Em
um tuíte, Francisco convida a crer que o outro tem a nossa mesma necessidade de
paz. Dom Shlemon Warduni, bispo auxiliar de Bagdá, exprime a preocupação do
povo iraquiano e da comunidade cristã com a tensão entre os Estados Unidos e o
Irã. Protesto de Teerã à ONU. Trump: EUA prontos para qualquer resposta.
Marco Guerra, Silvonei José - Cidade
do Vaticano
"Devemos acreditar que o outro
tem a nossa mesma necessidade de paz. Não se obtém a paz se não se espera por
ela. Peçamos ao Senhor o dom da paz!": este é o tuíte lançado
neste sábado pelo Papa Francisco na conta @Pontifex.
Novos ataques, negações e
confirmações
Entretanto, a escalada de tensão
entre os EUA e o Irã, que corre o risco de inflamar o Oriente Médio, não
diminui. Segundo alguns meios de comunicação social, na última noite, ao norte
de Bagdá, um novo ataque aéreo estadunidense atingiu o comandante do grupo
paramilitar pró-iraniano Hashed Al Shaabi. A notícia foi desmentida pela
coalizão internacional anti-Isis liderada pelos EUA, mas as forças de
mobilização popular confirmaram o ataque, relatando que as vítimas são médicos
próximos ao grupo e que nenhum membro da milícia foi morto.
O funeral de Soleimani
A capital iraquiana na manhã deste
sábado foi palco do cortejo fúnebre do general iraniano Soleimani que desfilou
pelas ruas do distrito de Kazimiya, onde existe um santuário xiita. Milhares de
pessoas participaram, muitas delas gritando slogans contra os EUA. No final, um
funeral nacional oficial foi realizado na área verde de Bagdá na presença de
muitos líderes iraquianos, incluindo o primeiro-ministro iraquiano Adil
Abdul-Mahdi.
Trump: Soleimani planejava ataques
Ao mesmo tempo, enquanto todas as
diplomacias pedem moderação, registrou-se o protesto oficial à ONU do Irã e a
firmeza do presidente estadunidense Trump, que alega as razões da operação e
mantém a pressão sobre todos os ambientes ligados ao governo de Teerã. Trump
afirma que Soleimani estava planejando ataques iminentes e que não foi morto
para uma mudança de regime ou para iniciar uma guerra, embora os Estados Unidos
estejam prontos para qualquer resposta que seja necessária.
Operação anti-Isis redimensionada
Os oficiais da Defesa dos EUA
anunciaram que 3.500 soldados adicionais serão enviados ao Oriente Médio.
Tropas serão enviadas ao Iraque, Kuwait, Líbano em resposta às ameaças de
vingança dos ambientes xiitas. As fontes da Defesa dos EUA também anunciaram
que a coalizão anti-Isis no Iraque vai reduzir suas operações por "razões
de segurança". Uma linha de prudência também por parte da OTAN, que
suspenderá as missões de treinamento no Iraque.
Irã protesta junto à ONU
Por outro lado, sobre retaliação
contra os responsáveis pelo ataque, falou o líder espiritual supremo Ali
Khamenei, que proclamou três dias de luto nacional. Tons fortes também por
parte do presidente iraniano, Hassan Rohani, que declarou que "o sangue do
mártir Soleimani será vingado no dia em que virmos a mão maligna dos EUA ser
cortada para sempre da região". E os protestos do Irã chegam à ONU com uma
carta que fala de uma grave violação do direito internacional e de "terrorismo
de Estado".
Warduni: o mundo reze pela paz
Mas como vive este momento a
população iraquiana e, em particular, a comunidade cristã do país? Foi o que
pedimos a dom Shlemon Warduni, bispo auxiliar de Bagdá:
R. - É um momento crítico,
muito difícil, porque a nossa religião é a paz: "Eu vos dou a paz, não
como a dá o mundo". Em vez disso, o mundo de hoje quer apenas interesses
pessoais, quer apenas "a matéria", quer apenas ocupar aqui e ali
porque nestes últimos dois meses duas ou três nações quiseram ocupar outras
nações. É uma coisa terrível e por isso os nossos iraquianos estão em grandes
dificuldades, eles sofrem tanto. Este é o apostolado do Santo Padre: semear a
paz no mundo. E ele tira isso do Evangelho de Jesus porque ele, Cristo, nos diz
"amai-vos uns aos outros". Portanto, pedimos ao mundo inteiro para
fazer a paz, para ajudar verdadeiramente a semear a paz, sem interesses
pessoais.
Como é que o povo iraquiano está
vivendo estas horas? Também a comunidade cristã está preocupada com esta nova
escalada de violência ...
R. - Certamente: todos têm medo de
que estamos indo ao encontro da guerra e isso seria uma coisa terrível, porque
a família iraquiana já está espalhada por todo o mundo: um filho neste país, um
filho em outro país e assim por diante. Não temos paz, é por isso que só
queremos paz e tranquilidade. Esperemos que seja isso que os chefes de Estado
façam, porque o mundo inteiro está de cabeça para baixo: em vez de semear a
paz, semeia-se o ódio. Agradecemos ao Santo Padre, mas pedimos ao mundo inteiro
que reze, que volte a Deus: isto é o mais importante, porque afastando-se de
Deus, todo o mal possível é feito. Por isso, pedimos a todos vocês, pedimos que
rezem pela paz.
No delicado mosaico iraquiano é
preciso fazer conviver todas as confissões religiosas. Este ataque prejudica os
esforços de coexistência? É possível uma paz duradoura?
R. - Uma paz duradoura e
forte é possível? Eu não sei. Porque quando há interesses pessoais, quando o
Senhor nos disse claramente durante dois mil anos que não podemos servir a
riqueza (Mammona) e a Deus ao mesmo tempo: ou Deus ou a riqueza. É assim que as
coisas estão. A maioria quer dinheiro. Onde está o mundo, onde está? Suplicamos
ao mundo inteiro que reze pela paz, para ajudar a semear a paz.
Fonte:
Vatican News
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