"Sem comunhão e sem
compaixão, constantemente alimentadas pela oração, a teologia não só perde a
alma, mas perde a inteligência", disse o Papa ao concluir o Congresso
sobre a Constituição apostólica "Veritatis gaudium".
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
“Sonho Faculdades teológicas onde se viva a convivialidade das
diferenças, onde se pratique uma teologia do diálogo e do acolhimento”: este
sonho do Papa Francisco foi expresso em Nápoles, no encontro promovido pela
Pontifícia Faculdade Teológica da Itália Meridional.
Foram dois dias de Congresso, que reuniu cerca de mil
participantes, sobre o tema “A teologia depois da Veritatis gaudium no contexto do
Mediterrâneo”.
O Papa foi o convidado de honra e proferiu o seu discurso no
final da manhã desta sexta-feira, no qual agradeceu também ao “querido irmão”
Patriarca Bartolomeu, que contribuiu para a reflexão teológica do encontro
enviando uma mensagem.
Já o Pontífice deu destaque a duas palavras: acolhimento e
diálogo. “As escolas de teologia se renovam com a prática do discernimento e
com um modo de proceder dialógico”, defendeu ele.
Dois são os movimentos necessários e complementares: o primeiro
do baixo em direção ao alto, que pode dialogar com toda instância humana e
histórica, levando em consideração toda a grandeza do humano; e o segundo, do
alto em direção ao baixo, onde por “alto” se entende Jesus elevado na cruz.
No horizonte, Francisco entrevê a não-violência, para qual a
teologia deve olhar como próprio elemento constitutivo.
Mestiçagem
Diálogo não é uma forma mágica, adverte o Papa, mas pode
auxiliar a teologia quando é considerada seriamente, quando é encorajada e
favorecida entre docentes e estudantes. De modo especial, o Pontífice considera
importante que os estudantes sejam educados ao diálogo com o Hebraísmo e o
Islamismo.
“O Mediterrâneo é propriamente o mar da mestiçagem, um mar
geograficamente fechado em relação aos oceanos, mas culturalmente sempre aberto
ao encontro, ao diálogo e à recíproca inculturação. Com o diálogo sempre se
ganha. Todos perdemos com o monólogo.”
O Papa defendeu ainda a prática da teologia de forma
interdisciplinar, que os teólogos saibam trabalhar em conjunto, superando o
individualismo no trabalho intelectual. E fez uma das declarações mais tocantes
do seu discurso:
“ Neste caminho contínuo
de saída de si e de encontro com o outro, é importante que os teólogos sejam
homens e mulheres de compaixão, tocados pela vida oprimida de muitos, das
escravidões de hoje, das chagas sociais, das violências, das guerras e das
enormes injustiças sofridas por muitos povos que vivem nas margens deste ‘mar
comum’. Sem comunhão e sem compaixão, constantemente alimentadas pela oração, a
teologia não só perde a alma, mas perde a inteligência e a capacidade de
interpretar de maneira cristã a realidade. Só é possível fazer teologia de
joelhos. ”
Pentecostes
teológico
Falando especificamente sobre o tema do Congresso, a Veritatis
gaudim, o Pontífice recordou que a Constituição apostólica (publicada pelo
Papa Francisco em dezembro de 2017) propõe uma teologia em rede e, no contexto
do Mediterrâneo, em solidariedade com todos os “náufragos” da história.
O papel da teologia no Mediterrâneo depois deste documento é
sintonizar-se com o Espírito de Jesus Ressuscitado, “com a sua liberdade de ir
pelo mundo e alcançar as periferias, inclusive as de pensamento”.
“ Pode-se e deve-se
trabalhar na direção de um ‘Pentecostes teológico’, que permita às mulheres e
aos homens do nosso tempo ouvir ‘na própria língua’ uma reflexão cristã que
responda à sua busca de sentido e de vida plena. ”
Para isso, apontou Francisco, é preciso partir do Evangelho da
misericórdia. A teologia, recordou, nasceu em meio aos seres humanos concretos
e, portanto, “fazer teologia é um ato de misericórdia” e os bons teólogos
também têm o cheiro das ovelhas.
“A misericórdia não é somente uma atitude pastoral, mas é a
própria substância do Evangelho de Jesus.”
Por fim, o Papa encorajou a “liberdade teológica”. “Sem a
possibilidade de experimentar novas estradas, não se cria nada de novo e não se
deixa espaço à novidade do Espírito do Ressuscitado.”
Francisco então concluiu: “Sonho Faculdades teológicas onde se
viva a convivialidade das diferenças, onde se pratique uma teologia do diálogo
e do acolhimento”.
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