As cinzas colocadas em nossas cabeças são um sinal claro a nos penitenciar durante a Quaresma, no sentido de que viemos do pó e ao pó voltaremos. Evidentemente, não somos restringidos ao pó, mas somos um povo da esperança, salvo pela cruz e ressurreição de Jesus. As flores, que tanto sinalizam e representam para os olhos humanos o que a natureza – na sua dádiva – desenvolveu e aprimorou, devem cessar na Liturgia da Quaresma. Cessam, associadas ao que temos de mais encantador, agradável, elevado, harmônico e sedutor, no que existe de belo, alegre e perfeito, para voltar na Páscoa do Senhor.
Elas ajudam a render graças a Deus, infinitamente grandes, muito além da nossa capacidade de imaginar. Ajudam a pensar num Deus perto de nós, em Jesus de Nazaré, sempre a contar conosco, mesmo sendo nós criaturas passivas e lentas. Ele quer realizar maravilhas em nossa vida, indicando-nos total abertura, sendo a porta sempre aberta que, de esperança em esperança, não cessa com seu enfático convite, permanente no duelo da vida que se depara com a morte. Ele também nos convence de colocar todas as nossas forças em favor de um mundo melhor, a nos assegurar a partir do sentido da superioridade: “Que eu aprenda, afinal, com a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando em primeiro plano apenas o mistério da Redenção”.
A compreensão das flores, que embora tenham que murchar, nos faz pensar metaforicamente no mistério da paixão de Jesus, nós que fomos criados para apreciar e valorizar sua beleza, não dentro de um sentimento de que estamos envolvidos em tristeza e prejudicados nos limites precários e transitórios da vida, mas tal tristeza não significa desespero, e, sim, nosso amor pela vida, num lúcido discernimento, a ponto de se dar um profundo mergulho nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, na abertura do nosso coração, agora por ocasião da Quaresma.
Eis o nosso desafio: de viver o Evangelho de Jesus no convite à conversão do coração, na alegre redescoberta da verdadeira flor, ao mergulhar no espírito enriquecedor deste tempo precioso, fortalecendo-nos no combate contra o espírito do mal, também a estimular nossas ações por uma Igreja em saída, inclusiva e solidária, como no lema da Campanha da Fraternidade de 2020: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc, 10, 33-34). Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, Blogueiro, Escritor e integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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