Na
Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa convidou a pensar "nos grandes
impérios, nas ditaduras do século passado que depois desabaram". A pensar
também "nos impérios de hoje que desabarão, se Deus não estiver com eles,
porque a força que os homens têm em si não é duradoura".
Mariangela Jaguraba-Cidade do
Vaticano
O Papa Francisco deu continuidade ao
ciclo de catequeses sobre os Atos dos Apóstolos, na Audiência Geral desta
quarta-feira (18/09), realizada na Praça São Pedro, na qual participaram doze
mil pessoas.
O tema da catequese do Papa foi
extraído do Capítulo 3, 39 dos Atos dos Apóstolos: “Cuidado para não se meterem
contra Deus! Os participantes do Sinédrio aceitaram o parecer de Gamaliel”.
Obediência da fé
“Diante da proibição dos judeus de
ensinar no nome de Cristo, Pedro e os Apóstolos respondem com coragem que não
podem obedecer aos que desejam interromper a viagem do Evangelho no mundo. Os
Doze mostram que possuem a “obediência da fé” que eles desejam despertar em
todos as pessoas. A partir de Pentecostes, eles deixam de ser pessoas sozinhas.
Vivem uma sinergia especial que os descentraliza de si mesmos e os leva a
dizer: «nós e o Espírito Santo». Sentem que não podem dizer “eu” sozinho, mas
“nós”, o «Espírito Santo e nós»”, disse Francisco, acrescentando:
Na força desta aliança, os Apóstolos
não se deixam assustar por ninguém. Tinham uma coragem impressionante. Pensamos
que eram covardes: todos fugiram, fugiram quando Jesus foi detido pela polícia.
Todos. Mas, passaram de covardes a corajosos. Por quê? Porque o Espírito Santo
estava com eles. O mesmo acontece conosco: se tivermos o Espírito
Santo dentro nós, teremos a coragem de seguir em frente, a coragem de vencer
muitas lutas, não por nós mesmos, mas pelo Espírito que está conosco.
Os mártires de hoje
Segundo
Francisco, os Apóstolos “não recuam em sua marcha como testemunhas intrépidas
do Ressuscitado, como os mártires de todos os tempos, inclusive o nosso".
Os mártires dão a
vida, não escondem que são cristãos. Pensemos, alguns anos atrás, hoje também
existem muitos mas, pensemos nos cristãos coptas ortodoxos verdadeiros,
trabalhadores que foram todos degolados na praia da Líbia, quatro anos atrás. A
última palavra que disseram foi “Jesus, Jesus”. Eles não venderam a fé, porque
o Espírito Santo estava com eles. São os mártires de hoje.
“Os
Apóstolos são os megafones do Espírito Santo, enviados por Jesus ressuscitado a
difundir com prontidão e sem hesitação a Palavra que salva. Esta determinação
deles faz tremer o sistema religioso judaico, que se sente ameaçado e responde
com violência e condenações à morte. A perseguição dos cristãos é sempre a
mesma: as pessoas que não querem o cristianismo sentem-se ameaçadas e levam os
cristãos à morte.”
Mas, no
Sinédrio, eleva-se a voz de Gamaliel, um fariseu diferente que escolhe conter a
reação dos demais, “um homem prudente, doutor da lei estimado por todo o povo”.
Na escola de Gamaliel, São Paulo aprendeu a observar “a Lei de nossos pais”,
conforme ele diz no Capítulo 22 dos Atos dos Apóstolos. Gamaliel toma a palavra
e convida os seus correligionários a exercer a arte do discernimento, diante de
situações que excedem os padrões usuais.
A força que os homens têm em si não é duradoura
“Ele
mostra, citando alguns personagens que se fingiram Messias, que todo projeto
humano pode primeiro receber elogios e depois naufragar, enquanto tudo o que
vem do alto e tem a “assinatura” de Deus está destinado a durar.”
Os projetos humanos
sempre falham; eles têm um tempo, como nós. Pensem em tantos projetos
políticos, e como eles mudam de um lado para o outro, em todos os países.
Pensem nos grandes impérios, pensemos nas ditaduras do século passado.
Sentiam-se poderosos, que podiam dominar o mundo. Depois todos desabaram.
Pensem também nos impérios de hoje: desabarão, se Deus não estiver com eles,
porque a força que os homens têm em si não é duradoura. Somente a força de Deus
permanece. Pensemos na história dos cristãos, incluindo a história da Igreja,
com tantos pecados, tantos escândalos, tantas coisas ruins nesses dois
milênios. E por que não desabou? Porque Deus está ali. Nós somos pecadores e
muitas vezes escandalizamos. Mas Deus está conosco. Deus sempre salva. A força
é “Deus conosco.
“Portanto,
Gamaliel conclui que, se os discípulos de Jesus de Nazaré creram num impostor,
são destinados a desaparecer; se ao invés seguem alguém que vem de Deus, é
melhor desistir de combatê-los; e adverte: “Cuidado para não se meterem contra
Deus. Nos ensina a fazer esse discernimento”, sublinhou Francisco.
Hábito do discernimento
As palavras
de Gamaliel, são palavras pacatas e sensatas, que nos permitem ver o evento
cristão com uma nova luz. Tocam os corações e obtêm o efeito desejado: os
outros membros do Sinédrio aceitam o seu parecer e renunciam aos propósitos de
morte, ou seja, matar os apóstolos.
O Papa
concluiu a sua catequese, convidando-nos a pedir ao Espírito Santo para agir em
nós a fim de que possamos “adquirir
o hábito do discernimento”.
Que o
Espírito Santo nos ajude a “ver sempre a unidade da história da salvação
através dos sinais da passagem de Deus em nosso tempo e nos rostos daqueles que
nos rodeiam, e a aprender que o tempo e os rostos humanos são mensageiros do
Deus vivo”.
Fonte: Vatican News
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