O
Papa Francisco, o Japão e a Igreja em missão, que evangeliza por atração.
Aquela Igreja que Francisco está pregando e testemunhando do início do
Pontificado e que, no “seu” Japão, encontra um terreno fecundo para a pequena
semente da Boa Nova.
Alessandro Gisotti – Cidade do
Vaticano
“Com o passar do tempo me surge o
desejo de ir como missionário ao Japão, onde os jesuítas realizam uma obra
muito importante desde sempre”. O cardeal Jorge Mario Bergoglio conta esse seu
sonho no livro-entrevista El Jesuita.
É o ano de 2010. O arcebispo de
Buenos Aires vê se aproximar os seus 75 anos, idade em que se apresenta a
renúncia ao ofício pastoral. Com os jornalistas argentinos Sergio Rubin e
Francesca Ambrogetti aceita, então, traçar um primeiro balanço da sua vida. E,
lembrando a própria juventude e o espírito que o anima quando decide entrar na
Companhia de Jesus, logo indica a importância que tem na sua escolha, a
dimensão missionária, parte integrante do DNA de ser jesuíta. Um desejo que o
jovem Jorge Mario Bergoglio vai ver se realizar agora com a sua próxima viagem
apostólica, anunciada nesta sexta-feira (13), quando será peregrino, mas também
missionário no país do Sol Nascente, depois de já o ter visitado em 1987.
Para os jesuítas, por outro lado, o
Japão sempre suscitou uma atração particular desde quando, em 1549, Francisco
Xavier, colocou os pés nesta terra. Nos cinco séculos sucessivos à primeira
missão, a Companhia de Jesus nunca faltou de dirigir um olhar privilegiado ao
povo e à cultura nipônica. Uma atenção que, quando possível, também foi
reforçada nos últimos decênios, considerando que dois dos últimos que ocuparam
o papel de Prepósito-Geral, Pedro Arrupe e Adolfo Nicolás, viveram muitos anos
no Japão. E não esquecendo o grande papel que um jesuíta, Giuseppe Pittau,
desenvolveu no diálogo cultural entre o Japão e Ocidente. Um esforço de
inculturação paciente, aquele dos jesuítas, que “não confiam num rápido sucesso
e nos resultados imediatos, porque Deus anda a três milhas por hora,
isto é, segundo o passo do homem”, como notava o próprio Pe. Nicolás num artigo
de 2014 para a revista La Civiltà Cattolica, intitulado “Viver a missão no
Japão”.
LEIA TAMBÉM
13/09/2019
Mas, o que desse país distante, além
daquilo que “pertence” a todo jesuíta, surpreendeu pessoalmente o jovem jesuíta
argentino que se tornou Papa? Uma resposta dá ele mesmo quando, na homilia na
Casa Santa Marta no início do seu Pontificado, em 17 de abril de 2013, fala com
admiração do testemunho oferecido pela Igreja japonesa que permaneceu viva,
embora as perseguições sofridas entre os séculos XVI e XVII. A surpreender o
Papa foi sobretudo a força dos fiéis leigos, dos batizados, que permitiram à
Igreja superar a tempestade. Quando os missionários voltaram, recorda,
encontraram “todas as comunidades no lugar, todos batizados, todos
catequizados, todos casados na igreja”.
Uma
reflexão que dois anos depois amplia e aprofunda, recebendo em visita ad
limina a Conferência Episcopal do Japão. O Papa fala da
hereditariedade da Igreja no Japão que tem como base dois pilares: os
missionários que, depois de Francisco Xavier, “ofereceram a própria vida a
serviço do Evangelho e do povo japonês” e, justamente, os “cristãos
escondidos”. Quando todos os missionários leigos e os sacerdotes foram expulsos
do país, observa Francisco, “a fé da comunidade cristã não se esfriou. Ao
contrário, as brasas da fé que o Espírito Santo acendeu através da pregação
daqueles evangelizadores” permaneceram “seguras, graças à solicitude dos fiéis
leigos”. A Igreja no Japão nos lembra, então, com a sua história, conturbada e
abundante de bênçãos, que os cristãos são missionários por natureza.
“Discípulos e missionários de Jesus Cristo”, para retomar o título do Documento
de Aparecida, no qual, o cardeal Bergoglio, trabalhou com tanto empenho e
paixão. É essa Igreja missionária, que evangeliza por atração, aquela que
Francisco está pregando e testemunhando do início do Pontificado e que, no
“seu” Japão, encontra um terreno fecundo para a pequena semente da Boa Nova.
Fonte: Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário