Numa
festa inter-religiosa e culturalmente rica da juventude, o Papa Francisco
pronunciou o segundo discurso do dia em Maputo, em Moçambique, nesta
quinta-feira (5). Os jovens foram a expressão da paz e da reconciliação do
país, através de cantos, apresentações artísticas e tradições religiosas,
sempre encorajados pelo Pontífice que incentivou a não se resignar diante das
provações e ter cautela com a ansiedade que pode criar barreiras para realizar
os sonhos.
Andressa
Collet – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco,
no seu segundo discurso oficial em Maputo nesta quinta-feira (5), encontrou os
jovens no Pavilhão do Clube de Desportos do Maxaquene, conhecido como Maxaca -
uma sociedade com tradição no futebol, tanto que já ganhou cinco títulos
nacionais. Do esporte, porém, hoje o espaço acolheu mais de 4 mil jovens
cristãos, muçulmanos e hinduístas para um grande encontro inter-religioso com o
Pontífice.
Durante cerca de uma hora
intensa com a juventude de Moçambique, o Papa conseguiu conhecer um pouco da
realidade local das diferentes confissões religiosas que se apresentaram,
através da arte do canto e de coreografias especiais, demonstrando diferentes
temas e motivos de preocupação dos jovens do país. Um hino comum às
denominações religiosas também foi interpretado na ocasião que precedeu o
discurso do Pontífice.
Jovens: vocês são importantes e
precisam saber disso!
“
O que há de mais importante para um pastor do que encontrar-se com os seus
jovens? Vocês são importantes! Precisam saber disso, precisam acreditar nisso:
vocês são importantes! Mas com humildade porque não são apenas o futuro de
Moçambique ou da Igreja e da humanidade; vocês são o presente de Moçambique!
Com tudo o que são e fazem, já estão contribuindo para ele com o melhor que
hoje podem dar. ”
O Papa iniciou o discurso
enaltecendo a expressão tão autêntica da alegria que caracteriza o povo de
Moçambique. É uma “alegria
que reconcilia e se torna o melhor antídoto capaz de desmentir todos aqueles
que querem dividir, fragmentar ou contrapor. Como faz falta, em algumas regiões
do mundo, a alegria de viver de vocês!”, sublinhou Francisco.
A presença das diferentes
confissões religiosas no local também foi elogiada pelo Pontífice, demonstrando
a união familiar através do “desafio da paz”, da esperança e da reconciliação.
Com essa experiência, disse ele, é possível perceber que “todos somos
necessários: com as nossas diferenças, mas necessários”.
“
Vocês, jovens, caminham com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos
adultos que os mantêm paralelos, vocês colocam um atrás do outro, pronto a
arrancar, a partir. Vocês têm tanta força, são capazes de olhar com tanta
esperança! São uma promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade
(cf. Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 139), que não devem
perder nem deixar que lhe roubem. ”
As inimigas da esperança:
resignação e ansiedade
O Papa, então, procurou
responder a duas perguntas feitas pelos jovens, em questões interligadas, sobre
como realizar os sonhos da juventude e como contribuir para solucionar os
problemas que afligem o país. A indicação do Pontífice veio do próprio caminho
de riqueza cultural apresentado pelos jovens, através da arte, uma expressão
“de parte dos sonhos e realidades”, sempre regada de esperança, mas também de
ilusões. Além disso, o Papa voltou a insistir com os jovens para não deixar que
“roubem a sua alegria”, para não deixar de cantar e se expressar conforme as
tradições de casa.
Francisco também alertou para
ter cautela com “duas atitudes que matam os sonhos e a esperança: a resignação
e a ansiedade”.
“São grandes inimigas da vida,
porque normalmente nos impelem por um caminho fácil, mas de derrota; e a porta
que pedem para passar é muito cara… O pedágio que pedem para passar é muito
caro! É muito caro. Paga-se com a própria felicidade e até com a própria vida.
Resignação e ansiedade: duas atitudes que roubam a esperança. Quantas promessas
de felicidade vazias que acabam por mutilar vidas! Certamente conhecem amigos,
conhecidos – ou pode mesmo ter acontecido com vocês – que, em momentos
difíceis, dolorosos, quando parece que tudo cai em cima de vocês, ficam
prostrados na resignação. É preciso estar muito atento, porque essa atitude
«faz com que encaminhe pela estrada errada. Quando tudo parece estar parado e estagnante,
quando os problemas pessoais nos preocupam, as dificuldades sociais não
encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por vencido» (Ibid., 141).”
A inspiração do esporte: Eusébio da
Silva e Maria Mutola
E para dar um exemplo de
inspiração em pleno tempo do futebol, o Papa recordou o jogador Eusébio da
Silva, o “pantera negra”, que começou a carreira no clube de Maputo. O atleta
não se resignou diante de graves dificuldades econômicas da família e da morte
prematura do pai. O futebol o ajudou a perseverar, disse Francisco, “chegando a
marcar 77 gols para o Maxaquene!”
O Pontífice então fez a analogia
do jogo em equipe para falar da importância de se empenhar pelo país com a
tática da união e independentemente daquilo que diferencia as pessoas.
“Como é importante não esquecer
que «a inimizade social destrói. E uma família se destrói pela inimizade. Um
país se destrói pela inimizade. O mundo se destrói pela inimizade. E a
inimizade maior é a guerra porque são incapazes de sentar e falar, de sentar e
falar. Sejam capazes de criar a amizade social!"
O Papa lembrou, então, o
provérbio africano conhecido e citado mundialmente para “sonhar junto”, que
diz: «Se quiser chegar depressa, caminha sozinho; se quiser chegar longe, vai
acompanhado». Mas sem que a ansiedade seja inimiga dos sonhos da juventude por
um país melhor, alertou o Papa, porque eles são conquistados com “esperança,
paciência e determinação, renunciando às pressas”.
O outro exemplo do esporte
citado pelo Papa veio do testemunho de Maria Mutola, que aprendeu a perseverar,
apesar de perder a medalha de ouro nos três primeiros Jogos Olímpicos que
disputou. O tão sonhado título dourado veio na quarta tentativa, quando a
atleta dos 800 metros alcançou venceu nas Olimpíadas de Sidney. “A ansiedade
não a deixou absorta em si mesma”, ao conseguir nove títulos mundiais”,
comentou Francisco.
A importância dos idosos e da Casa
Comum
O Papa ainda aconselhou a não
esquecer do apoio dos idosos, que podem ajudar a realizar sonhos sem que “o
primeiro vento da dificuldade” venha a impedir. Escutar as pessoas mais
experientes, valorizando as tradições e fazendo a própria síntese, como
aconteceu com a música, o ritmo tradicional de Moçambique: da marrabenta nasceu
o pandza, com toque moderno.
O comprometimento com o cuidado
da Casa Comum também foi lembrado pelo Papa, num país que tamanha beleza
natural, mas que também já sofreu com o embate de dois ciclones. O desafio de
proteger o meio ambiente é um forma de permanecer unidos para ser “artesãos da
mudança tão necessária”.
O poder da mão estendida e da
amizade ao país
Dessa forma explicativa,
Francisco procurou encorajar os jovens a encontrar novos caminhos de paz,
liberdade, entusiasmo e criatividade, e “com o gosto da solidariedade”, para
responder às provações e problemas vividos no país. “Grande é o poder da mão
estendida e da amizade”, acrescentou o Papa, para que “a solidariedade cresça
entre vocês e se torne na melhor arma para transformar a história. A
solidariedade é a melhor arma para transformar a história”. E Francisco
finalizou o discurso lembrando os jovens que não esqueçam o quanto Jesus os
ama:
“[
É o amor do Senhor que se entende mais de levantamentos que de quedas, mais de
reconciliação que de proibições, mais de dar nova oportunidade que de condenar,
mais de futuro que de passado» (Ibid., 116). Eu sei que vocês acreditam nesse
amor que torna possível a reconciliação. ] ”
(atualizado às 13h49)
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