Algumas das participantes da greve de
mulheres contra a Igreja na Alemanha. Foto: Katolisch.de
MUNIQUE, 16 Mai. 19 / 09:40 am (ACI).- Um bispo e vários
clérigos com responsabilidades importantes na Alemanha expressaram seu apoio à
"greve contra a Igreja"
convocada por um grupo de católicas após o “não” do Papa Francisco à ordenação
de diaconisas.
Na coletiva de imprensa que concedeu
a bordo do avião no qual regressou da Macedônia do Norte para Roma, o Pontífice
explicou que, depois do trabalho da comissão que criou para o estudo da
possibilidade de ordenar diaconisas na Igreja, o tema “até este momento
não vai”.
As palavras do Santo Padre geraram a
greve de mulheres que se autodenomina "Mary 2.0" e que acontece de 11
a 18 de maio. Nela, os participantes celebrarão seus próprios ofícios
litúrgicos em vez de irem à missa.
Da mesma forma, as organizadoras
divulgaram uma carta aberta dirigida ao Papa, na qual destacam que "os
homens da Igreja só toleram uma mulher no meio deles: Maria". Também
exigem a aprovação da ordenação de mulheres e que "Maria desça de seu
pedestal e esteja no meio de nós, como uma irmã que olha em nossa
direção".
No site que criaram para divulgar a
greve, há imagens de
Nossa Senhora e de outras mulheres com a boca coberta por uma fita adesiva.
O site oficial da Igreja Católica na
Alemanha fez uma ampla cobertura da greve, promovendo o desejo dos
organizadores de divulga-la para outros países. Também informou sobre o apoio
de Dom Franz-Joseph Bode, Bispo de Osnabrück e presidente da comissão de
mulheres do episcopado alemão.
Dom Bode lamentou que as
manifestantes não participem da Missa, mas em suas declarações à agência EPD,
disse que reconhece a impaciência "de muitas mulheres na Igreja
Católica" e que vê como seus sentimentos "são feridos profundamente”
por não serem devidamente reconhecidas pela sua contribuição.
Na carta aberta dirigida ao Santo
Padre, as organizadoras também fazem uma série de exigências, como a abolição
do "celibato obrigatório", a "atualização" do ensinamento
moral da Igreja; e a ordenação de mulheres "em todos os ministérios".
Por outro lado, o Vigário Geral da
Arquidiocese de Paderborn, Mons. Alfons Hardt, elogiou a greve das mulheres
"preocupadas com a sustentabilidade de sua Igreja". O sacerdote
também disse que "é uma motivação que valorizo muito", embora possa criar certas divisões.
Apesar de reconhecer que São João
Paulo II resolveu a questão da impossibilidade de ordenar sacerdotisas na
Igreja, o sacerdote comentou que "por outro lado, não temos uma resposta
final. Pelo menos na Alemanha, este assunto é debatido muito abertamente,
especialmente entre os teólogos. É claro que é preciso de um consenso global e
eclesial para isso e que atualmente este não é o caso”.
Em 2 de maio, o Bispo de Eseen e
diretor da agência Adveniat, que financia um grande número de projetos de ajuda
na América Latina, Dom Franz-Josef Overbeck, comentou que "nada será como
antes", após a conclusão do Sínodo da Amazônia que acontecerá em outubro
no Vaticano.
Em declarações à imprensa, o Prelado
disse que no Sínodo, o papel das mulheres na Igreja, a moral sexual, o papel do
sacerdócio e toda a estrutura hierárquica eclesiástica serão reconsiderados.
A grave crise da Igreja na Alemanha
Em março deste ano, o Arcebispo de
Munique e Freising, Cardeal Reinhard Marx anunciou que
a Igreja Católica na Alemanha está embarcando em um "processo
sinodal" para abordar e debater o que denomina como sendo as três questões
principais decorrentes da crise dos abusos sexuais: celibato sacerdotal,
ensinamentos da Igreja sobre moral sexual e redução do poder clerical.
O "processo sinodal"
envolverá consultas com o "Comitê Central dos Católicos Alemães", uma
organização leiga que coopera estreitamente com a conferência episcopal e
recorrerá a especialistas externos.
Em fevereiro deste ano, um grupo de
nove católicos, entre os quais três sacerdotes e dois membros do Comitê,
escreveu uma carta aberta ao Cardeal Marx pedindo-lhe que mude a moral sexual
da Igreja.
Da mesma forma, em 2018, a
Conferência Episcopal Alemã elaborou um documento que propunha algumas
condições para dar a comunhão eucarística aos protestantes casados com católicos.
Sete bispos bávaros, entre
os quais o Arcebispo de Colônia, Cardeal Rainer Maria Woelki, se opuseram à
proposta. Em junho daquele ano, na festa de Corpus Christi,
o Cardeal afirmou que "a Igreja se erige a partir da Eucaristia.
Portanto, quem quer que receba o Corpo do Senhor e tenha dito previamente, ao final
da Oração Eucarística, seu 'Amém' afirmativo, diz 'sim e Amém' à que Jesus está
verdadeiramente presente, e não apenas em sentido figurado".
Os números da crise
“As últimas cifras da Conferência
Episcopal Alemã pintam um quadro negativo: mais de 160.000 fiéis deixaram a
Igreja Católica em 2016, enquanto apenas 2.547 pessoas se converteram (a
maioria do luteranismo)”, escreveu em 2017 Christoph Wimmer, editor da CNA
Deutsch, agência em alemão do grupo ACI.
“O número total de sacerdotes na
Alemanha em 2016 foi de 13.856, uma queda de 200 comparado com o ano anterior.
Matrimônios, crismas e outros sacramentos estão
em queda”, assinalou .
Além disso, “o sacramento da
Confissão, sobre o qual a Conferência Episcopal não disponibiliza números,
desapareceu, para todos os efeitos, de muitas, se não da maioria, das
paróquias”, lamentou.
Em 2015, apenas 2,5 milhões de
católicos, de um total de 24 milhões, iam à missa aos domingos.
Fonte:
ACI Digital
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