sexta-feira, 27 de março de 2020

ARCEBISPO DE PORTO VELHO ALERTA PARA INDIFERENÇA DO GOVERNO DIANTE DOS POVOS INDÍGENAS


Arcebispo de Porto Velho alerta para indiferença do governo diante dos povos indígenas
Diante da situação do avanço do novo coronavírus, o Conselho Indigenista Missionário, o Cimi, decidiu recomendar, por meio de uma nota, a todos os seus missionários os cuidados necessários no que diz respeito ao contato com os indígenas. Entre as medidas, o organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), expõe que é preciso evitar visitas a aldeias e cancelar encontros e reuniões que possam expor indígenas e suas comunidades à contaminação.
Estes cuidados, segundo a nota, buscam contribuir para a preservação da saúde dos povos indígenas e decorrem da responsabilidade assumida pelo Cimi junto aos povos, levando em consideração a vulnerabilidade, sobretudo, das populações indígenas recém contatadas e sem contato.
Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO) e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
Em entrevista ao portal da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o arcebispo de Porto Velho (RO) e presidente do Cimi, dom Roque Paloschi, disse que a tendência é que as comunidades sejam obrigadas a sair de seus territórios, por falta de assistência do governo. “O Cimi tem essa preocupação, pois o governo aproveita a situação para retirar toda a assistência das comunidades, que já é uma assistência precária, com tantas lacunas, e aí o caos vai se estabelecendo”, critica.
Dom Roque salientou que as ações que vem sendo tomadas por parte do governo junto aos povos indígenas são tímidas: “É como se nada tivesse acontecendo, ou seja, na indiferença diante da realidade dos povos indígenas”. O arcebispo afirma, ainda, que os próprios povos têm tomado iniciativas, mas que isto não é o suficiente.
Dados apontam que doenças respiratórias já são a principal causa de morte entre as populações nativas brasileiras. Em 2018, segundo o Ministério da Saúde, doenças infecciosas e parasitárias – tipos de enfermidades considerados evitáveis – foram responsáveis por 7,2% das mortes ocorridas entre indígenas, ante uma média nacional de 4,5%. Entre crianças indígenas com menos de um ano, doenças respiratórias foram responsáveis por 22,6% das mortes registradas em 2019, índice só inferior ao de mortes causadas por problemas no período perinatal (24,5%).
No atual cenário, de pandemia, as preocupações com os povos indígenas aumentam. Dom Roque contou que o Cimi tem recebido muitos pedidos de ajudas em várias partes do Brasil. No Estado do Mato Grosso do Sul, por exemplo, o arcebispo disse que estão sendo negadas coisas básicas e que isso tudo levava a uma situação de desespero. “É urgente que o governo através da Funai, da Saúde Índígena tomem medidas de atenção aos povos indígenas na área da saúde, assistência, com recursos humanos e econômicos, de infraestrutura”, chama atenção o arcebispo.
Crédito da foto: Kamikia Kisedje/Cobertura Colaborativa
Crédito da foto: Kamikia Kisedje/Cobertura Colaborativa
Dom Roque reiterou que se essa situação não for levada imediatamente em consideração, os povos indígenas correriam o risco de serem obrigados a saírem dos seus territórios em busca de assistência. “E aí nós sabemos o que pode acontecer!”, sublinhou. Em meio ao caos, ele agradeceu a generosidade de pessoas, comunidades e grupos que tem procurado ajudar naquilo que é possível às comunidades indígenas.
Cimi critica Funai
No dia 20 de março, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) já havia criticado as medidas temporárias de prevenção à pandemia adotas pela Fundação Nacional do Índio, a Funai. A portaria de número 419/PRES, da Fundação, em seu artigo 4º suspende todas as atividades que “impliquem em contato com comunidades indígenas isolados”. No entanto, em seguida, o parágrafo único abre uma exceção: “caso a atividade seja essencial à sobrevivência do grupo isolado, deve ser autorizada pela CR por ato justificado”.
A medida causou “perplexidade e repulsa” no Cimi, pela possibilidade, colocada pelo órgão indigenista oficial, de haver o contato com povos isolados justamente nesta situação em que a população mundial e nacional está sendo convocada a ficar em isolamento, diante da gravidade e letalidade da doença covid-19.
“Os povos indígenas são considerados grupos vulneráveis e de risco diante de uma pandemia de proporções alarmantes. Os grupos indígenas isolados são contemplados por uma política própria dentro do órgão indigenista, e a relevância de sua proteção segue os preceitos garantidos pela Constituição Federal de 1988”, destacou em nota o Cimi.
Nesse período de profunda crise de saúde pública, o Cimi reiterou que não pode-se permitir que outros interesses sejam facilitados para adentrar os territórios, colocando em risco de vida toda a população indígena. “Nos somamos a outras instituições na recomendação e exigência da retirada de toda e qualquer possibilidade de entrada nos territórios dos povos isolados e de contato com essas populações, como concebe a portaria 419/PRES, de 17 de março de 2020, no seu artigo 4º”, disse o organismo da CNBB.
Fonte: CNBB

Nenhum comentário: