O
Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa Santa Marta e na homilia
comentou a leitura do dia, extraída dos Atos dos Apóstolos.
Gabriella Ceraso – Cidade do Vaticano
A
conversão de Saulo de Tarso no caminho de Damasco é “uma mudança de página na
história da Salvação", é "a porta aberta sobre a universalidade da
Igreja". Foi o que disse o Papa Francisco esta manhã na homilia da missa
celebrada na Casa Santa Marta, comentando o episódio dos Atos dos Apóstolos.
No
centro da homilia, portanto, está a figura do Apóstolo dos Gentios que, cego,
permanece em Damasco por três dias sem comida nem água, até que Ananias,
enviado pelo Senhor, lhe restitui a visão, dando-lhe a possibilidade de iniciar
o caminho de conversão e pregação "repleto do Espírito Santo".
O Papa evidenciou duas características, dirigindo-se em especial
a um grupo de irmãs de Cottolengo presentes na missa por ocasião dos 50 anos de
sua vida religiosa e a alguns sacerdotes eritreus que vivem Itália.
Coerência e zelo
Paulo era um “homem forte” e “apaixonado pela pureza da
lei", mas era "honesto" e, mesmo com um “caráter difícil”, era
"coerente":
Antes
de tudo, era coerente porque era um homem aberto a Deus. Se ele perseguia os
cristãos era porque estava convencido de que Deus queria isto. Mas como é
possível? Estava convencido disto. É o zelo que tinha pela pureza da casa de
Deus, pela glória de Deus. Um coração aberto à voz do Senhor. E arriscava,
arriscava, ia avante. E outra característica do seu comportamento é que era um
homem dócil, tinha a docilidade, não era teimoso.
Docilidade e abertura à voz de Deus
Talvez o seu temperamento fosse teimoso – acrescentou o Papa -,
mas não a sua alma. Paulo era "aberto às sugestões de Deus". Com o
"fogo interior" prendia e matava os cristãos, mas, “uma vez que ouviu
a voz do Senhor, se tornou como uma criança, se deixou levar":
Todas
aquelas convicções que tinha, ficam caladas, esperam a voz do Senhor: “Que devo
fazer, Senhor?”. E ele se encaminha e vai ao encontro em Damasco, ao encontro
daquele outro homem dócil e se deixa catequizar como uma criança. Se deixa
batizar como uma criança. E depois retoma as forças e o que faz? Fica quieto.
Vai para a Arábia rezar, quanto tempo não sabemos, talvez anos, não sabemos. A
docilidade. Abertura à voz de Deus e docilidade. É um exemplo da nossa vida e
fico feliz em falar disto hoje diante dessas irmãs que festejam os 50 anos de
vida religiosa. Obrigado por ouvir a voz de Deus e obrigado pela docilidade.
A "docilidade das mulheres de Cottolengo" fez com que
o Papa se lembrasse de sua primeira visita, nos anos 70, a uma das estruturas
que, no espírito de São José Benedito Cottolengo, acolhem em todo o mundo
portadores de deficiências físicas e psíquicas. Francisco contou que passou de quarto
em quarto guiado por uma freira, como as que estavam na missa hoje na Casa
Santa Marta, e que passam a vida "ali, entre os descartados". Sem
esta perseverança e docilidade, afirma o Papa, não poderiam fazer o que fazem.
O carisma cristão
Perseverar.
E este é um sinal da Igreja. Eu gostaria de agradecer hoje, através de vocês, a
tantos homens e mulheres, corajosos, que arriscam a vida, que vão avante, que
buscam inclusive novas estradas na vida da Igreja. Buscam novas estradas! “Mas,
padre, não é pecado?”. Não, não é pecado! Busquemos novas estradas, isto nos
fará bem a todos! Com a condição de que sejam as estradas do Senhor. Mas ir
avante: avante na profundidade da oração, na profundidade da docilidade, do
coração aberto à voz de Deus. E assim se fazem as verdadeiras mudanças na
Igreja, com pessoas que sabem lutar no pequeno e no grande.
O "cristão", concluiu Francisco, deve ter "este
carisma do pequeno e do grande" e a oração dirigida a São Paulo no final
da homilia é justamente o pedido da "graça da docilidade à voz do Senhor e
do coração aberto ao Senhor; a graça de não nos assustar de fazer grandes
coisas, de ir avante, com a condição de que tenhamos a delicadeza de cuidar das
pequenas coisas".
Fonte:
Vatican News
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