Na
celebração no dia de Finados, Santo Padre também chamou a atenção mais uma vez
de que as Bem-Aventuranças e o Grande Protocolo (Mateus 25) são nossa
identidade de cristãos, "sem isso, não há identidade", e que "o
lugar do cristão está nas mãos de Deus, chagadas de amor."
Cidade do Vaticano
Em 2018, a escolha do Santo Padre
para a celebração dos Fiéis Defuntos recaiu sobre o Cemitério Laurentino, uma
área de 27 hectares na zona rural de Roma, onde se deteve diante dos túmulos de
crianças falecidas prematuramente por doenças, acidentes ou nunca nascidas, o
chamado “Jardim dos Anjos”.
Desta
vez, o Papa quis presidir a celebração Eucarística nas Catacumbas de Priscila,
a “regina catacumbarum” como era denominado por todos os documentos
topográficos e litúrgicos antigos o cemitério dos mártires localizado na
Vila Salária, em Roma.
O Papa Francisco
não levou consigo nenhum texto preparado, tendo pronunciado sua homilia de
forma espontânea:
“A
celebração da festa de todos os falecidos em uma catacumba - para mim é a
primeira vez na vida que entro em uma catacumba - é uma surpresa; e também nos
diz muitas coisas. Podemos pensar na vida dessas pessoas, que tinham que se
esconder, que tinham essa cultura de sepultar os mortos e celebrar a Eucaristia
aqui ... é um momento da história difícil, mas que não foi superado: também
hoje existem. Existem tantas. Tantas catacumbas em outros países onde até mesmo
devem fingir fazer festa ou um aniversário para celebrar a Eucaristia, porque
naquele lugar é proibido fazê-lo: também hoje existem cristãos perseguidos,
mais do que nos primeiros séculos. Mais! Isso - as catacumbas, a perseguição,
os cristãos - e essas leituras me fazem pensar em três palavras: a identidade,
o lugar e a esperança.
A
identidade dessas pessoas que se reuniam aqui para celebrar a Eucaristia e para
louvar ao Senhor é a mesma de nossos irmãos hoje em tantos, tantos países onde
ser cristão é um crime, é proibido: eles não têm o direito. A mesma coisa. Esta
é a identidade que ouvimos: são as Bem-Aventuranças. A identidade do cristão é
esta: as Bem-Aventuranças. Não há outra. Se você faz isso, se você vive assim,
você é um cristão. "Não, mas, veja, eu pertenço a essa associação, àquela
outra ... e pertenço a esse movimento ...": sim, sim, sim, todas coisas
belas. Mas essas são fantasias diante dessa realidade. A sua carteira de
identidade é essa e, se você não a tiver, serão inúteis os movimentos ou outras
pertenças. Ou você vive assim ou não é cristão. Simplesmente: o Senhor disse
isso. "Sim, mas não é fácil, não sei como viver assim ...": mas há
outra passagem do Evangelho que nos ajuda a entender melhor isso, e também essa
passagem do Evangelho será o "Grande Protocolo" com [segundo] o qual
seremos julgados. É Mateus 25. Com essas duas passagens do Evangelho, as
Bem-Aventuranças e o Grande Protocolo, nós mostraremos, vivendo isso, nossa
identidade de cristãos. Sem isso, não há identidade. Há uma pretensão de ser
cristão, mas não uma identidade.
Essa é a
identidade do cristão. A segunda palavra: o lugar. Essas pessoas que vinham
aqui para se esconder, para estarem seguras, também para sepultar os mortos,
aqui; aquelas pessoas que celebram hoje a Eucaristia em segredo, naqueles
países onde é proibido - penso naquela freira da Albânia que estava em um campo
de reeducação, na época do comunismo, e era proibido aos sacerdotes darem os
Sacramentos, e esta freira, ali, batizava em segredo. As pessoas, os cristãos,
sabiam que essa freira batizava e as mães se aproximavam com a criança; mas ela
não tinha um copo, algo para colocar água ... Com os sapatos, tirava água do
rio e batizava com sapatos. O lugar do cristão está em todo lugar: nós não
temos um lugar privilegiado na vida. Alguns querem tê-lo - são cristãos
qualificados. Mas eles correm o risco de permanecer com o "qualificados"
e abandonar o "cristão". Os cristãos, qual é o lugar deles? "As
almas dos justos estão nas mãos de Deus": o lugar do cristão está nas mãos
de Deus, onde Ele quer. As mãos de Deus que são chagadas, que são as mãos de
seu Filho que quis levar consigo as feridas para mostrá-las ao Pai e interceder
por nós. O lugar do cristão é na intercessão de Jesus diante do Pai: nas mãos
de Deus, e ali estamos seguros. Aconteça o que acontecer, mesmo a Cruz: mesmo,
a nossa identidade diz que daremos graças se nos perseguirem, tudo o que
disserem contra nós; mas se estivermos nas mãos de Deus chagadas de amor,
estaremos seguros. Este é o nosso lugar.
E hoje
podemos nos perguntar: mas eu, onde me sinto mais seguro? Nas mãos de Deus ou
com outras coisas, com outras seguranças que nós "alugamos", mas que
no final caem, que não têm consistência? Esses cristãos com essa carteira de
identidade que viviam e vivem nas mãos de Deus, são homens e mulheres de
esperança: e esta é a terceira palavra que me ocorre hoje: esperança.
Ouvimos
na segunda leitura: aquela visão final onde tudo é feito novamente, tudo é
recriado, aquela Pátria para onde todos nós iremos. E para entrar lá, não
servem coisas estranhas, não servem atitudes sofisticadas: somente é necessário
mostrar a carteira de identidade. Está tudo certo, vá em frente. A nossa
esperança está no céu, a nossa esperança está ancorada lá e nós, com a corda em
mãos, nos sustentamos olhando aquela margem do rio que devemos atravessar.
Identidade:
das Bem-Aventuranças e Mateus 25; lugar, o lugar mais seguro: nas mãos de Deus,
chagadas de amor; esperança, o futuro: a âncora, ali, na outra margem, mas eu
bem seguro à corda: isso é importante. Sempre agarrado à corda. Tantas vezes
veremos apenas a corda, nem mesmo a âncora, nem mesmo a outra margem. Mas você,
segure a corda que chegará em segurança.”
Ao final
da celebração, o Papa Francisco retorna ao Vaticano, onde irá às Grutas da Basílica de São Pedro onde
estão sepultados diversos Pontífices, para um momento de oração silenciosa.
Testemunha da fé primitiva
As
Catacumbas de Priscila são o testemunho da fé primitiva, com toda a sua beleza
de decorações e símbolos. Escavada na rocha já entre o segundo e o quinto
séculos - em ambientes preexistentes ocupados pelos túmulos da família dos
Acili Glabrioni, à qual pertencia a nobre senhora Priscila, doadora do terreno
- a catacumba veio à luz no século XVI.
Estendendo-se
por cerca de 13 km de galerias, tem vários níveis de profundidade, dos quais o
mais antigo é o primeiro. Nele encontramos nichos e cubículos, isto é, túmulos
de famílias ricas ou de mártires, e outro tipo nobre de túmulo, frequentemente
decorado com pinturas com temas religiosos.
De fato,
são muitas as representações valiosas inspiradas nas histórias bíblicas do
Antigo e do Novo Testamento, que expressam a fé na salvação e na ressurreição
prometida por Jesus.
Sobre as
lápides dos túmulos, são frequentes os símbolos de grande importância para os
cristãos dentre os quais, o mais conhecido é o peixe, que encerra em si as
cinco palavras "Jesus Cristo, filho de Deus Salvador", por meio das
iniciais das cinco letras gregas que compõem a palavra "ICTUS",
peixe.
De
particular valor artístico é a "Capela Grega" e o nicho que contém a
mais antiga imagem da Virgem Maria, com o Menino nos joelhos, e ao lado um
profeta, que segura um pergaminho na mão esquerda e aponta para uma estrela com
a mão direita, provavelmente representando a profecia de Balaão: "uma
estrela nasce de Jacó e um cetro nasce de Israel" (Nm 24,15-17). A
presença do profeta indica no Menino o Messias esperado por séculos.
Fonte: Vatican News
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