Diante do caso dramático
de Noa Pothoven, o Papa afirma que a resposta não é abandonar quem sofre.
Presidente da Pontifícia Academia para a Vida, Dom Vincenzo Paglia: a Europa
sofre uma grande pobreza espiritual, somos todos mais sozinhos e mais frágeis
Sergio Centofanti - Cidade
do Vaticano
“A eutanásia e o suicídio
assistido são uma derrota para todos. A resposta a que somos chamados é nunca
abandonar aqueles que sofrem, não desistir, mas cuidar e amar para restaurar a
esperança”: é o que escreve o Papa Francisco num tuíte na conta @Pontifex, com
o pensamento e a oração voltados para Noa Pothoven, a jovem holandesa de
dezessete anos que escolheu morrer, domingo passado, 2 de junho, assistida por
médicos especializados em suicídio assistido.
Não à
cultura do descarte
Na esteira de seus predecessores,
o Papa Francisco evocou muitas vezes, e com veemência, o respeito à vida desde
a concepção até a morte natural. Em particular, em relação à eutanásia e ao
suicídio assistido, disse que “são graves ameaças para as famílias no mundo
inteiro”.
Enquanto “sua prática é
legal em muitos Estados, a Igreja a contrasta firmemente” e “sente o dever de
ajudar as famílias que cuidam” de seus entes queridos quer doentes, quer
anciãos – afirmou (Amoris
laetitia, 48). Cultura da morte e cultura do descarte não são um
sinal de civilização, mas um sinal de abandono que pode disfarçar-se também de “falsa compaixão”, ressalta. Ao invés, é
preciso assumir a fadiga de colocar-se lado a lado e acompanhar quem sofre.
Reencontrar
o verdadeiro sentido da vida
“A dor, o sofrimento, o
sentido da vida e da morte - afirma Francisco - são realidades que a
mentalidade contemporânea tem dificuldade de enfrentar com um olhar repleto de
esperança. No entanto, sem uma esperança confiável que o ajude a enfrentar
também a dor e a morte, o homem não consegue viver bem e conservar uma perspectiva
confiante diante de seu futuro.”
“Esse é um dos serviços
que a Igreja é chamada a prestar ao homem contemporâneo” porque o amor, aquele
que se faz próximo de modo concreto e que encontra em Jesus ressuscitado a
plenitude do sentido da vida, abre novas perspectivas e novos horizontes também
a quem pensa não aguentar mais, acrescenta.
Sobre o caso Noa Pothoven
trazemos aqui a reflexão do presidente
da Pontifícia Academia para a Vida, Dom Vincenzo Paglia, entrevistado pelo
Vatican News – Radio Vaticano.
Dom Paglia, o caso
dramático desta jovem mostra muito desespero, mas também muito abandono...
“Em primeiro lugar,
gostaria de confiar nas mãos de Deus – que não abandona ninguém – esta jovem,
mas também todos os seus familiares. Chegamos à dramática conclusão de uma vida
igualmente dramática: os abusos, depois a anorexia e por fim a depressão...
tudo isso coloca uma grande interpelação: não é possível que uma sociedade não
saiba responder a esses sucessivos pedidos amor que são expressos inclusive dentro
das várias situações tão difíceis que ela viveu. É uma grande derrota para a
nossa sociedade, e para a sociedade europeia em particular, pensando que
sobretudo os países do norte representam também uma sociedade desenvolvida,
abastada, rica, mas como infelizmente muitas vezes se dá hoje em dia,
caracterizada por uma solidão imperante. Somos talvez mais ricos, mas
certamente todos mais sozinhos e todos mais frágeis. A geração adulta da Europa
não está dando uma esperança forte aos mais jovens. O Papa Francisco, com o
Sínodo sobre os jovens, quis suscitar em todos um ímpeto de responsabilidade
para com eles conscientes de que precisam de um fogo interior que nós mais
adultos devemos ter a responsabilidade de transmitir, sem apagá-lo. Faço votos
de que não seja um grito que acabe sem ser ouvido.”
Como é possível que
ninguém tenha conseguido ajudar essa jovem? Noa havia denunciado essa situação,
tinha dito que na Holanda não existem estruturas especializadas para ajudar os
adolescentes que sofrem como ela. É certamente mais fácil eliminar uma pessoa
do que acompanhá-la em seu sofrimento...
“Não conheço bem a
situação holandesa, mas certamente o tema do aumento dos suicídios no mundo
juvenil, inclusive dos adolescentes, deve nos alarmar muito. O que surpreende é
que a segunda causa de morte dos jovens na Europa é o suicídio: isso deveria
nos fazer refletir. A Europa é já envelhecida, tem poucos filhos e não consegue
nem mesmo manter os poucos que tem. Junto à esterilidade há uma ausência de
futuro que deve ser revista: é preciso uma verdadeira revolução de
fraternidade, de amor, de futuro, de mudança de perspectiva em vista de um bem
comum para todos; do contrário, os jovens, os adolescentes mais frágeis, como
se deu com essa jovem, serão as primeiras vítimas. Devemos fazer um sério exame
de consciência – todos – com o que aconteceu.”
Esse é um caso que nos
interpela a todos nós: como é possível tolerar que se deixe uma jovem morrer?
Cada vez mais hoje, em nossa sociedade, se vê a falta de sentido da vida que é
também incapacidade de encontrar um sentido para o próprio sofrimento, sinal de
profunda solidão e de falta de amor...
“Essa é a fotografia da
grande pobreza espiritual, além de cultural e humana, da sociedade que estamos
edificando. O retirar-se em si mesmo leva àquela solidão radical, que depois
encontra na depressão uma sua forma também clínica que certamente exige, além
de todos os aspectos do tratamento médico, além de todas as legislações e
escolhas econômicas adequadas, exige também um ímpeto de humanidade que é
indispensável num mundo onde, infelizmente, os ideais materialistas e do
bem-estar absoluto impedem aquela consciência do limite que é parte da nossa
vida. A vida deve ser acolhida, defendida, protegida e acompanhada. Jamais nós
é solicitado fazer o trabalho sujo da morte: quem ama, ajuda a viver. E se esse
amor é forte, jamais ajuda a encurtar a vida; caso necessário, a acompanhá-la
para que seja uma passagem a mais humana possível. O amor é mais forte do que o
sofrimento e até mesmo a morte.”
Fonte: Vatican News
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