Francisco disse ainda que a
Quaresma "é o tempo de renunciar a palavras inúteis, conversinhas,
fofocas, mexericos e se aproximar do Senhor. É o tempo de se dedicar a uma
ecologia saudável do coração, fazer uma limpeza nele".
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano
“Quaresma, entrar no deserto.” Este foi o tema da catequese do
Papa Francisco na Audiência Geral desta Quarta-feira de Cinzas (26/02), na
Praça São Pedro.
“Hoje, iniciamos o caminho quaresmal, caminho de quarenta dias
em direção à Páscoa, rumo ao coração do ano litúrgico e da fé”, sublinhou
Francisco. “É um caminho que segue o de Jesus, que no início de seu ministério
se retirou por quarenta dias para rezar e jejuar, tentado pelo diabo, no
deserto.”
O deserto é o lugar
da Palavra de Deus
A seguir, o Papa se deteve no “significado espiritual do
deserto, o que significa espiritualmente o deserto para todos nós, também para
nós que vivemos na cidade” e convidou os fiéis a imaginarem de estar num
deserto. “A primeira sensação seria de estar envolvidos num grande silêncio:
sem barulho, a não ser do vento e da nossa respiração”, disse ele.
O deserto é o lugar
em que se toma distância do barulho que nos circunda. É ausência de palavras
para dar espaço a outra Palavra, a Palavra de Deus, que acaricia o nosso
coração como a brisa suave. O deserto é o lugar da Palavra, com letra
maiúscula. Na Bíblia, o Senhor gosta de conversar conosco no deserto. No
deserto, ele entrega a Moisés as “dez palavras", os dez mandamentos. E
quando o povo se afasta Dele, tornando-se como uma noiva infiel, Deus diz: «Vou
levá-la ao deserto e conquistar seu coração. Lá me responderá, como nos dias de
sua juventude». No deserto, se ouve a Palavra de Deus, que é como um som suave.
Quaresma, tempo de se desligar do
celular e abrir a Bíblia
“No deserto,
encontra-se a intimidade com Deus, o amor do Senhor. Jesus gostava de
retirar-se todos os dias para lugares desertos para rezar. Ele nos ensinou a
procurar o Pai, que nos fala no silêncio”, disse ainda Francisco,
acrescentando:
“A
Quaresma é o tempo propício para abrir espaço à Palavra de Deus. É o tempo para
desligar a televisão e abrir a Bíblia. É o tempo para se desligar do telefone
celular e se conectar com o Evangelho. É o tempo de renunciar a palavras
inúteis, conversinhas, fofocas, mexericos e se aproximar do Senhor. É o tempo
de se dedicar a uma ecologia saudável do coração, fazer uma limpeza nele.
Vivemos num ambiente poluído por muita violência verbal, por muitas palavras
ofensivas e nocivas, que a rede amplifica.”
"Hoje, se
insulta como se dissesse “Bom dia”. Somos submergidos de palavras vazias,
publicidades e anúncios falsos. Nos acostumamos a ouvir tudo sobre todos e
corremos o risco de cair num mundanismo que atrofia os nossos corações. Custamos para
distinguir a voz do Senhor que nos fala, a voz da consciência, do bem. Jesus,
chamando-nos no deserto, nos convida a prestar atenção no que interessa, no que
é importante, no essencial."
O deserto é o lugar essencial
Ao diabo
que o tentou, Jesus respondeu: “O homem não viverá somente de pão, mas de toda
palavra que sai da boca de Deus”. “Mais que o pão, precisamos da Palavra de
Deus, precisamos falar com Deus: rezar”, disse ainda o Papa.
“O deserto é o lugar
do essencial. Olhemos para as nossas vidas: quantas coisas inúteis nos
circundam. Seguimos mil coisas que parecem necessárias, mas na realidade não
são.
Nos fará bem nos libertar de muitas realidades supérfluas a fim de redescobrir
o que interessa e reencontrar o rosto de quem está ao nosso lado.” E sobre
isso, Jesus nos dá o exemplo, jejuando. “Jejuar é saber renunciar às
coisas vãs, supérfluas, para ir ao essencial. Jejuar não é apenas para
emagrecer, jejuar é ir ao essencial, é buscar a beleza de uma vida mais
simples”, sublinhou Francisco.
O deserto é o lugar da solidão
Por fim, o
Papa disse que o
deserto “é o lugar da solidão”. "Ainda hoje, perto de nós,
existem muitos desertos, muitas pessoas sozinhas. São pessoas sós e
abandonadas".
“Quantos
pobres e idosos estão ao nosso lado e vivem em silêncio, sem fazer barulho,
marginalizados e descartados!”
"Falar
sobre eles não faz audiência. Mas o deserto nos leva a eles, àqueles que, em
silêncio, pedem a nossa ajuda. Muitos olhares silenciosos que pedem a nossa
ajuda. O
caminho no deserto quaresmal é um caminho da caridade para com os vulneráveis.
Oração, jejum e obras de caridade: eis o caminho no deserto quaresmal”,
concluiu o Papa.
Fonte: Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário