“O Compromisso de Bissau pela Paz, a Fraternidade Humana e a Vida em Comum no Espaço Lusófono, que aqui afirmamos, é manifestação da nossa vontade de continuar a aprofundar a reflexão e o diálogo e a desenvolver parcerias e ações conjuntas nos países lusófonos. Estendemos o convite a todos os que se revejam neste compromisso, para que nos associemos no desenvolvimento desta missão”.
O trecho é da carta-compromisso pela Paz, pela Fraternidade Humana e a Vida em Comum no Espaço Lusófono, redigida durante o XIV Encontro dos Bispos dos Países Lusófonos, realizado em Guiné-Bissau, entre os dias 16 e 21 de janeiro. Estiveram presentes bispos e representantes das Conferências Episcopais de Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Portugal e São Tomé e Príncipe. Da parte da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), participou o bispo de Cornélio Procópio (PR) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da CNBB, dom Manoel João Francisco.
O encontro deste ano teve como tema “O Diálogo Inter-Religioso na Construção da Paz e do Desenvolvimento nos Países Lusófonos”. Além desta temática principal, também foram abordadas questões como a proteção de menores e pessoas vulneráveis e a Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá em Portugal em 2022. O programa incluiu ainda uma visita ao Presidente da República da Guiné-Bissau e vários encontros com outras entidades nacionais.
Na carta-compromisso divulgada nesta segunda-feira, 20 de janeiro, os bispos dos países de Língua Portuguesa afirmaram que “vivemos um tempo de grande crise”, no qual “a ameaça à família, a relativização dos valores e as alterações climáticas” colocam em risco a sobrevivência da família humana. Para os bispos, é “urgente a revisão e transformação dos modos de vida”, a nível global, e que estão nas relações humanas – entre pessoas e entre comunidades, e as estruturas sociais e políticas – “todas as formas de desequilíbrio, de abuso e de violência”.
Os participantes indicam, neste sentido, que “juntamente com outros grupos religiosos, cristãos e muçulmanos podem e devem melhorar o seu envolvimento uns com os outros, começando na reflexão sobre valores compartilhados, desenvolvendo confiança, partilhando preocupações comuns e aprofundando o diálogo nas suas múltiplas possibilidades em conteúdo e forma: diálogo de oração e espiritualidade, diálogo de justiça social, ecologia integral e direitos humanos, diálogo de convivência na hospitalidade mútua”.
Confira o texto na íntegra:
XIV Encontro dos Bispos dos Países Lusófonos
Guiné-Bissau, 16-21 de janeiro de 2020Compromisso pela Paz, pela Fraternidade Humana e a Vida em Comum no Espaço LusófonoNós Bispos de Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Portugal e São Tomé e Príncipe, reunidos no XIV Encontro dos Bispos dos Países Lusófonos na Guiné-Bissau sobre o tema “O diálogo inter-religioso como promotor da paz e do desenvolvimento”, queremos afirmar que “a fé em Deus une e não separa, aproxima na diferença, afasta da violência e do ódio” (Mensagem do Papa Francisco por ocasião da viagem apostólica aos Emirados Árabes).“Ide em paz e o Senhor vos acompanhe”, é a bênção que recebemos no final da Santa Missa. Pela graça de Deus, queremos mesmo ir em paz. Mas como há de ser isto, depois de passarmos a porta desta catedral? Como viver, de facto, esta esperança e esta promessa, aqui em Bissau, nos países lusófonos que representamos e por esse mundo fora?Vivemos um tempo de grande crise. A ameaça à família, a relativização dos valores e as alterações climáticas ameaçam a sobrevivência da família humana. A nível global, é urgente a revisão e transformação dos modos de vida. As relações humanas, entre pessoas e entre comunidades, e as estruturas sociais e políticas que construímos estão sob observação. Não é afinal aí que todas as formas de desequilíbrio, de abuso e de violência têm lugar, dirigindo-nos neste caminho insustentável? Face à crise, todos buscamos um sentido de vida; muitos recorrem à fé para encontrar sinais concretos de esperança. Milhões de pessoas, e muito particularmente os jovens, põem os seus olhos nos líderes religiosos em busca de sinais, ideias e ações que façam a diferença, que ajudem na construção de uma sociedade mais justa, mais pacífica e mais sustentável, um mundo em que a fé em Deus tenha o rosto da fraternidade humana.No início do ano passado, em Abu Dhabi, o Papa Francisco e o Grande Imã da Fé Muçulmana de Al-Azhar, Ahmed el-Tayeb, assinaram uma Declaração sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Vida em Comum. Esta declaração convida “todas as pessoas, que trazem no coração a fé em Deus e a fé na fraternidade humana, a unir-se e trabalhar em conjunto, de modo que tal documento se torne para as novas gerações um guia rumo à cultura do respeito mútuo, na compreensão da grande graça divina que torna irmãos todos os seres humanos”. A declaração afirma, entre outras coisas, que o diálogo, a compreensão e a promoção de uma cultura de tolerância e aceitação dos outros e de convivência pacífica contribuiriam significativamente para reduzir muitos problemas econômicos, sociais, políticos e ambientais, que muito pesam sobre grande parte da humanidade, em particular os mais vulneráveis.Juntamente com outros grupos religiosos, cristãos e muçulmanos podem e devem melhorar o seu envolvimento uns com os outros, começando na reflexão sobre valores compartilhados, desenvolvendo confiança, partilhando preocupações comuns e aprofundando o diálogo nas suas múltiplas possibilidades em conteúdo e forma: diálogo de oração e espiritualidade, diálogo de justiça social, ecologia integral e direitos humanos, diálogo de convivência na hospitalidade mútua.A Guiné-Bissau, cuja população professa diferentes religiões (tradicionais, muçulmana, cristãs e outras), é um país em que o diálogo ecumênico e inter-religioso tem uma grande relevância no dia a dia das pessoas e das comunidades. A longa experiência dos Senhores Bispos de Bissau e Bafatá, em conjunto com os líderes muçulmanos e evangélicos, no diálogo e ação inter-religiosa, na prevenção e mediação de conflitos e na criação de um ambiente favorável à paz e ao desenvolvimento, serve de inspiração e base de reflexão para todo o espaço lusófono. Os outros países têm também experiências ricas e com real impacto na vida dos seus países e comunidades.Neste sentido, partindo da Declaração sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Vida em Comum, e cruzando-a com o papel das religiões na prossecução dos objetivos do desenvolvimento sustentável, é possível identificar oportunidades para formas de diálogo e ações conjuntas com outras confissões e religiões, assim como com os demais parceiros sociais.O Compromisso de Bissau pela Paz, a Fraternidade Humana e a Vida em Comum no Espaço Lusófono, que aqui afirmamos, é manifestação da nossa vontade de continuar a aprofundar a reflexão e o diálogo e a desenvolver parcerias e ações conjuntas nos países lusófonos. Estendemos o convite a todos os que se revejam neste compromisso, para que nos associemos no desenvolvimento desta missão.Como referiu o Papa Francisco na sua mensagem do dia 1 de janeiro de 2020, Dia Mundial da Paz, “o mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo, sem exclusões nem manipulações. De facto, só se pode chegar verdadeiramente à paz quando houver um convicto diálogo de homens e mulheres que buscam a verdade mais além das ideologias e das diferentes opiniões.”A paz é dom de Deus e construção fraterna. Assim, com fé e confiança em Deus, juntos vamos construir a paz na fraternidade e na solidariedade, na convivência e na reconciliação, na justiça e na esperança.Compromisso proclamado na Catedral de Bissau
a 19 de janeiro de 2020, no final da celebração da Santa Missa
Fonte: CNBB
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