"O
compromisso para superar problemas como fome e insegurança alimentar,
persistente desconforto social e econômico, degradação do ecossistema e
"cultura do desperdício", requer uma renovada visão ética, que saiba
colocar no centro as pessoas, com o objetivo de não deixar ninguém à margem da
vida. Uma visão que una em vez de dividir, que inclua ao invés de
excluir", disse o Papa aos participantes do encontro Internacional “A
Doutrina Social da Igreja, das raízes à era digital”.
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
A necessidade de uma “conversão”, de uma mudança de direção e de
mentalidade, capaz de superar uma visão imediatista e individualista, que pensa
somente na “satisfação dos desejos imediatos” e não nas gerações futuras.
Foi o que defendeu em síntese o Papa
Francisco, ao encontrar na manhã deste sábado, 8, na Sala Regia, no
Vaticano, cerca de 500 participantes da Conferência Internacional “A
Doutrina Social da Igreja, das raízes à era digital”, promovida pela Fundação Centesimus
Annus.
Desenvolvimento de uma ecologia integral sejam uma prioridade
O encontro deste ano refletiu sobre a
Carta Encíclica ‘Laudato Si’ e sobre o chamado a uma conversão das
mentes e dos corações, de forma “que o desenvolvimento de uma ecologia
integral, torne-se sempre mais uma prioridade a nível internacional, nacional e
individual”, disse o Pontífice ao dar as boas-vindas aos participantes do
encontro.
Francisco recordou que, quatro anos
após a publicação da Encíclica, foi possível constatar “sinais de um aumento da
consciência sobre a necessidade do cuidado da “casa comum”, citando “a adoção
por parte de muitas nações dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da
Organização das Nações Unidas”, o “crescente investimento em fontes de energia
renovável e sustentável, os novos métodos de eficiência energética” e uma
“maior sensibilidade, especialmente entre os jovens, sobre temas ecológicos”.
Individualismo, consumismo e desperdício colocam em risco o bem comum
Não obstante estes progressos –
observou - “ainda permanece um bom número de desafios e de problemas”, citando
“o lento ou mesmo inexistente” progresso em alcançar os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável, o “uso impróprio dos recursos naturais” e “os
modelos não inclusivos e não sustentáveis”, que “continuam a ter efeitos
negativos sobre a pobreza, sobre o crescimento e sobre a justiça social”.
Ademais, “o bem comum é colocado em risco por atitudes de excessivo
individualismo, consumismo e desperdício”:
“Tudo isso torna difícil promover
a solidariedade econômica, ambiental e social e a sustentabilidade dentro de
uma economia mais humana, que considere não apenas a satisfação de desejos
imediatos, mas também o bem-estar das futuras gerações. Diante da enormidade de
tais desafios, poder-se-ia facilmente desanimar, deixando espaço para a
incerteza e a ansiedade. No entanto, "os seres humanos, capazes de
degradarem-se ao extremo, podem também superar-se, voltar a escolher o
bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionamento psicológico e social
que lhes é imposto.”
Transformação dos corações e mentes
Neste sentido, “a palavra ‘conversão’
adquire uma particular importância em nossa presente situação”, afirmou
Francisco, frisando que “respostas adequadas aos problemas atuais não podem ser
superficiais”:
“De fato, o que é necessário é
precisamente uma conversão, uma "mudança de direção", ou seja, uma
transformação dos corações e mentes. O compromisso para superar problemas como
fome e insegurança alimentar, persistente desconforto social e econômico,
degradação do ecossistema e "cultura do desperdício", requer uma
renovada visão ética, que saiba colocar no centro as pessoas, com o objetivo de
não deixar ninguém à margem da vida. Uma visão que una em vez de dividir, que
inclua ao invés de excluir. É uma visão transformada por ter bem presente a
meta última e o objetivo de nosso trabalho, de nossos esforços, da nossa vida e
de nossa passagem nesta terra”.
Chamado e dever
Assim “o desenvolvimento de uma
ecologia integral é tanto um chamado como um dever”, salientou o Papa, “é um
chamado a redescobrir a nossa identidade de filhos e filhas de nosso Pai
Celeste, criados à imagem de Deus e encarregados de ser administradores da
terra, recriados por meio da morte salvífica e a ressurreição de Jesus Cristo,
santificados pelo dom do Espírito Santo”.
Neste sentido, o apelo “para sermos
mais solidários como irmãos e irmãs e a uma responsabilidade compartilhada pela
casa comum, torna-se sempre mais urgente”.
“Mudar o modelo de desenvolvimento
global, abrindo um novo diálogo sobre o futuro de nosso planeta”, é a tarefa
que está diante de nós.
E diante destes desafios, que por
vezes podem nos atemorizar, o Papa concluiu encorajando os presentes a não
perderem a esperança, “porque esta esperança está baseada no amor
misericordioso do Pai celeste.”
“Que suas discussões e seus esforços
- foram os votos de Francisco -possam contribuir para uma profunda
transformação em todos os níveis de nossas sociedades contemporâneas:
indivíduos, empresas, instituições e políticas”.
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