Existe
uma maneira de ser cristão "desde que", isto é, somente em
determinadas condições, que Papa Francisco indica na homilia da missa da manhã
desta terça-feira (8) na Casa Santa Marta. Falando daqueles cristãos que julgam
tudo, mas partindo "da pequenez do coração deles", lembra que o
Senhor se aproxima com misericórdia a todas as realidades humanas porque Ele
veio para salvar, não para condenar.
Adriana
Masotti – Cidade do Vaticano
A primeira leitura da
liturgia do dia, extraída do Livro do profeta Jonas, prossegue a narração
bíblica iniciada na segunda-feira (7) e que será concluída na quarta (8), em
que se descreve a relação contraditória entre Deus e o próprio Jonas. O Papa
busca o trecho precedente em que se lê a primeira chamada do Senhor que quer enviar
o profeta a Nínive para pregar aquela cidade à conversão. Mas Jonas tinha
desobedecido à ordem e se dirigiu para o lado oposto, distante do Senhor,
porque aquela tarefa para ele era muito difícil.
Depois ele
embarcou para Társis e, durante a tempestade provocada pelo Senhor, foi jogado
no mar porque se sentia culpado daquele desastre, foi engolido por uma baleia
e, então, após três dias e três noites, foi novamente jogado na praia. E Jesus,
como disse Francisco, “pega essa figura de Jonas no ventre do peixe por três
dias como a imagem da própria Ressureição”.
Diante da conversão, Deus se arrepende
Na leitura
desta terça-feira, a segunda chamada: Deus se dirige de novo a Jonas e, desta
vez, Jonas obedece, vai a Nínive e aquelas pessoas acreditam na sua palavra e
querem se converter tanto que Deus “se corrige em relação ao mal que tinha
ameaçado de fazer a eles e não o faz”.
“O teimoso
Jonas, porque essa é a história de um teimoso, o teimoso Jonas fez bem o
próprio trabalho e depois foi embora”, comenta Francisco. Na quarta-feira (9)
vamos ver como a história vai terminar, isto é, como Jonas fica irritado com o
Senhor porque é muito misericordioso e porque cumpre o contrário daquilo que
tinha ameaçado fazer pela boca do próprio profeta. Jonas repreende o Senhor:
Senhor, não era
talvez isso que dizia quando eu estava no meu país? Por esse motivo me apressei
pra fugir a Társis, porque eu sei que tu és um Deus misericordioso e piedoso,
vagaroso em irar-se, de grande amor e que se arrepende em relação ao mal
ameaçado. Mais ou menos, Senhor, tira-me a vida: eu contigo não quero mais
trabalhar porque para mim é melhor morrer do que viver”, prossegue o Papa. É
melhor morrer que continuar esse trabalho de profeta contigo que, ao
final, faz o contrário daquilo que me mandou fazer.
A indignação de Jonas pela misericórdia
do Senhor
E ele sai
da cidade, constrói uma cabana e de lá espera para ver o que o Senhor fará.
Jonas esperava que Deus destruísse a cidade. O Senhor então fez crescer
um pé de mamona para lhe fazer sombra. Mas logo deixa que um verme roa a raiz
da mamona e ela seque. Jonas fica novamente indignado com Deus por aquele pé de
mamona. “Tiveste compaixão de uma planta”, diz a ele o Senhor, pela qual não
fizeste nenhum esforço, e “eu não deveria ter compaixão de uma grande
cidade como Nínive?”
Aquele
diálogo entre o Senhor e Jonas é entre dois obstinados, observa o Papa:
Jonas, obstinado com
suas convicções de fé e o Senhor obstinado em sua misericórdia: ele nunca nos
deixa. Bate na porta do coração até o fim, está lá. Jonas, obstinado porque
concebia a fé com condições; Jonas é o modelo daqueles cristãos "desde
que", cristãos com condições. "Eu sou cristão, mas desde que as
coisas sejam feitas assim" - "Não, não, essas mudanças não são
cristãs" - "Isso é heresia" - "Isso não está certo"
... Cristãos que condicionam Deus, que condicionam a fé e a ação de Deus.
Os cristãos "desde que" têm
medo de crescer
Francisco
enfatiza que é este "desde que" que faz com que tantos cristãos se
fechem "nas próprias ideias e acabem na ideologia: é o mau caminho da fé
para a ideologia". "E hoje existem tantos assim" -
prossegue o Papa - e esses cristãos têm medo: "de crescer, dos desafios da
vida, dos desafios do Senhor, dos desafios da história", apegados "às
suas convicções, às suas primeiras convicções, às suas próprias ideologias”.
São os
cristãos que – afirma ainda o Pontífice - "preferem a ideologia à fé"
e se afastam da comunidade", têm medo de se colocar nas mãos de Deus e
preferem julgar tudo, mas a partir da pequenez do próprio coração". E
conclui:
As duas figuras da
Igreja, hoje: a Igreja daqueles ideólogos que se escondem em suas próprias
ideologias, ali, e a Igreja que mostra o Senhor que se aproxima de todas as
realidades, que não sente repugnância: as coisas não causam repugnância ao
Senhor, os nossos pecados não lhe são repugnantes. Ele se aproxima para
acariciar os leprosos, os doentes. Porque Ele veio para curar, veio para
salvar, não para condenar.
Fonte: Vatican News
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