Na
Missa desta quinta-feira (23/04) na Casa Santa Marta, no Vaticano, Francisco
voltou seu pensamento às muitas famílias em crise por causa do novo
coronavírus, colocadas em dificuldade maior ainda por aqueles que se aproveitam
desta situação de necessidade. Na homilia, o Papa recordou que Jesus intercede
por nós diante do Pai mostrando suas chagas, preço da nossa salvação: devemos
ter mais confiança na oração de Jesus do que em nossas orações
VATICAN NEWS
Francisco presidiu a Missa na Casa
Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta quinta-feira (23/04) da II Semana do
Tempo Pascal. Na introdução, dirigiu seu pensamento às famílias em dificuldade
neste tempo de pandemia:
Em muitos lugares se sente um dos
efeitos desta pandemia: muitas famílias em situação de necessidade, passam
fome, e, infelizmente, são ajudadas pelos agiotas. Esta é outra pandemia. A
pandemia social: famílias de diaristas ou, infelizmente, de pessoas que têm um
trabalho irregular que não podem trabalhar e não têm o que comer… com filhos. E
depois os agiotas tomam deles o pouco que têm. Rezemos. Rezemos por estas
famílias, pelas muitas crianças destas famílias, pela dignidade destas famílias
e rezemos também pelos agiotas: que o Senhor toque o coração deles e se
convertam.
Na homilia, o Papa comentou a
passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos (At 5,27-33) em
que Pedro, diante das repreensões e das ameaças do sumo sacerdote que quer
proibi-los de ensinar ao povo, responde que é preciso obedecer a Deus, antes
que aos homens e anuncia abertamente diante de todos a ressurreição de Jesus, o
Salvador, que os chefes religiosos mataram. A coragem de Pedro, que era um
fraco – afirmou Francisco –, vem da oração de Jesus por ele, para que sua fé
não vacilasse. Jesus ora por Pedro. E Jesus ora também por nós diante do Pai
mostrando suas chagas, preço da nossa salvação. Jesus é o intercessor: devemos
ter mais confiança na oração de Jesus – concluiu o Papa – do que em nossas
orações. A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:
A primeira leitura continua a
história que tinha se iniciado com a cura do coxo diante da Porta Bela do
Templo. Os apóstolos foram levados ao Sinédrio, depois foram encarcerados,
depois um anjo os libertou. E esta manhã, propriamente naquela manhã, deviam
sair do cárcere para ser julgados, mas tinham sido libertados pelo anjo e
pregavam no Templo. “Naqueles dias, eles levaram os apóstolos e os apresentaram
ao Sinédrio. O sumo sacerdote começou a interrogá-los, dizendo: 'Nós tínhamos
proibido expressamente que vós ensinásseis neste nome – isto é, no nome de
Jesus. Apesar disso, enchestes a cidade de Jerusalém com a vossa doutrina. E
ainda nos quereis tornar responsáveis pela morte desse homem!'”, porque os
apóstolos, Pedro sobretudo, repreendia; Pedro e João repreendiam os dirigentes,
os sacerdotes, por terem matado Jesus.
E então Pedro respondeu junto com os
apóstolos com esta história: “É preciso obedecer a Deus, nós somos obedientes a
Deus e vós sois os culpados disto”. E acusa, mas com uma coragem, com uma
franqueza, que a pessoa se pergunta: “Mas este é o Pedro que renegou Jesus?
Aquele Pedro que tinha tanto medo, aquele Pedro que era até mesmo um covarde?
Como é possível que tenha chegado a este ponto?” E acaba inclusive dizendo: “E
disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que
lhe obedecem”. Qual foi o caminho deste Pedro para chegar a este ponto, a esta
coragem, a esta franqueza, a expor-se? Porque ele podia chegar a um acordo e
dizer aos sacerdotes: “Estejais tranquilos, nós iremos, falaremos um pouco a
baixa voz, não mais vos acusaremos em público, mas deveis deixar-nos em paz…, e
chegar a um acordo.
Na história, a Igreja teve que fazer
isso muitas vezes para salvar o povo de Deus. E muitas vezes, também o fez para
salvar a si mesma – mas não a Santa Igreja! – até os dirigentes. Os acordos
podem ser bons e podem ser ruins. Mas eles poderiam abandonar o acordo? Não.
Pedro disse: “Nada de acordo. Vós sois os culpados”, e com esta coragem.
E como Pedro chegou a este ponto?
Porque era um homem entusiasta, um homem que amava com intensidade, também um
homem temeroso, um homem que era aberto a Deus a ponto que Deus lhe revela que
Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, mas pouco depois – logo depois – se deixa
cair na tentação de dizer a Jesus: “Não, Senhor, por este caminho não: vamos
por outro”. A redenção sem a Cruz. E Jesus lhe diz: “Satanás”. Um Pedro que
passava da tentação à graça, um Pedro que é capaz de ajoelhar-se diante de
Jesus (e dizer): “Afasta-te de mim que sou pecador”, e depois um Pedro que
busca safar-se sem mostrar-se e, para não acabar preso, renega Jesus. É um
Pedro instável, mas porque era muito generoso e também muito fraco. Qual é o
segredo, qual foi a força que Pedro teve para chegar aqui? Há um versículo que
nos ajudará a entender isso. Antes da Paixão, Jesus disse aos apóstolos:
“Satanás vos procurou para ceifar-vos como o trigo”. É o momento da tentação:
“Sereis assim, como o trigo”. E diz a Pedro: “E eu orarei por ti, para que a
tua fé não vacile”. Este é o segredo de Pedro: a oração de Jesus. Jesus ora por
Pedro, para que a sua fé não vacile e possa – diz Jesus – confirmar os irmãos
na fé. Jesus ora por Pedro.
E isso que Jesus fez com Pedro, faz
com todos nós. Jesus ora por nós; ora diante do Pai. Nós somos habituados a
pedir a Jesus que nos dê essa graça, aquela graça, nos ajude, mas não somos
habituados a contemplar Jesus que mostra as chagas ao Pai, a Jesus, o
intercessor, a Jesus que ora por nós. E Pedro foi capaz de fazer todo esse
caminho de covarde a corajoso com o dom do Espírito Santo graças à oração de
Jesus.
Pensemos um pouco nisso. Dirijamo-nos
a Jesus, agradecendo por Ele orar por nós. Jesus ora por cada um de nós. Jesus
é o intercessor. Jesus quis levar consigo as chagas para mostrá-las ao Pai. É o
preço da nossa salvação. Devemos ter mais confiança; mais do que em nossas
orações, na oração de Jesus. “Senhor, orai por mim” – “Mas eu sou Deus, eu
posso conceder-vos…” – “Sim, mas orai por mim, porque Vós sois o intercessor”.
E este é o segredo de Pedro: “Pedro, eu orarei por ti para que tua fé não
vacile”.
Que o Senhor nos ensine a pedir-Lhe a
graça de orar por cada um de nós.
O Santo Padre terminou a celebração
com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão
espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:
Aos vossos pés, ó meu Jesus, me
prostro e vos ofereço o arrependimento do meu coração contrito que mergulha no
seu nada na Vossa santa presença. Eu vos adoro no Sacramento do vosso amor (a
Eucaristia). Desejo receber-vos na pobre morada que meu coração vos oferece; à
espera da felicidade da comunhão sacramental, quero possuir-vos em Espírito.
Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a vós. Que o vosso amor possa inflamar
todo o meu ser, para a vida e para a morte. Creio em vós, espero em vós.
Amo-vos. Assim seja.
Antes de deixar a Capela dedicada ao
Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”,
cantada no tempo pascal:
Rainha dos céus, alegrai-vos.
Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer
em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem
Maria. Aleluia!
C./
Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!
Fonte: Vatican News
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