“O
sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua
pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco
dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais
indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não
há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças”: disse o
Papa no encontro em Maputo com bispos, sacerdotes, religiosos, seminaristas
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
Reavivemos
nosso chamado vocacional, e que o nosso sim comprometido proclame as grandezas
do Senhor e alegre o espírito do nosso povo em Deus nosso Salvador. E encha de
esperança, paz e reconciliação o vosso país, nosso querido Moçambique. Foi o
que disse o Papa Francisco no aguardado encontro com os bispos, sacerdotes,
religiosos, consagrados, seminaristas, catequistas e animadores pastorais, na
tarde desta quinta-feira (05/09) na Catedral da Imaculada Conceição, em Maputo,
capital do país do sudeste da África, primeira etapa desta sua 31ª Viagem
Apostólica Internacional.
Testemunhos: desafios, sofrimentos e esperança viva
O discurso
do Santo Padre foi precedido, além da saudação de boas-vindas ao ilustre
visitante feito pelo presidente da Comissão para o Clero e a Vida Consagrada,
Dom Hilário da Cruz Massinga, do testemunho de um sacerdote, de uma religiosa e
de um catequista, testemunhos marcados pelos sérios desafios, sofrimentos, mas
também pela viva esperança.
Na
reflexão do Pontífice, um convite a renovar a resposta ao chamado vocacional, a
renovar a fé e a esperança:
“Encontramo-nos nesta
catedral, dedicada à Imaculada Conceição da Virgem Maria, para compartilhar
como família aquilo que nos acontece; como família, que nasceu naquele sim que
Maria deu ao anjo. Ela, nem por um momento olhou para trás. Quem narra estes
acontecimentos do início do mistério da Encarnação é o evangelista Lucas. No
seu modo de o fazer, talvez possamos descobrir resposta para as perguntas que
fizestes hoje, e encontrar também o estímulo necessário para responder com a
mesma generosidade e solicitude de Maria.”
Contrastar a crise de indentidade
sacerdotal
Perguntáveis
que fazer com a crise de identidade sacerdotal, como lutar contra ela? A
propósito, o que vou dizer relativamente aos sacerdotes é algo que todos
(bispos, catequistas, consagrados, seminaristas) somos chamados a cultivar e
fomentar, ressaltou Francisco.
“Perante a
crise de identidade sacerdotal – disse o Papa –, talvez tenhamos que sair dos
lugares importantes e solenes; temos de voltar aos lugares onde fomos chamados,
onde era evidente que a iniciativa e o poder eram de Deus. Às vezes sem querer,
sem culpa moral, habituamo-nos a identificar a nossa atividade quotidiana de
sacerdotes com certos ritos, com reuniões e colóquios, onde o lugar que
ocupamos na reunião, na mesa ou na sala é de hierarquia.”
Se Jesus não o enriquece, sacerdote é o
mais pobre de todos
“Creio não
exagerar se dissermos que o sacerdote é uma pessoa muito pequena: a grandeza
incomensurável do dom que nos é dado para o ministério relega-nos entre os
menores dos homens”, ressaltou o Pontífice, acrescentando:
“O sacerdote é o mais
pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza; é o servo mais
inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco dos homens, se Jesus
não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais indefeso dos cristãos,
se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não há ninguém menor que um
sacerdote deixado meramente às suas forças.”
Voltar a Nazaré para nos renovarmos como
pastores
Tendo
precedentemente aludido ao Anúncio do Anjo feito a Zacarias em Jerusalém e a
Maria em Nazaré, apresentado pelo evangelista São Lucas, Francisco enfatizou
que voltar a Nazaré pode ser o caminho para enfrentar a crise de identidade,
para nos renovarmos como pastores-discípulos-missionários.
“Vós
próprios faláveis de certo exagero na preocupação de gerar recursos para o
bem-estar pessoal, por ‘caminhos tortuosos’ que muitas vezes acabam por
privilegiar atividades com uma retribuição garantida e criam resistências a
dedicar a vida ao pastoreio diário”, ressaltou.
Doação na proximidade ao povo fiel de
Deus
“Não podemos correr
atrás daquilo que redunda em benefícios pessoais; os nossos cansaços devem
estar mais relacionados com ‘a nossa capacidade de compaixão: são compromissos
nos quais o nosso coração estremece e se comove’.”
“Para nós,
sacerdotes – acrescentou o Santo Padre–, as histórias do nosso povo não são um
noticiário: conhecemos a nossa gente, podemos adivinhar o que se passa no seu
coração.” “E, assim, a nossa vida sacerdotal se vai doando no serviço, na
proximidade ao povo fiel de Deus…, etc., o que sempre, sempre cansa.”
Fugir do "mundanismo
espiritual" ditado pelo consumismo
Francisco
observou que renovar o chamado “passa, muitas vezes, por verificar se os nossos
cansaços e preocupações têm a ver com um certo ‘mundanismo espiritual’ ditado
‘pelo fascínio de mil e uma propostas de consumo a que não conseguimos
renunciar para caminhar, livres, pelas sendas que nos conduzem ao amor dos
nossos irmãos, ao rebanho do Senhor, às ovelhas que aguardam pela voz dos seus
pastores’”.
“Renovar o
chamado passa por optar, dizer sim e cansar-nos com aquilo que é fecundo aos
olhos de Deus, que torna presente, encarna o seu Filho Jesus. Oxalá
encontremos, neste saudável cansaço, a fonte da nossa identidade e felicidade!”
Um olhar aos jovens: reconhecer a
própria vocação
Por fim, o
Pontífice dirigiu-se também ao jovens que se interrogam ou que já se sentem
chamados para a vida consagrada:
“Tu que
ainda te interrogas ou tu que já estás a caminho duma consagração definitiva
dar-te-ás conta de que ‘a ansiedade e a velocidade de tantos estímulos que nos
bombardeiam fazem com que não haja lugar para aquele silêncio interior onde se
percebe o olhar de Jesus e se ouve seu chamado’”.
“Procura,
antes, aqueles espaços de calma e silêncio que te permitam refletir, rezar, ver
melhor o mundo ao teu redor e então sim, juntamente com Jesus, poderás
reconhecer qual é a tua vocação nesta terra.”
Francisco
concluiu destacando que a Igreja em Moçambique é convidada a ser a Igreja da
Visitação: “não pode ser parte do problema das competências, menosprezos e
divisões de uns contra os outros, mas porta de solução, espaço onde sejam
possíveis o respeito, o intercâmbio e o diálogo”.
Fonte: Vatican News
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