“Estou
ciente de que, na vida cotidiana, não é fácil conciliar as exigências da fé e o
ensinamento social da Igreja com as necessidades e os vínculos impostos pelas
leis do mercado e da globalização", disse o Papa em seu discurso.
Mariangela Jaguraba - Cidade do
Vaticano
O Papa Francisco recebeu em
audiência, nesta segunda-feira (02/12), um grupo de jovens empresários
franceses que participa, em Roma, de três dias de encontros e reflexões sobre a
vocação dos empresários cristãos à luz da Doutrina Social da Igreja.
O grupo é formado por trezentos
empresários católicos franceses e está acompanhado pelo bispo de
Fréjius-Tolone, dom Dominique Rey.
Estou
ciente de que, na vida cotidiana, não é fácil conciliar as exigências da fé e o
ensinamento social da Igreja com as necessidades e os vínculos impostos pelas
leis do mercado e da globalização. Acredito que os valores do Evangelho que
vocês vivem na direção de suas empresas, bem como as várias relações que vocês
mantêm em suas atividades, são ocasiões para um testemunho cristão genuíno e
insubstituível.
Conflitos e decisões
O Papa
espera que essa peregrinação, em Roma, possa iluminar o discernimento dos
jovens empresários sobre as escolhas que deverão fazer. “Nunca foi fácil ser
cristãos e ter grandes responsabilidades”, disse o pontífice, ressaltando o
contexto complexo criado entre produtividade e justiça social, e evidenciando o
conflito que um empresário cristão vive e deve enfrentar cotidianamente:
Os conflitos de
consciência nas decisões cotidianas que vocês devem tomar, imagino que sejam
numerosos: por um lado, a necessidade que lhes é imposta, geralmente pela
sobrevivência das empresas, das pessoas que trabalham nelas e suas famílias, de
conquistar mercados, aumentar a produtividade, reduzir atrasos, recorrer a
truques publicitários, aumentar o consumo, e por outro lado, as exigências cada
vez mais urgentes de justiça social para garantir a todos a possibilidade de
ter um salário e viver dignamente. Penso nas condições de trabalho, nos
salários, nas ofertas de emprego e sua estabilidade, e na proteção do ambiente.
Critérios de discernimento
Segundo o
Papa, são dois os critérios de discernimento para “viver esses conflitos com
serenidade e a esperança”. O primeiro, encontra-se na Constituição Gaudium
et spes, do Concílio Vaticano II, que diz em relação aos leigos engajados
nas realidades temporais: “Cabe à sua consciência já devidamente formada,
inscrever a lei divina na vida da cidade terrena.”
Outro
critério útil encontra-se na sua Encíclica Laudato si, em
que faz uma “avaliação da situação do mundo, de alguns sistemas que regulam as
atividades econômicas, com suas consequências sobre as pessoas e o ambiente.
É uma avaliação que
às vezes pode parecer severa, mas que provoca, creio, um grito de alarme por
causa da deterioração da nossa Casa Comum e por causa da multiplicação da
pobreza e da escravidão nas quais vivem várias pessoas hoje. Tudo está
conectado.
Educar o mundo do trabalho a um novo
estilo
“Diante
dessa realidade, vocês certamente não têm uma resposta imediata e eficaz a ser
dada aos desafios do mundo atual. Nisso, às vezes vocês podem se sentir
impotentes”, disse Francisco. “No
entanto, vocês têm um papel essencial a desempenhar, porque, mesmo
modestamente, em algumas mudanças concretas de hábitos e estilos, tanto nas
relações com seus colaboradores diretos, ou melhor ainda na difusão de novas
culturas empresariais, vocês podem agir para mudar as coisas concretamente, e
aos poucos, educar o mundo do trabalho a um novo estilo”.
Conversão ecológica e espiritual
Segundo o
Papa, é preciso “fazer
uma conversão” conforme “evidenciado no recente Sínodo para a
Amazônia”. “A conversão é um processo que age profundamente: um processo talvez
lento, aparentemente, sobretudo quando se trata de converter as mentalidades,
mas que permite progressos reais, se praticado com convicção e determinação
mediante ações concretas.”
Por fim, a “conversão
ecológica não pode ser separada da conversão espiritual, que é
sua condição indispensável.” “A espiritualidade cristã propõe uma maneira
alternativa de entender a qualidade de vida e incentiva um estilo de vida
profético e contemplativo, capaz de alegrar profundamente sem ser obcecado pelo
consumo.”
O Papa
convidou os jovens empresários a seguirem o “caminho da simplicidade e da sobriedade,
pois a simplicidade nos ajuda a parar e apreciar as pequenas coisas, agradecer
as possibilidades que a vida oferece sem nos apegar ao que temos e nem nos
entristecer com o que não possuímos”.
Fonte: Vatican News
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