A
devastação de Notre Dame faz lembrar as ocasiões em que os Papas visitaram a
catedral parisiense. Em época recente, João Paulo II, 1980 e 1997, e uma vez
Bento XVI, em 2008, prestaram homenagem à Mãe de Deus a quem a Igreja é
dedicada, expressando admiração pela arquitetura que é o símbolo do
cristianismo francês e europeu.
Alessandro De Carolis - Cidade do
Vaticano
Também para Paul Claudel foi um
incêndio, uma combustão privada de alma, enquanto o Magnificat vibrava entre as
naves até as galerias e no cruzamento das abóbadas. Como em 1866 ocorre para o
famoso escritor francês, durante oito séculos as pedras da Catedral de Notre
Dame assistiram o acender ou reacender da fé de muitos corações. Um dos templos
mais fascinantes do cristianismo resiste hoje desfigurado sobre as mesmas
pedras queimadas pelo fogo. Um lugar onde "se encontra o gênio da
França", disse há 39 anos um jovem João Paulo II em sua sexta viagem
apostólica. Papa Wojtyla voltará velho e doente, enquanto Paris é
incendiada pela JMJ de 97. E também rezava no seu interior Bento XVI, 11 anos
mais tarde, tão admirado que dedicou a primeira parte do seu discurso à
maravilha gótica onde presidiu às Vésperas e que condensa em si a história da
Europa cristã e não só.
Você me ama?
Karol Wojtyla esteve muitas vezes em
Paris e recorda isso ao prefeito que em 30 de maio de 1980 lhe trouxe a
saudação da cidade. Agora, com o nome de João Paulo II, o Papa que veio de
longe desponta sobre o sagrado de Notre Dame, um Pedro atlético com o fogo da
energia apostólica dentro dele, como a Igreja não recorda, e é precisamente da
arquitetura que domina atrás dele que ele tira a inspiração para refletir sobre
Jesus "a pedra angular da história humana" e sobre Simão Pedro a quem
ele pergunta três vezes: "Você me ama? Na época do Muro que divide os
pulmões da Europa, é da resposta a esta pergunta que depende – afirma JPII -
"o futuro do mundo". E Notre Dame, acrescenta João Paulo II, é o
"lugar sagrado" da Mãe de Jesus em que ecoa a "resposta perfeita"
nunca dada a essa pergunta, a de Maria.
Jovens chamas
Dezessete anos mais tarde, o fogo
interior arde sempre, mas a pedra está desmoronada por uma doença desgastante
que o consumou ano após ano. Era 22 de agosto de 1997 e João Paulo II estava de
volta a Paris para estar com "seus" jovens da 12ª Jornada Mundial da
Juventude. Pedro não é mais o fulcro das suas palavras, o protagonista desta
vez é o Bom Samaritano encarnado por Federico Ozanam - o jornalista francês que
fundou a Sociedade São Vicente de Paulo - que o Papa Wojtyla eleva aos altares
durante uma Missa no interior da catedral. Também nesta ocasião há chamas para
alimentar, fogo de amor ao Evangelho e ao próximo que o Papa pretende atear
naquele milhão e mais de jovens que se encontram entre Notre Dame e a Torre Eiffel.
"É preciso que todos estes jovens - diz com uma voz cansada - compreendam
que, se querem ser autênticos cristãos", devem abrir "os olhos da
alma às tantas necessidades dos homens de hoje".
A grande beleza
No terceiro milênio, o amigo e
colaborador de João Paulo II assumiu as rédeas do seu ministério. Bento XVI é
um teólogo que ama a beleza que a cultura produziu no Velho Continente. Notre
Dame é uma jóia que o faz perceber "a troca incessante que Deus quis
estabelecer entre os homens e si mesmo". O Papa alemão voou para Paris
porque em 2008 a Igreja celebra o 150º aniversário das aparições em Lourdes. No
dia 12 de setembro, Bento XVI está na catedral de Paris para rezar as Vésperas
com o clero, as religiosas, os seminaristas franceses e a reflexão que ele lhes
oferece é, por longos minutos, um louvor aos "arquitetos, pintores,
escultores, músicos" que "deram o melhor de si mesmos" para
fazer da catedral o que tem sido desde tempos imemoriais. Obrigado, ele
enfatiza, à "arte, "caminho para Deus", e à "oração, louvor
da Igreja ao Criador".
O amor vai reconstruir
Bento
XVI tinha recordado os outros dois Papas de Notre Dame, Alexandre III que tinha
colocado a primeira pedra e Pio VII que a tinha visitado no século XIX. Hoje,
quando a catedral é uma casa violada e escura, com cinzas cobrindo sua antiga
beleza, é sempre a partir das palavras de um Papa que brota a centelha de
esperança de rever a torre da "casa-mãe" voltar a habitar o céu de
Paris. As palavras são ainda do jovem João Paulo II de 1980 e parecem prenunciar
um novo futuro também para Notre Dame: "Apesar das trevas e das nuvens que
nunca deixam de se acumular no horizonte da história - e vocês sabem quão
ameaçadoras elas são hoje, no nosso tempo! - é dele que a construção
indefectível se erguerá, é sobre ele que se levantará, e é a partir dele que se
desenvolverá. Só o amor tem a força para fazer isto.
Fonte: Vatican News
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