Para os que amam e confiam no Senhor ressuscitado, é bom saber que o verdadeiro amor é concreto nos sublimes e edificantes gestos dos amigos de Cristo, Senhor da vida e da história. Esse amor é vivido lá dentro, no íntimo do coração, e depois externado em ações e boas obras, as quais serão recompensadas largamente. Cabe acreditar, realmente – mesmo no paradoxo do mundo –, diante das dúvidas e do medo, hoje, com milhares de irmãos já mortos, que corpos sem vida são entregues aos vermes, no contexto da pandemia da Covid-19. Voltemo-nos para o mistério inexprimível da Páscoa, ao qual somos convidados a professar nossa fé, na certeza de que o nosso Deus é justo e cheio de compaixão.
Nossa espiritualidade será genuinamente cristã quando o compromisso com o ressuscitado for o de ultrapassar as barreiras e os obscuros sinais a nos perseguir, como nos assegura Dom Helder: “Quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes”. Para os seguidores de Jesus de Nazaré, está a urgência maior – de acolher estes sinais –, convictos de que Deus quer nos mostrar as portas da eternidade, não num mundo restaurado já aqui, como se fosse a imortalidade terrestre, mas que estejam esperançosos de que essa realidade tem seu início na terra, e que o destino dos seres humanos encontra-se no futuro, na plenitude da glória.
O que deve importar mesmo, nas travessias do nosso mundo real, é a vida como algo incontestável, quando a humanidade é provada, no sentido de não só dar passos, mas encontrar caminhos, valendo-se também dos horrores e das humilhações de milhões de seres humanos, os empobrecidos e vulneráveis, oferecendo-lhes um pouco de dignidade de filhos de Deus, no esforço pela convivência da partilha solidária.
O Papa Francisco nos ajuda na compreensão de que “a verdadeira paz e o verdadeiro equilíbrio interior jorram da paz de Cristo, não sendo apenas calma e harmonia”. Sendo assim, a criatura humana não deve viver de aparência, mas ser convidada a rever seu procedimento, refazer sua vida, na atual realidade de morte, num constante esforço de ultrapassar desafios, em meio às valentes e bravas marés a bater em nossa porta.
Pensemos, pois, sincera e solidariamente, no supramencionado, aproximando-nos da cruz pesada de muitos irmãos e irmãs, sem nos distanciar, nem nos fecharmos no nosso eu, insensíveis perante a dor humana. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, Blogueiro, Escritor e integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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