho como refugiados rumo a lugares mais seguros.
Ajudai-os, pela sua intercessão, a terem força para prosseguir, conforto na tristeza, coragem na provação.
Dai a quem os recebe um pouco da ternura deste pai justo e sábio, que amou Jesus como um verdadeiro filho e amparou Maria ao longo do caminho.
Ele, que ganhou o pão com o trabalho das suas mãos, possa prover àqueles a quem a vida tudo levou, dando-lhes a dignidade dum trabalho e a serenidade duma casa.
Nós Vo-lo pedimos por Jesus Cristo, vosso Filho, que São José salvou fugindo para o Egito, e por intercessão da Virgem Maria, a quem ele amou como esposo fiel segundo a vossa vontade. Amém.»
Fonte: Vatican News

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