"A
oração dos justos". Este foi o tema da catequese do Papa Francisco na
Audiência Geral desta quarta-feira (27/05). “O desígnio de Deus para a
humanidade é bom, mas em nossa vida cotidiana experimentamos a presença do
mal", disse Francisco.
Mariangela Jaguraba - Cidade do
Vaticano
“A oração dos justos” foi o tema da catequese do Papa Francisco na
Audiência Geral desta quarta-feira (27/05), realizada na Biblioteca do Palácio
Apostólico, por causa da pandemia de coronavírus ainda em andamento.
“O
desígnio de Deus para a humanidade é bom, mas em nossa vida cotidiana
experimentamos a presença do mal. Os
primeiros capítulos do Livro do Gênesis descrevem a expansão
progressiva do pecado nas vicissitudes humanas”, ressaltou o Papa.
O verme da inveja
“Adão e
Eva duvidam das intenções benevolentes de Deus, pensam que têm a ver com uma
divindade invejosa, que impede a sua felicidade. Daí a rebelião: eles não
acreditam mais num Criador generoso, que deseja sua felicidade. O seu coração,
cedendo à tentação do maligno, é tomado por delírios de onipotência: “Se
comermos o fruto da árvore, nos tornaremos como Deus”. E esta é a tentação:
esta é a ambição que entra no coração. Mas a experiência segue na direção
oposta: os seus olhos se abrem e descobrem que estão nus, sem nada. Não se
esqueçam disso: o tentador é um mau pagador, ele paga mal”.
O mal se torna ainda
mais perturbador com a segunda geração humana. É mais forte: é a história de
Caim e Abel. Caim tem inveja de seu irmão: há o verme da inveja. Embora seja o
primogênito, ele vê Abel como um rival, alguém que ameaça a sua primazia. O mal
aparece em seu coração e Caim não consegue dominá-lo. O mal começa a entrar no
coração: os pensamentos são sempre de olhar mal o outro, com suspeita. E isso,
também com o pensamento: “Este é ruim. Me fará mal. E isso vai entrando
no coração. Assim, a história da primeira fraternidade se conclui com um
homicídio. Penso na fraternidade humana: guerras por toda parte.
O resgate da esperança
Segundo o
Papa, “na descendência de Caim, se desenvolvem os trabalhos e as artes, mas se
desenvolve também a violência, expressa pelo cântico sinistro de Lamec, que soa
como um hino de vingança: «Por uma ferida, eu matarei um homem, e por uma
cicatriz matarei um jovem. Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec
valerá por setenta e sete». A
vingança: você fez, você pagará. Mas isso não diz o juiz, digo eu. Torno-me
juiz da situação. Assim, o mal se espalha como uma mancha de óleo, até
ocupar todo o quadro: «O Senhor viu que a maldade do homem crescia na terra e
que todo projeto do coração humano era sempre mau». Os grandes afrescos do
dilúvio universal e da torre de Babel revelam a necessidade de um novo início,
assim como de uma nova criação que terá sua realização em Jesus Cristo”.
No
entanto, nessas primeiras páginas da Bíblia, está escrita também outra
história, menos evidente, muito mais humilde e devota, que representa o resgate
da esperança. Mesmo que quase todos se comportem de maneira brutal, fazendo do
ódio e da conquista o grande motor das vicissitudes humanas, existem pessoas capazes
de rezar a Deus com sinceridade, capazes de escrever o destino do homem de uma
maneira diferente.
A oração autêntica liberta dos instintos
de violência
E o Papa
citou como exemplo Abel, que oferece a Deus um sacrifício de primícias. Depois
da sua morte, Adão e Eva tiveram um terceiro filho, Set, de quem nasceu Enós,
que significa mortal. Depois aparece Henoc, personagem que “caminha com Deus”,
arrebatado por Deus. Por fim, Noé, um homem justo que “caminhava com Deus”,
diante do qual Deus detém seu propósito de cancelar a humanidade. E Francisco
acrescentou:
Lendo essas
histórias, tem-se a impressão de que a oração seja ao mesmo tempo um escudo,
seja um refúgio do homem diante da onda do mal que cresce no mundo. Nós também
rezamos para ser salvos de nós mesmos. É importante. Rezar: “Senhor, por favor,
salva-me de mim mesmo, das minhas ambições, das minhas paixões. Salva-me de mim
mesmo”. As pessoas que rezam nas primeiras páginas da Bíblia são homens
promotores de paz: na verdade, a oração, quando é autêntica, liberta dos
instintos de violência e tem um olhar voltado para Deus, para que Ele volte a
cuidar do coração do homem.
“Esta
qualidade da oração é vivida por uma multidão de justos em todas as religiões”,
disse ainda o Pontífice, citando o Catecismo da Igreja Católica. “A
oração cultiva canteiros de renascimentos em lugares em que o ódio do homem só
foi capaz de ampliar o deserto. A oração é poderosa, porque atrai o poder de
Deus e o poder de Deus sempre dá vida: sempre. Ele é o Deus da vida e faz
renascer”, frisou o Papa.
A oração é sempre uma corrente de vida
Segundo
Francisco, “o senhorio de Deus passa pela corrente desses homens e mulheres,
muitas vezes incompreendidos ou marginalizados no mundo. Mas o mundo vive e
cresce graças à força de Deus que esses seus servidores atraem com a sua
oração. São uma corrente que não é barulhenta, que raramente sai nas manchetes,
mas é muito importante para restabelecer a confiança no mundo”.
E o Papa contou uma
história: “Lembro-me da história de um homem: um chefe de governo,
importante, não desse tempo, de tempos passados. Ateu. Ele não tinha senso
religioso em seu coração. Mas quando criança, ouvia a avó que rezava, e isso
permaneceu em seu coração. Num momento difícil de sua vida, aquela lembrança
voltou ao seu coração e disse: “Mas a avó rezava...”. Ele começou a rezar com
as coisas que sua avó dizia e ali encontrou Jesus. A oração é sempre uma corrente
de vida, sempre. Muitos homens e mulheres que rezam, rezam, semeiam vida. A
oração semeia vida. A pequena oração... Por isso que é importante ensinar as
crianças a rezar. Me dói quando encontro crianças e “faço o sinal da
cruz”, e elas fazem assim, fazem um gesto: não sabem fazê-lo. Ensine as
crianças a fazerem bem o sinal da cruz: é a primeira oração. Que
as crianças aprendam a rezar. Depois, talvez, elas se esqueçam, sigam outro
caminho; mas isso permanece no coração, porque é uma semente de vida, a semente
do diálogo com Deus”.
Francisco
concluiu a sua catequese, afirmando que o caminho de Deus na história de Deus é
transitado por essas pessoas. “Passou por um “resto” da humanidade que não se
conformou com a lei do mais forte, mas pediu a Deus para realizar os seus
milagres e transformar o nosso coração de pedra em coração de carne. E isso
ajuda a oração: porque
a oração abre a porta para Deus, para que transforme o nosso coração muitas
vezes de pedra, num coração humano. É preciso muita humanidade,
e com a humanidade se reza bem”.
Fonte: Vatican News
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